FC Porto de ADN goleador testa defesa de betão

“Dragões” fecham primeira volta da Liga no Jamor, frente a um Belenenses SAD queé a quarta equipa menos batida da prova.

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LUSA/FERNANDO VELUDO

As recentes declarações de Vítor Pereira, antigo treinador do FC Porto, não caíram bem junto de Sérgio Conceição. O actual técnico dos “dragões” rebateu ontem a ideia de uma equipa cujo ADN está agarrado ao processo defensivo e é precisamente frente a um adversário com rotinas defensivas sólidas, o Belenenses SAD, que o segundo classificado da Liga vai encerrar hoje (19h, SPTV) a primeira volta. E entrará em campo com a melhor média de golos do século.

Sérgio Conceição já admitiu algumas vezes que prefere ganhar os jogos por uma mais margem mais curta, sem sofrer golos, do que arriscar uma goleada e provocar desequilíbrios na equipa. E também não esconde que a competência defensiva é o alicerce para tudo o resto. Ainda assim, não aceita que se fale do “seu” FC Porto como uma equipa de predicados essencialmente defensivos

“É importante não sofrer golos e essa é a base para se ganharem os jogos. É preciso ser sólido em termos defensivos. Não sofrer é tão importante como marcar. Não gosto nada de ouvir pessoas, inclusive treinadores que passaram por esta casa, como o Vítor Pereira, dizer que tenho ADN do FC Porto, porque sou um treinador defensivo. Fica-lhe tão mal dizer isso”, apontou na conferência de imprensa de lançamento do encontro da 17.ª jornada.

Em causa estão declarações prestadas à RTP pelo técnico que foi bicampeão no Dragão (2011-12 e 2012-13). “[Sérgio Conceição] Conhece bem o clube por dentro e o espírito. Costumo dizer que só conseguimos entusiasmar se estivermos entusiasmados. Essa exigência que se cria, além do discurso emocional e agressivo, é característico do ADN do clube. O Sérgio tem ali características que são o ADN do FC Porto. Valoriza muito os aspectos defensivos e não há dúvida nenhuma de que, para se conseguir títulos, é preciso defender bem”, assinalou Vítor Pereira.

Estarão estas considerações a pôr implicitamente em causa o mérito ofensivo dos “azuis e brancos”? Seja qual for o entendimento, há algo que os números desta temporada demonstram: que os índices de finalização do FC Porto replicam o que de melhor o clube tem feito ao longo deste século. Uma ideia que, com outras nuances, também foi empunhada por Sérgio Conceição.

“Durante três anos, fomos a equipa que mais golos fez no campeonato, excepto no segundo ano. Fomos sempre a equipa que fez mais golos e apelidada de rolo compressor. A organização defensiva é a base para se ter sucesso. Somos a equipa em Portugal em que, nos últimos três anos, a maior parte das bolas que roubámos foi no meio-campo ofensivo. Isso não é ser defensivo, é trabalhar bem defensivamente”.

Reduzir a abordagem ofensiva, seja em ataque posicional ou transição, ao número de golos apontados será sempre um exercício redutor. Mas, sendo o golo o sal e a pimenta do futebol, este olhar permite mostrar que, independentemente das rotas escolhidas para chegar à baliza contrária, o FC Porto “versão” Sérgio Conceição é dos mais produtivos dos últimos largos anos.

Vejamos: neste campeonato, nos 16 jogos já realizados, soma 39 golos marcados, assumindo-se como a equipa mais concretizadora da prova. Na prática, isto traduz-se numa média de 2,4 golos por partida, que emula os melhores números dos “dragões” no século XXI. 

Na verdade, só em duas outras ocasiões o clube alcançou esta mesma média, uma já com Conceição ao leme (no final da época 2017-18), outra com André Villas-Boas, em 2010-11. De resto, nem o FC Porto campeão europeu, sob o comando de José Mourinho, se mostrou tão goleador no campeonato (médias de 2,1 e 1,8 golos por jogo).

Para a actual campanha do campeão nacional, muito têm contribuído Marega (seis golos) e Mehdi Taremi (sete) — para além de Sérgio Oliveira, também com sete golos — no eixo do ataque. O avançado iraniano, de resto, tem sido um dos reforços com melhor aproveitamento, ainda que Sérgio Conceição reparta o mérito por Evanilson e Toni Martínez, que contribuem para elevar o nível da concorrência interna.

Curiosamente, o FC Porto atinge esta fase da época com um registo de golos sofridos mais negro do que o habitual (17), que o deixa inclusive atrás do Belenenses SAD nesta rubrica (14). Os lisboetas, de resto, chegam a esta jornada com a quarta defesa menos batida da Liga.

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