Afinal, o digital não é o lobo mau, mas sim o príncipe encantado

A transformação digital, apesar de hoje já ser uma necessidade crescente e urgente, continua a ser, para muitos, um lobo mau — quando, na verdade, não é preciso muito para conseguirmos todos ter mais qualidade no nosso trabalho, seja em casa ou no escritório.

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Paulo Pimenta

Quando começamos um novo desafio numa empresa, assimilar toda a informação naquelas primeiras horas é quase como tentar ler Os Maias de uma vez só no dia anterior à prova final. O entusiasmo de um novo capítulo é acompanhado de um nervoso miudinho: quando chega a parte de perceber como tudo funciona, principalmente quando se sai de uma empresa onde nada é digital para uma empresa onde tudo se passa no digital, parece que estamos perante uma espécie de lobo mau.

Todos sabemos usar o e-mail, assim como o Power Point ou o Word (não me atrevo a dizer o Excel, já que trabalho numa empresa de consultoria que faz coisas com o Excel que nem eu sabia serem possíveis). Numa empresa minimamente interessada na gestão da informação, na colaboração e na produtividade, tudo é feito online.

É então que, naquele primeiro dia, nos apresentam a sua forma de funcionar: o Teams, que afinal não é só um chat empresarial para debater temas; o Planner, porque afinal agora todas as tarefas existentes têm de ser atribuídas digitalmente; o Share Point, que é uma espécie de portal online onde podemos criar sites, partilhar informação e fazer a gestão de todos os documentos… Bem, uma série de funcionalidades e ferramentas que só ao fim de algum tempo parecem simples. Contudo, nos primeiros dias, esta realidade desconhecida pode fazer com que qualquer um se questione: “Serei um leigo digital?”

É a gestão da mudança — na verdade, esta informação bebe-se rápido. Entre a experiência e a pesquisa no Google (para vermos aquelas questões que podem parecer descabidas), é fácil começar a entrar na bolha tecnológica. É com a chegada do teletrabalho que realmente percebemos que o digital não é o lobo mau: é mesmo o príncipe encantado. Num dia estava no escritório; no outro estava, em casa. Tinha a mesma informação, o mesmo acesso e a mesma colaboração com os meus colegas sem precisar de mudar nada nem de andar com pen drives para a frente e para trás. 

Foi aí que imaginei como esta transição teria sido para as empresas que não estavam prontas para tal. Acredito que tenham sido muitas. A transformação digital, apesar de hoje já ser uma necessidade crescente e urgente, continua a ser, para muitos, um lobo mau — quando, na verdade, não é preciso muito para conseguirmos todos ter mais qualidade no nosso trabalho, seja em casa ou no escritório.

Em Março de 2020, no início desta pandemia, tínhamos o Ministro do Estado, da Economia e da Transição digital, Pedro Siza Vieira, a afirmar que Portugal tinha de “encarar a transformação digital da sociedade e economia como verdadeiro desafio estratégico”. Apesar de a pandemia ter obrigado a acelerar esta necessidade de adaptação, é importante que todos compreendamos que a transformação digital é muito mais do que passar a utilizar o computador em vez da folha de papel. É o foco nas informações, nos processos, mas sobretudo nas pessoas, que vai alavancar esta adaptação e fazê-la perdurar.

Hoje, não falando apenas no teletrabalho, mas também na modernização das funções, na segurança e na assertividade da gestão da informação, todos nós queremos fazer o que nos compete. E isso tem de acontecer com as ferramentas necessárias que não afectem a nossa produtividade — para isso, já basta o sofá em casa, os vizinhos em obras ou os filhos a quererem participar nas reuniões.

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