Cartas ao director

Emergência médica versus negligência política?

Numa emergência médica tratamos de uma situação ou problema que põe em causa a sobrevivência do indivíduo a curto prazo, uma incapacidade permanente grave e que necessita de ser abordado num intervalo curto de tempo, geralmente em poucos minutos.
Em Portugal, conta-se os minutos quando chamamos por uma equipa de emergência médica. E, quando ligamos para o 112, caso haja atraso na resposta pré-hospitalar, tal situação pode acarretar um conjunto de queixas, reclamações e até processos judiciais contra a equipa de emergência pré-hospitalar.
Os conceitos não foram ensinados aos políticos portugueses, eles não passaram por um centro de simulação, e ainda estão ao nível dos primeiros socorros. Numa emergência a equipa que intervém na ajuda é treinada, coordenada, especializada e são obrigadas a tomar decisões imediatas, ou não fosse isso custar a vida do Outro.
É, os erros ainda não foram aprendidos face à pandemia de covid-19 desde o ano passado. Os nossos decisores políticos não são médicos, mas também não têm de ser para reconhecer e intervir hoje, evitando as mortes por negligência, numa emergência que já há muito foi reconhecida internacionalmente.
Mas, em Portugal, uma emergência em saúde pública, onde não morre uma ou algumas pessoas, mas centenas delas, pode esperar pela “próxima quinta-feira” num Conselho de Ministros. A ver vamos, se esta equipa de emergência política na próxima semana chegará a tempo de salvar as vidas que estão em falência e as próximas que já estão se agravando.
O conjunto de medidas levadas a cabo pela DGS e pelo governo desde o início da pandemia tem colocado à vista várias fragilidades do sistema de saúde português. E, tem resultado em uma grande carga no sistema de saúde e na economia. O que vivemos com o fecho das escolas era inevitável, tanto quanto sabido, e já não era preciso ser especialista para intervir. Era óbvio. O país está numa emergência, e não está nada controlada. Quanto mais contactos entre pessoas houver, maior é o risco de transmissão. Já é básico, é como reconhecer que uma pessoa não está nada bem, e que precisa de ajuda imediata. E quanto mais tempo demorar a intervir, mais pessoas irão ser infectadas e morrerão.
Até quando as decisões políticas em Portugal numa emergência em saúde pública terão de aguardar pela “próxima quinta-feira”?

André Pereira, enfermeiro

A injustiça do ensino à distancia pelos privados

A decisão de fechar as escolas e considerar período de férias antecipadas foi inevitável perante a situação dramática em que nos encontramos e o potencial de contágios, não pelo os alunos em si mas por todo um conjunto de outros elementos que estão associados, professores, auxiliares, deslocações de pais, etc. Até por que muitas escolas tinham já turmas inteiras em casa ou reduzidas a metade.

A opção de aulas online é das mais injustas porque só irá beneficiar aqueles que têm todas as condições tecnológicas e apoios em casa em detrimento dos que as não têm por motivos diversos, carência de computadores, iliteracia dos pais, espaço e tempo para acompanhar adequadamente as aulas não presenciais. Contudo as escolas particulares estão já a contornar a lei dando aulas online, desrespeitando-a e mantendo assim o privilégio de uns em relação aos outros. Nada disto é justo nem deveria ser possível, se vamos cortar tempo lectivo por férias de Carnaval e Páscoa, que acho correcto, o Ministério da Educação deveria impor o tratamento igual de paragem de aulas para todos. Tudo por uma questão de equidade. Nada substitui as aulas presenciais pelo ensino à distância e são sempre os mais desfavorecidos que perdem. 

Quanto aos 15 dias de paragem, julgo que não serão suficientes para diminuir o contágio e os números irão dar-nos razão, melhor será considerar desde já e prever a paragem de aulas até ao fim do mês de Fevereiro, como nalguns países.

Heitor Ribeiro, Queluz de Baixo

Só nos resta a esperança

Já não nos chegava o vírus nos seus ataques constantes, com mortes, dores e suspiros chegaram as variantes: são agora a britânica, a sul-africana e a brasileira, cada qual a mais satânica. E o mundo alvoroçado, sem conter a pandemia, nem a quem pedir reforço, vive em lenta agonia. Levantemo-nos do chão, armados de vacinada lança, engrossando o batalhão, que nos devolva a esperança de voltarmos a viver como antes do vírus aparecer.

José Amaral, Vila Nova de Gaia

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