Ordem dos Médicos: “Aumentar camas sem aumentar recursos humanos é enganar as pessoas”

Presidente da Secção Regional do Cento da Ordem dos Médicos, Carlos Cortes, diz que “capacidade de recursos humanos está praticamente esgotada”.

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Reuters/PEDRO NUNES

Quando se anuncia o aumento do número de camas nas enfermarias ou nos cuidados intensivos destinados a doentes covid, é preciso que essa medida seja acompanhada pelo número adequado de profissionais de saúde, considera o presidente da Secção Regional do Cento da Ordem dos Médicos (​SRCOM), Carlos Cortes. Não podendo isso acontecer - porque “a capacidade de recursos humanos está praticamente esgotada” - isso é, “de alguma forma, estar a enganar as pessoas”, diz o médico ao PÚBLICO, depois de uma reunião da direcção da SRCOM com a Administração Regional de Saúde do Centro (ARSC). 

“Até podemos construir um pavilhão e enchê-lo de camas, mas se não há profissionais especializados para tratar desses doentes, é como se essa cama estivesse fora dos cuidados intensivos”, refere Carlos Cortes por telefone, no final do encontro que decorreu nesta quinta-feira, ao final da tarde.

“É o que está a acontecer com o Hospital Geral dos Covões” (que faz parte do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra), exemplifica Cortes: “Está-se a abrir camas mas, não havendo profissionais, é completamente impossível” fazer o acompanhamento adequado.

Nesta quinta-feira, a ARCS, citada pela Agência Lusa, deu conta da abertura de mais 32 camas em enfermaria para doentes covid na região Centro. Só na quarta-feira, o Centro registou mais 23 internamentos em enfermaria e dois em unidades de cuidados intensivos. No total, a Região Centro contava 1275 internados com covid-19 em enfermarias e 121 em cuidados intensivos.

Carlos Cortes dá ainda conta do relato de um médico que, estando na linha da frente de combate à pandemia e começando um turno ao início da amanhã, “se depara com 40 doentes para internar”. “Logo ao início do dia, a urgência dos Covões tem imensos doentes que não conseguiu internar nas enfermarias”, sublinha.

E o que acontece a esses doentes que o hospital não tem capacidade para absorver? “Ficam nas urgências”, responde o responsável da Ordem dos Médicos do Centros. “Por sua vez, as ambulâncias não conseguem libertar os doentes e ficam naquelas filas”, explica. O alerta sobre a situação do Hospital dos Covões foi também dado pela Secção Regional do Cento da Ordem dos Enfermeiros, que na quarta-feira falou de um “cenário catastrófico” de “completa ruptura”. 

“Não vale a pena ter medo das palavras: os hospitais, neste momento, entraram em ruptura”, avisa Carlos Cortes, acrescentando que o Serviço Nacional de Saúde “ainda responde, mas não chega para responder a todas as situações. Isso é muito evidente aqui no CHUC”. Por isso, é com bons olhos que o médico vê o encerramento das escolas anunciado nesta quinta-feira. “O sistema está-se a esgotar”, reforça, descrevendo a situação na região Centro como “desastrosa”.

Na reunião com a ARSC, os médicos abordaram ainda o processo de vacinação dos profissionais de saúde, que a SRCOM descreve como estando a decorrer “com grande confusão e desorganização”, com “hospitais que não têm respeitado a prioridade, vacinando antes profissionais” que não estão na linha da frente. Carlos Cortes fala ainda numa “descriminação intolerável de médicos que não trabalham no SNS (como os do privado e do sector social) que não estão a ser vacinados”. A Ordem pediu que a situação “se resolvesse o mais rapidamente possível”, conta Cortes. 

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