Matosinhos abate 23 árvores saudáveis frente à praia

A autarquia diz que o abate não está relacionado com queixas de ruído e de falta de limpeza de moradores do Palácio da Enseada. A “médio e longo prazo” serão plantadas 35 árvores e maciços arbustivos. Porém, a área de relvado diminuirá.

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Nelson Garrido
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Nos próximos tempos vai haver menos sombra frente à praia de Matosinhos. No jardim plantado na cobertura do parque de estacionamento da Avenida Norton de Matos mais de uma dezena de árvores já foram abatidas entre segunda-feira e terça-feira. Mas os trabalhos de abate levado a cabo por funcionários da câmara ainda não terminaram. Ao todo vão desaparecer dali 23 árvores. A autarquia afirma existir a “médio e longo prazo” um plano para plantar 35 novas árvores no mesmo local. A justificação para o abate, adianta o município, prende-se com a necessidade de uma “gestão gradual do arvoredo”.

Na terça-feira, perto da hora de almoço, continuava a ouvir-se o barulho das motosserras e no chão iam-se amontoando ramos de árvores que ainda neste Verão serviram de abrigo para muitos que optaram por fugir do sol do areal da praia. 

O jardim camarário onde ainda sobram muitas dezenas de árvores, frente a uma urbanização virada para o mar, serviu também de alternativa para quem, em altura de regras mais apertadas por força da pandemia, não podia passear na marginal ou pisar o areal por estar com acesso vedado. Criou-se o hábito, também por isso, de se usufruir mais do que noutros anos daquele jardim onde se pode optar por alternar entre o sol ou a sombra.

Esse hábito deu origem a algumas queixas por parte de moradores do edifício Palácio da Enseada - motivo para isso era o ruído e o lixo que muitas vezes ficava no local ao fim do dia. 

As copas das árvores abatidas garantiam a quem nelas se abrigava escolher desfrutar da vista sem estar munido de guarda-sol. Por outro lado, os ramos frondosos já se intrometiam no raio de visão de quem mora nos primeiros andares do prédio. “Se pagamos mais IMI pelas vistas queremos usufruir delas”, diz ao PÚBLICO quem ali passeia e prefere não se identificar.

Já Manuela Monteiro, moradora nas imediações, mostra o seu desagrado pelo abate das árvores. “Quando passei por aqui e vi o que estavam a fazer não queria acreditar”, diz ao PÚBLICO. Mora uns quarteirões mais acima, mas várias vezes usufruiu do jardim. Não percebe os motivos da remoção dos metrosideros, por entender estarem “de boa saúde”, afirma a moradora, que diz regularmente participar em retiros, que, entre outras actividades, também servem para plantar árvores.    

O jardim não vai ficar despido de árvores. Mas, ao todo, 23 das que lá estavam vão ser cortadas. Na primeira linha de árvores, encostada ao prédio, a cada dez passos havia uma árvore. Agora, entre elas há um buraco no chão, aumentando a distância entre as mesmas para vinte passos.

Ao PÚBLICO, a autarquia diz que para substituir as que foram removidas, “a médio e longo prazo”, serão plantadas mais 35, que se somarão às 93 que permanecerão de pé. As árvores, “já seleccionadas”, serão espalhadas pela área central e limite junto à marginal. As restantes “serão sujeitas a poda de condicionamento, pontuando o jardim com elementos de sombra” e “em crescimento livre”, de forma à copa ocupar “uma grande área”. 

Por outro lado, “atendendo à pouca diversidade de espécies”, serão plantados maciços arbustivos “de forma a criar contrastes cromáticos”, aumentando a biodiversidade, mas diminuindo “ligeiramente a zona relvada”. Resultado disso, adianta a câmara, será a redução do “consumo de água e mão-de-obra na manutenção do espaço”.

De acordo com a autarquia, as árvores cortadas durante este novo confinamento fazem parte de um plano de “gestão gradual do arvoredo”. O PÚBLICO pergunta se há alguma relação entre o abate e as queixas existentes relativamente ao ruído e à falta de cuidado com o lixo que algumas vezes não é depositado em sítio apropriado. O município responde: “Não. Isso são situações de polícia”.

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