Chefe da diplomacia europeia diz que a missão da UE em Moçambique pode arrancar na terça-feira

Santos Silva deve liderar comitiva da UE, que irá discutir a questão securitária em Cabo Delgado com o Governo moçambicano. Presidente Nyusi nomeou novo Chefe do Estado-Maior.

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Ajuda humanitária da ONU em Impire, distrito de Metuge, Sul de Cabo Delgado RICARDO FRANCO/LUSA

O Alto Representante da União Europeia para a Política Externa, Josep Borrell, afirmou no sábado que a missão da União Europeia a Moçambique vai ocorrer na terça-feira da próxima semana, estando apenas dependente da autorização final de Maputo.

“Vai ocorrer na semana que vem, creio que vai ser na terça-feira, estão todos os trâmites preparados, só depende de que as autoridades de Moçambique dêem a sua autorização final, mas o ministro Augusto Santos Silva está preparado para ir, a missão está preparada”, disse Josep Borrell, em entrevista à Lusa.

A missão, anunciada há exactamente um mês pelo chefe da diplomacia europeia, vai ser liderada pelo ministro dos Negócios Estrangeiros português.

Josep Borrel precisou que Santos Silva viaja acompanhado da directora do Serviço Europeu de Acção Externa (SEAE) para África, a diplomata portuguesa Rita Laranjinha.

“De momento vão a Maputo e espera-se que possam ir a Cabo Delgado”, disse, acrescentando que tal “vai depender das condições de segurança da zona”.

“Vamos ver de que maneira podemos ajudar mais o Governo de Moçambique a fazer frente a um problema que não é só de Moçambique, que vem da Somália, que afecta uma região que tinha estado bastante isolada e onde podemos ter um fenómeno de extensão do terrorismo islamista”, explicou.

O Alto Representante frisou que quaisquer iniciativas da União Europeia só podem ser desenvolvidas depois de obtido “o acordo das autoridades de Moçambique, [que] é um país soberano”, mas apontou o treino e equipamento militar, a ajuda humanitária às populações deslocadas e, eventualmente, missões de vigilância costeira.

“Teremos de pensar em missões de vigilância costeira, porque a pirataria na costa da Somália, à medida que reforçamos a nossa vigilância a norte, desloca-se para Sul. Mas isso requer o acordo do Governo de Moçambique, isso é parte fundamental da ambição do [ministro] Augusto [Santos Silva]”, acrescentou.

Josep Borrell anunciou a 15 de Dezembro que pediu ao ministro português que se deslocasse a Moçambique como seu enviado para abordar com as autoridades locais a situação em Cabo Delgado, palco da violência armada atribuída a grupos extremistas islâmicos.

A escolha de Santos Silva acontece numa altura em que Portugal assumiu a presidência do Conselho da UE.

A violência armada em Cabo Delgado, onde se desenvolve o maior investimento multinacional privado de África, para a exploração de gás natural, está a provocar uma crise humanitária com mais de duas mil mortes e 560 mil pessoas deslocadas, sem habitação, nem alimentos, concentrando-se sobretudo na capital provincial, Pemba.

Algumas das incursões passaram a ser reivindicadas pelo grupo ‘jihadista’ Estado Islâmico desde 2019.

Mussa promovido

Maputo também deu nos últimos dias um sinal de mudança na abordagem aos problemas securitários em Cabo Delgado. O Presidente Filipe Nyusi nomeou na passada quinta-feira Eugénio Mussa para Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas de Moçambique.

O antigo major-general liderava o Posto do Comando Operacional Norte, estrutura responsável por coordenar as operações de combate contra os insurgentes, e tem sido uma das vozes mais audíveis do Exército sobre a necessidade de acabar com os ataques em Cabo Delgado.

Mussa afirmou recentemente que 2021 é o ano em que os jihadistas serão definitivamente expulsos do Norte do país.

O novo Chefe do Estado-Maior fez parte da comitiva presidencial que visitou a vizinha Tanzânia na semana passada, para uma série de encontros dedicados à segurança regional e onde se discutiram formas de coordenação de esforços de ambos os países naquela zona do continente africano.

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