Paris, Texas: Susan Sontag, a guerra e a Europa sob a pandemia

Os sucessivos períodos de quarentena, sob a pandemia, transformaram a capital do século XIX e o epicentro da modernidade até meio do século XX numa cidade deserta e atravessada por milhares de ciclistas. O encerramento dos museus e dos teatros faz, com a doença e o terror, emergir fantasmagorias. Desdramatizarmos as representações dominantes — como Susan Sontag desarmou a linguagem marcial associada ao cancro e ao flagelo da sida — devolve-nos parte da vida em risco. Paris, cidade da dissidência, é o espelho de um novo mundo.

Foto
Eugène Atget/Cabaret de L’Enfer, Boulevard de Clichy 53, 1910

As avenidas noturnas de Paris estão, nesta prolongada pandemia, tão desertas e silenciosas como nas fotografias de Eugène Atget, nas horas finais da madrugada, há cem anos. As esplanadas luminosas e aquecidas no pico do frio extinguiram-se, os restaurantes e os bares trancados na escuridão empilham cadeiras sobre as mesas, o trânsito rompe mecanicamente os boulevards deprimidos e as tendas dos sem-abrigo procuram refúgio rente a paliçadas contra o vento de dezembro. Durante o dia, as bicicletas que vinham, antes mesmo da pandemia, invadindo a cidade, respondem — agora, pela situação sanitária, em redobrado número — à nova política de circulação urbana implementada pela Câmara de Paris. O desenvolvimento de uma extraordinária rede de ciclovias estabeleceu firmes limites ao trânsito automóvel, chegando mesmo — à exceção dos transportes coletivos, comerciais e táxis — a impedi-lo em corredores nobres como, desde este verão, a Rue de Rivoli.

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