Cartas ao director

No rescaldo dos debates

No largo espaço de tempo que antecede as eleições desde a pré-campanha até ao último dia, sejam elas presidenciais, legislativas ou autárquicas, o que o comum dos cidadãos deseja apreciar e conhecer é a boa e inteligente argumentação e sobretudo o conteúdo programático que os candidatos vencedores se propõem executar. 

Vistas bem as coisas, o que o rescaldo desta série de debates televisivos mostrou aos portugueses, salvo raras excepções, foi uma não surpreendente monotonia. Além do repetido louvaminhar ao Serviço Nacional de Saúde, ao desemprego e consequentes questões laborais provocadas pela pandemia ou ainda o descuidado favor que prestaram ao Chega com a procurada ilegalização, não me recordo de alguém ter ousado falar das alterações climáticas que o avisado secretário-geral das Nações Unidas António Guterres tanto tem insistido. Como também ninguém falou dos crescentes problemas de saúde mental, uma realidade que por desatenção e negligência das competentes autoridades irá fazer os seus estragos. Face às restrições que o novo confinamento porventura mais severo irá impor, a campanha eleitoral, para prejuízo de todos nós, estará seriamente comprometida, restando esperar dos media mais e maiores intervenções que resguardem a dignidade dum tão importante acto cívico. 

José Manuel Pavão, Porto

Exercer o voto

O ministro da Administração Interna veio informar que os idosos residentes em lares poderão votar nos respectivos lares sem terem de se deslocar à mesa de voto. Compreende-se tal medida dada a idade dos mesmos, a sua debilidade física e o perigo de contaminação em relação à covid-19. No entanto, deve-se referir que os únicos idosos nessas condições não são só os atrás referidos, já que muitos outros idosos residentes nas suas habitações se encontram em idênticas condições de debilidade. Entende-se que seria da mais justa e correcta atitude possibilitar a todos os idosos com mais de 80 anos poderem também votar sem sair de casa e nas suas próprias residências.

Para o efeito, os idosos que quisessem votar sem sair de casa telefonariam para a sua autarquia a expressar tal desejo. A respectiva autarquia deslocaria pessoal legalmente habilitado para o efeito a cada morada, de forma idêntica à que vai fazer com os lares. Esta é a minha sugestão, que considero justa, não diferenciando idosos, que deveria ser válida também para a vacinação, já que não posso admitir que haja idosos, porque estão em lares, que são vacinados numa primeira fase e outros com 80 anos ou mais são empurrados para uma segunda fase. Espero que o bom senso impere.

Joaquim Moreira Rato, Oeiras 

Presidenciais

Ao longo dos debates entre candidatos às presidenciais tem sido confrangedora a pobreza de argumentos entre quase todos eles. Para além do fenómeno proto-fascista, a quem basta dar um espirro e dizer uma aleivosia para ter direito a meia página de jornal ou a notícia nos telejornais, a iliteracia inata ou assumida tem sido constante, também em boa parte por culpa de alguns dos moderadores que não puxaram os debates senão para o trivial. Ninguém falou da UE, nem das alterações climáticas, nem do descalabro ambiental do país, nem de cultura. Curioso exemplo de iliteracia foi o debate entre o candidato do PCP e o da IL. Este acusou o comunista de estar agarrado a ideias do século XIX e esqueceu-se - ou não sabia - que as suas ideias de liberalismo são tão antigas como as outras. Foi contra os extremismos do comunismo e do liberalismo que no século XIX o Papa Leão XIII proclamou a Encíclica Rerum Novarum, e dessa forma desenvolveram-se ideologias democráticas, à direita a democracia cristã e à esquerda a social democracia, que deram ao Ocidente as décadas de mais paz e bem estar da sua História. Desde o descalabro do Presidente Hoover aquando da grande depressão nos EUA, e perante a decisão histórica do Presidente Roosevelt, que lhe sucedeu, do New Deal, lançando mão da teoria keynesiana, o liberalismo tem resistido como a hidra - sempre que lhe cortam  uma cabeça nascem outras...  Não deixa também de ser curioso que contra o estado de emergência que permite lutar contra a pandemia em todos os países ocidentais democráticos, em Portugal quem é que vota contra ? O PCP e a IL...

Fernando Santos Pessoa, Faro

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