Cartas ao director

Meio milhão de euros

Meio milhão de euros, segundo consta nos jornais, é a importância que o conhecido dirigente do Banco Privado Português (BPP) se propõe devolver ao Estado através dos tribunais onde está a ser julgado, como forma arguta e expedita de contornar a ameaça que pesa sobre a sua pessoa e o mandará para trás das grades durante alguns anos.

Rendeiro de seu nome, fez bem jus ao apelido apropriando-se dos bens que lhe foram confiados pelos depositantes e dos quais nunca pagou os juros que antes havia prometido. Com os bolsos cheios, apreciou as maravilhas do mundo, enquanto os seus bem pagos advogados urdiam estratégias e criavam delongas tendo em vista remeter o processo para as calendas. Mas tudo tem um fim e a justiça portuguesa, não obstante ronceira e permissiva nos seus códigos, vai cortando a direito, custe o que custar, como diz o nosso Presidente.

Não sabemos ainda o que decidirão os tribunais, mas pagar indemnizações com o dinheiro dos outros (…) não cabe na cabeça do mais ingénuo dos cidadãos, ainda que estejamos em tempo de Natal e a sua magia possa contagiar de ternura o coração dos magistrados.

José Manuel L. Pavão, Porto

A Torre Bela e a alma

Imaginemos, por momentos, que as imagens que vimos na TV da carnificina na Torre Bela, em vez de serem cadáveres de gamos, veados e javalis, eram de homens, mulheres e crianças. Não nos passaria pela cabeça que seriam o resultado de um ataque de animais selvagens. Estes, quando matam as suas presas, não o fazem em tão larga escala, só matam por necessidade de defesa ou de subsistência, não dispõem os corpos alinhados em filas daquela maneira e, sobretudo, não matam por prazer, por desporto ou para fazerem colecção das suas vítimas.

São, segundo nós dizemos, animais “irracionais”. E, todavia, têm alma como nós. A palavra “animal” vem do latim anima, que significa alma, e quer dizer isso mesmo: dotado de alma. (…)

Para afirmar que os nossos irmãos “irracionais” são também portadores de alma, nem precisamos de nos respaldar em renomados teólogos. Sentimo-lo e intuímo-lo quando somos atravessados pelo olhar de um cão abandonado, quando nos arrepiamos com as sevícias a que são sujeitos os touros nas arenas, quando nos deliciamos a ver o modo como as aves alimentam no ninho os seus filhotes e como outros animais defendem até à morte as suas crias. Porém, diante daquelas imagens que vimos na TV, eu já começo a duvidar que todos os animais sejam dotados de alma. (…)

Flávio Henrique Vara, Lisboa

Barbárie

Uma bárbara matança de 540 animais (!), veados e javalis, foi executada numa auto-intitulada montaria. A “façanha”, assim classificada pelos caçadores assassinos, foi concretizada, cobardemente, em campo aberto, sem a possibilidade de os animais se poderem esconder das balas mortíferas. Estes foram simplesmente encurralados contra muros e abatidos. “Grande feito” pelos milionários caçadores espanhóis, que violaram o contrato de abate e o perpetraram a sangue frio. Perguntamos: que irão fazer com os 540 animais abatidos? Vão ser consumidos? Vão parar a uma qualquer lixeira? O ministro do Ambiente disse, e bem, que a vil, ignóbil e inaceitável matança vai ser entregue ao Ministério Público para averiguar e poderem ser criminalizados os potenciais criminosos caçadores. Espera-se que mais este crime contra a natureza, o ambiente e a vida não fique na gaveta do esquecimento... Há que punir, sem piedade, os matadores!

Vítor Colaço Santos, São João das Lampas

De que está à espera Eduardo Cabrita?

Depois de tudo o que Maria Lúcia Amaral, provedora de Justiça, disse aos deputados da Assembleia da República, contando o que Eduardo Cabrita lhe tinha dito em 2018, não sei de que está à espera o ministro para se demitir. Qualquer cidadão respeitável estaria seriamente envergonhado e tomaria a única atitude que qualquer pessoa de bem teria já tomado. Todavia, Eduardo Cabrita continua em funções e continua a mostrar a todos, incluindo a António Costa, que não pode participar, de forma alguma, na reforma profunda que o SEF necessita. Há alturas em que, mais do que nunca, é necessário ser coerente. Por tudo o que tem acontecido, pergunto: Eduardo Cabrita está à espera de quê?

Manuel Morato Gomes, Senhora da Hora

Sugerir correcção
Ler 1 comentários