“Génesis”. O mundo na sua forma mais pura

A exposição do conceituado fotógrafo Sebastião Salgado chegou às ruas de Lisboa: está junto do Arco da Rua Augusta, é de entrada gratuita e faz parte do programa “Arte na Rua”. Com 38 fotografias, é uma “ode” à natureza e, acima de tudo, um convite à reflexão.

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D.R.
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Ver a obra de Sebastião Salgado é como partir numa viagem à descoberta das zonas mais puras do mundo. Ele leva-nos às monumentais colónias de pinguins da Antárctica. Mostra-nos as baleias-francas-austrais da península dos Valdés, na Argentina. Apresenta-nos o festival Sing-sing de Mount Hagen, na Papua-Nova Guiné. E leva-nos de helicóptero às Anavilhas, que formam o maior arquipélago continental do mundo, com cerca de 350 ilhas cobertas por árvores no rio Negro, Amazonas, Brasil.

Estas são apenas três das imagens presentes em “Génesis”, a exposição itinerante assinada pelo multipremiado fotógrafo brasileiro de 76 anos, que é aqui exibida em circunstâncias singulares: ao invés de estar circunscrita a uma sala de museu, está em disposta ao ar livre, junto ao Arco da histórica Rua Augusta, em Lisboa.

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A exposição pode ser visitada junto ao Arco da Rua Augusta, em Lisboa, até 14 de Janeiro. D.R.
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A exposição, apresentada esta segunda-feira, 21 de Dezembro, decorre no âmbito do Arte na Rua, um programa organizado pela Fundação “la Caixa”, em colaboração com o BPI e, nesta nova acção, com a Câmara Municipal de Lisboa. Com o objectivo de democratizar o acesso à arte, é uma iniciativa que continua a trazer para o espaço público obras de artistas de renome internacional, transformando, assim, a rua num museu a céu aberto.

“Apesar de ser uma zona movimentada, é um local que proporciona alguma intimidade e relação com esta obra de Sebastião Salgado, permitindo alguma contemplação”, explica-nos, Artur Santos Silva, presidente honorário do BPI e curador da Fundação “la Caixa”. “Vai proporcionar a muita gente o contacto com esta exposição extraordinária que nos mostra a natureza no seu esplendor.”

Constituída por 38 fotografias a preto e branco, dispostas ao longo de duas extensas filas junto ao quarteirão adjacente ao famoso arco de Lisboa, “Génesis” surge-nos dividida em zonas do mundo distintas: a sul, a Antárctica, África, os Santuários (Madagáscar, ilha dos Galápagos, Papua-Nova Guiné), as terras do Norte (do Alasca à Sibéria) e, por último, a Amazónia e o Pantanal.

“Uma ode visual à majestosidade e fragilidade da Terra”

“Génesis” expande a visão de mundo e mostra os rituais de tudo o que vive em absoluta sintonia com a Terra. É um reflexo da total devoção de Salgado à natureza e é fruto da odisseia que, entre 2004 e 2012, o levou em busca dos locais em que poucos homens tocaram.​

É, nas palavras do artista, “uma ode visual à majestosidade e fragilidade da Terra”. E é, sobretudo, “um aviso de tudo o que corremos o risco de perder”, um convite à reflexão sobre o Planeta, a exploração dos recursos naturais e a urgência da sua preservação.

“Numa época que se mostra que a não preservação e o pouco cuidado da acção do homem sobre a natureza tem um impacto terrível na nossa vida, [Sebastião Salgado] mostra-nos a vida mais pura, mais natural, onde há pouca presença do homem, em zonas tão diferentes do mundo, como a Antárctida, África, Alasca, Sibéria”, refere Artur Santos Silva.

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O curador da Fundação “la Caixa” considera que o conjunto de fotografias tem a capacidade de sensibilizar para os grandes problemas do homem, nomeadamente no que se refere à preservação da natureza e do mundo animal. “É a garantia de que estamos a proteger uma vida com valores e com qualidade.”

Manuel González, fotógrafo e comissário de “Génesis”, vai no mesmo sentido: “A principal conclusão — que é o propósito do autor e da sua esposa nesta exposição — é que tomemos consciência de que há - que cuidar da terra, há que preservá-la”, diz. “O futuro da terra depende da nossa capacidade de mantê-la nas mesmas condições que ele apresenta nas fotografias.”

Descrevendo Sebastião Salgado como um fotógrafo “excepcional”, Gonzalez considera que é um dos artistas que “teve o privilégio de nascer com um olhar único.”

Destaca também o facto de Salgado, licenciado em Economia pela brasileira Universidade Federal do Espírito Santo, não ter formação fotográfica: “Os grandes fotógrafos que conheci, e conheci bastantes, são autodidactas”, conta. “Sebastião Salgado era autodidacta. Era economista, na Organização Mundial de Café e deixou uma oferta de trabalho magnífica no Banco Mundial para se dedicar à fotografia.”

É no início da década de 70 que o talento e a paixão pela lente lhe trocam as voltas: passa a trabalhar como fotógrafo independente, passando pela agência Magnum. Ao longo das décadas seguintes, reúne um total de 16 prémios e vários livros aclamados, como “Êxodos” e “Retratos de Crianças do Êxodo”.

“Génesis” já passou por seis cidades portuguesas e despede-se do país na capital. É de entrada gratuita e estará patente até 14 de Janeiro.