Benfica vence Gil Vicente depois de caminhar à beira do abismo

Os “encarnados” desperdiçaram várias oportunidades de golo, mas foi na fase em que mais sofreram que encontraram o caminho do golo. O guarda-redes Vlachodimos foi decisivo.

Lucas e Everton em duelo no Minho
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Lucas e Everton em duelo no Minho Reuters/PEDRO NUNES
Everton celebra em Barcelos
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Everton celebra em Barcelos Reuters/PEDRO NUNES

Desperdiçar oportunidades, conceder lances de perigo ao adversário, ver o seu guarda-redes ser herói e, quando menos se esperava, chegar ao ansiado golo. Foi a caminhar nesta corda bamba, à beira do abismo, que o Benfica venceu neste domingo o Gil Vicente, por 0-2, em jogo da ronda 10 da I Liga. Este resultado permite aos “encarnados” recolocarem-se a dois pontos do líder Sporting e garantirem mais uma semana no segundo lugar do campeonato.

Para esta partida, Jorge Jesus montou um “onze” teoricamente muito ofensivo, com Pizzi, Everton, Pedrinho, Seferovic e Darwin. Mas isto foi no papel. Na prática, a presença de Seferovic até dotou a equipa de uma maior agressividade defensiva.

E não foi trivial ver a frequência com que o Gil Vicente perdeu bolas na primeira fase de construção – foram quatro em 22 minutos, três delas desperdiçadas por Darwin, sempre incapaz de definir com qualidade.

Além da melhor primeira linha de pressão, o Benfica trouxe outra novidade para este jogo: menor redundância do jogo interior. A equipa tem apostado avidamente nessa solução, mas, em Barcelos, conseguiu, a espaços, variar esse caminho com alguns cruzamentos tirados a partir do corredor.

E entre uma coisa e outra a equipa teve controlo da partida e, sem ser asfixiante e particularmente engenhosa na criação de jogo, somou oportunidades de golo suficientes para estar em vantagem.

Darwin falhou um “chapéu” aos 15’ e um remate dentro da área aos 17’, Seferovic cabeceou para fora aos 21’, Everton rematou ao segundo poste para defesa de Denis aos 24’, Darwin definiu mal um lance aos 28’ (após um grande passe de Pedrinho), Vertonghen cabeceou por cima aos 35’ e Gilberto rematou de fora da área, também com perigo, aos 38’.

Um relato extenso, que atesta uma acutilância ofensiva razoável – sem jogadores particularmente inspirados, o Benfica somou muitos lances de finalização, embora nem sempre em situações perfeitas para remate.

O Gil Vicente foi testando o Benfica de quando em vez, mas quase sempre em remates de fora da área. Um deles, de Leautey, aos 42’, foi perigoso. E começou num lance em que a pouca agressividade de Pizzi na zona central descompensou toda a equipa – problema recorrente da equipa “encarnada”.

Já perto do intervalo o jogo teve um momento decisivo. Ygor Nogueira já tinha visto um cartão amarelo por atingir Darwin com o cotovelo, num duelo aéreo, e achou que deveria repetir a abordagem pouco depois. Claro está que o árbitro Nuno Almeida, até por jurisprudência, repetiu a “sentença”: mais um amarelo e central do Gil expulso.

Uma trama de dois actos

Na segunda parte, o Gil Vicente, apesar de estar com menos um jogador, esteve surpreendentemente perto do golo aos 54’ – cabeceou Lucas para defesa de Vlachodimos – e aos 55’ – cabeceou novamente Lucas, mas à trave, e rematou Lourency para outra defesa do guardião “encarnado”. E aqui começou uma trama de dois actos: não marca o Gil, marca o Benfica – parte I.

Se na primeira parte a via exterior já tinha ajudado a criar alguns lances, na segunda a presença de Pizzi e Gilberto em zona ofensiva, ambos destros, permitiu ao brasileiro cruzar para um cabeceamento de Everton. Rodrigo quis desviar e fez autogolo.

Aos 63’, Samuel Lino rematou para defesa de Vlachodimos e o Lourency fez a recarga, novamente para defesa de Vlachodimos. O guardião grego estava a ser um verdadeiro herói para Jorge Jesus e o Benfica, com várias defesas – e algumas delas de grande nível.

A permeabilidade defensiva do Benfica voltou a estar presente – o meio-campo continua macio, permitindo aos adversários conduzirem em progressão pela zona central – e o Gil Vicente somou quatro oportunidades de golo em 20 minutos, mesmo jogando em 10 contra 11.

Não marca o Gil, marca o Benfica – parte II. Pizzi e Seferovic combinaram novamente no corredor direito e o Benfica voltou a usar a rara via do cruzamento. E voltou a ser feliz, novamente com Everton a cabecear ao segundo poste.

A mesma solução, a mesma definição, o mesmo protagonista, o mesmo desfecho. Com 0-2 e um jogador a mais, o Benfica controlou a partida com relativa tranquilidade. Neste domingo, em Barcelos, valeu Vlachodimos, quando foi necessário, e valeu a percepção por parte do Benfica de que nem sempre o jogo interior e combinativo é a melhor solução. O cruzamento é uma via mais aleatória, mas não é uma arte menor.

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