Selo de sustentabilidade promete revolucionar mercado dos vinhos

Inédita em Portugal, a certificação de produção sustentável é uma iniciativa da Comissão Vitivinícola Regional Alentejana, que estima um aumento de 5% a 10% nas vendas de vinhos do Alentejo que tenham o novo selo.

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Ao Alentejo associam-se paisagens a perder de vista, planícies ondulantes e os tão característicos montados de sobreiros e azinheiras; mas também a presença milenar de um produto enraizado na tradição da região: o vinho. Com mais de 1800 viticultores e 280 adegas, o Alentejo — que ocupa mais de um terço da área do nosso território — é líder nacional em vinhos certificados, representando cerca de 40% do valor total das vendas em Portugal.

Se os Vinhos do Alentejo já eram um ex-libris nacional, agora uma nova certificação promete diferenciá-los ainda mais face aos demais: a certificação de produção sustentável. A certificação (e o selo que lhe vem associado), única em Portugal, é atribuída por 4 Organismos Certificadores(Bureau Veritas, Certis, Kiwa Sativa e SGS), que têm trabalhado em colaboração com a Comissão Vitivinícola Regional Alentejana (CVRA) e será concedida aos produtores que cumpram um conjunto de requisitos ligados à sustentabilidade, tendo como base melhores práticas reconhecidas internacionalmente.

Boas práticas ambientais premiadas

Para obter a certificação de produção sustentável os produtores necessitam de adoptar boas práticas transversais à sustentabilidade do negocio, da vindima até à comercialização. Práticas que vão desde as ambientais, entre outras, pela boa gestão da energia e dos resíduos; pela aposta na reutilização e reciclagem (uso de produtos mais “verdes”, como rolhas, barricas e outros materiais); pela correcta gestão dos solos e da água para a rega; pela redução do uso de pesticidas e monitorização da fertilização; pela protecção da biodiversidade e restauro das linhas de água; ou pelo investimento na produção biológica. Mas também por práticas de cariz socioeconómico, como a formação contínua de colaboradores, a melhoria das condições de higiene e segurança, a criação de sinergias entre adegas e as comunidades envolventes, ou o respeito pelas tradições e culturas locais.

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Maior sustentabilidade, mais rentabilidade

Além do claro benefício para o meio ambiente, a atribuição deste selo traz vantagens económicas aos produtores vitícolas. Transformar todo o processo, desde a uva até à garrafa, mais eficaz e eficiente, torna-o economicamente mais viável. Adicionalmente, também as vendas podem beneficiar com este selo. É que cada vez mais portugueses optam por produtos criados por empresas que dão importância a causas ambientais, acabando por influenciar a decisão de compra na hora de escolher um vinho — a CVRA (responsável pela certificação dos vinhos DOC Alentejo e Regional Alentejano) estima que este selo poderá aumentar as vendas dos Vinhos do Alentejo na ordem dos 5 a 10%.

Vinho do Alentejo: cinco anos de políticas sustentáveis

A nova certificação é o corolário de todos os esforços para os membros do Programa de Sustentabilidade dos Vinhos do Alentejo (PSVA), iniciativa pioneira em Portugal, dirigida aos produtores de uva e de vinho da Região Vitivinícola do Alentejo. Ao longo dos seus cinco anos de existência, o PSVA tem apostado em acções de sensibilização junto dos produtores alentejanos. Apesar destes se caracterizarem pela heterogeneidade — com produtores muito grandes e muito pequenos, com realidades financeiras díspares e práticas sustentáveis que variam do muito básico ao bastante desenvolvido —, tem-se verificado uma maior preocupação por parte dos produtores alentejanos em relação à sustentabilidade.​

Através da sugestão de implementação de práticas sustentáveis, o PSVA tem, entre outros, ajudado a contribuir para uma redução em até 30% do consumo de energia em vários produtores, bem como do consumo de água em cerca de 20%. Outros resultados incluem um aumento das taxas de reciclagem e promoção da economia circular (38% dos membros da CVRA já estão a converter os resíduos orgânicos em adubo para aplicação como fertilizante no campo); a implementação de planos de gestão de rega para um uso mais eficiente da água (43% dos membros); e uma redução do rácio de litro de água necessário para produzir cada litro de vinho (há cinco anos havia produtores que tinham um rácio de 14 litros de água por cada litro de vinho; hoje, muitos estão já nos 1,2 litros). Também a implementação de planos de monitorização de água e luz está a permitir uma redução de custos de cerca de 20% e de 30%, respectivamente.

Um futuro para o vinho alentejano

Apesar dos resultados positivos, a nova certificação de produção sustentável vai permitir aos produtores de vinho alentejanos dar o salto para uma produção ainda mais amiga do ambiente, redobrando esforços em áreas consideradas primárias, como a água e a energia, e alargando para outras que ainda estão a dar os primeiros passos, casos do transporte e da logística.

A certificação de produção sustentável da Comissão Vitivinícola Regional Alentejana promete assim revolucionar o sector em Portugal. Numa realidade em que tanto o mercado interno como os mercados externos estão cada vez mais a exigir a aplicação de princípios de sustentabilidade, e com 30% do vinho alentejano a ter como destino a exportação (o pódio é ocupado pelo Brasil, Angola e Estados Unidos), é fácil perceber o impacto positivo que este novo selo de certificação poderá trazer aos produtores do Alentejo.