Pandemia covid-19 e Centro Hospitalar Tâmega e Sousa

Não espanta que a exposição à anunciada tragédia pandémica, que já levou ao colapso grandes hospitais em todo o mundo, acarrete um tremendo risco de colapso do Centro Hospitalar Tâmega e Sousa.

A tragédia pandémica que se abateu sobre a humanidade, com efeitos devastadores, pôs à prova os Sistemas de Saúde em todo o mundo. Excelentes hospitais, com capacidade e diferenciação técnica ao mais alto nível, com recursos humanos altamente diferenciados, com criterioso planeamento e com administrações de comprovada competência, entraram em rutura em todo o mundo.

Seria absurdo pensar que uma tão dura provação iria poupar o nosso Serviço Nacional de Saúde. Ninguém minimamente esclarecido acreditava nesse milagre. E a tragédia chegou cá!

A porta de entrada foi o Vale do Sousa e o primeiro Hospital a ser posto à prova foi o Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa. A tragédia fez-se anunciar na primeira onda e foi contida com “aparente relativa facilidade”. Os responsáveis nacionais (Ministério da Saúde – DGS, ACSS, etc.), regionais (ARS) e institucionais “respiraram fundo”. O pior foi a segunda vaga!...

Surpresa?!... Esqueçamos! Pensemos com o mínimo de lucidez possível.    

O Centro Hospitalar Tâmega e Sousa assegura serviço hospitalar inerente à sua caracterização (nível) a uma população de 519.769 habitantes, o que equivale a mais de metade (53,6%) da que é referida diretamente aos três grandes Centros Hospitalares do Grande Porto - a saber: CH Gaia/Espinho, CH Porto (H de Stº. António) e CH S. João – o que perfaz o total de 968.866 habitantes. Por outras palavras, o CH Tâmega/Sousa serve uma população muito superior (166%) à referida, em média, a cada um dos três grandes hospitais (Gaia, Stº. António e S. João).

Comparando os hospitais da Região Norte de nível equivalente ao do CHT/S, a situação deste é igualmente peculiar. Vejamos dois exemplos: 1. o Hospital Pedro Hispano, que integra a ULS de Matosinhos, assegura idênticos serviços hospitalares a uma população de 175.478 habitantes, correspondente a 1/3 (33,8%) da do CHT/S; 2. o total dos Hospitais das ACES/ULS de Trás os Montes, Alto Douro e Nordeste Transmontano asseguram os mesmos serviços a uma população equivalente a 4/5 da que é da responsabilidade do CHT/S.

Esta análise comparativa é sumaríssima e carece de uma profunda avaliação comparativa das respetivas capacidades instaladas, diferenciação técnica, qualificação de recursos humanos, financiamento, articulação com a Medicina Familiar, cooperação com os Setores Social e Público, etc. Mas permite concluir, sem risco de errar, que os habitantes dos onze Municípios da Comunidade Intermunicipal Tâmega/Sousa e do Município de Paredes estão injusta e negativamente discriminados, no que concerne às necessidades de cuidados hospitalares.

Esta situação foi provocada por um clamoroso erro de planeamento aquando da construção do novo Hospital de Amarante. O seu programa funcional devia ter sido concebido para prestar às populações dos Municípios do Baixo Tâmega serviços idênticos aos prestados pelo Hospital Padre Américo aos Municípios do Vale do Sousa. Não foi o que se fez e a subsequente criação do Centro Hospitalar T/S deu no que se vê.

Não espanta que a exposição à anunciada tragédia pandémica, que já levou ao colapso grandes hospitais em todo o mundo, acarrete um tremendo risco de colapso do CHT/S.

Não bastam as pífias medidas anunciadas pela senhora ministra da Saúde aquando da sua visita ao Hospital Padre Américo e as convicções otimistas do presidente do Conselho de Administração. Impõe-se uma profunda e alargada reflexão sobre este magno problema, antes que uma eventual (muito provável) terceira vaga pandémica nos atinja. É imperioso tomar medidas imediatas e repensar o planeamento futuro.

Sinto ser meu dever apelar, desde já, a que o assunto seja tema de urgente análise em sede da Comunidade Intermunicipal Tâmega e Sousa, a qual representa, juntamente com o Município de Paredes, toda a população negativamente afetada por esta injustiça. Os responsáveis pela garantia da qualidade de vida dos munícipes que os elegeram representam 5% dos eleitores do País. Apelo a que se façam ouvir sem preconceitos bairristas, com independência e legitimidade, ultrapassando as querelas politico-partidárias!...

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

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