Como me protege a vacina da covid-19?

A corrida contra o tempo para desenvolver vacinas que nos protejam do novo coronavírus levou à aposta numa nova tecnologia e há ainda várias perguntas em aberto.

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Um graffiti do novo coronavírus do artista David "S.I.D." Perez Reuters/DENIS BALIBOUSE

Duração da imunidade e transmissão da doença são algumas das incógnitas ainda em aberto.

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Duração da imunidade e transmissão da doença são algumas das incógnitas ainda em aberto.

Como funciona a vacina da Pfizer?
Esta é a primeira vacina com tecnologia de ARN-mensageiro (ARNm) aprovada, embora ainda com carácter temporário, numa situação de emergência, embora a ideia de usar o ARNm para produzir proteínas úteis para combater doenças ao nível celular já exista há décadas. A vacina desenvolvida pela empresa de biotecnologia alemã BioNtech, e que será distribuída pela Pfizer, é a primeira a resultar.

O ARNm é uma molécula que contém as instruções para que as nossas células produzam proteínas, neste caso a espícula, que está à superfície do novo coronavírus. Não é infecciosa, mas dá-lhe o aspecto espinhado e serve para treinar o sistema imunitário na detecção de um novo inimigo – o SARS-COV-2.

Sabemos quanto tempo dura a imunidade da vacina?
Não. A norte-americana Moderna, que também está a desenvolver uma vacina com base na mesma tecnologia, publicou na quinta-feira um curto artigo na revista médica New England Journal of Medicine em que diz verificar a existência de “anticorpos neutralizantes [os que defendem as células de partículas infecciosas] após 119 dias, ou três meses, após a administração da segunda dose de 100 nanogramas” da sua vacina. Isto em todos os grupos etários, dos 18 aos 55 anos, dos 56 aos 70 anos e dos mais de 71 anos. Mas estes são resultados de um ensaio clínico na fase 1, a primeira de todas. A BioNtech diz que os participantes nos ensaios clínicos continuarão a ser acompanhados nos próximos dois anos.

A vacina contra a covid-19 protege-me de ficar doente? E impede-me de transmitir a doença aos que estão à minha volta?
Os ensaios clínicos foram concebidos para medir parâmetros que dessem respostas rápidas. “O que estão todos a medir não é tanto se a vacina protege da infecção pelo novo coronavírus, mas antes se consegue baixar o número de casos sintomáticos”, explicou ao PÚBLICO Els Torreele, do Institute for Innovation and Public Purpose do University College de Londres, formada em bioengenharia e biomedicina mas que faz investigação sobre inovação e acesso aos medicamentos.

É importante distinguir isto. “Não se está a medir se com a vacina se continua a verificar transmissão do vírus, mesmo nos casos assintomáticos”, frisou Torreele. “Sabemos que a transmissão do novo coronavírus por pessoas sem sintomas da doença é um grande problema na covid-19, mas os ensaios clínicos não foram desenhados para o detectar.”

As pessoas que já tiveram covid-19 precisam de ser vacinadas?
Ainda não se sabe quanto tempo dura a imunidade após a infecção pelo novo coronavírus. Há casos, embora raros, de pessoas infectadas segunda vez. Para os coronavírus que há muito convivem com os seres humanos, causando resfriados comuns, a imunidade é curta. Alguns estudos indicam que ter covid-19 deve salvaguardar de nova infecção durante pelo menos seis meses, mas houve excepções. Mas se já teve covid-19, não deverá estar no grupo de maior prioridade a ser vacinado.