Covid-19: Estudo de caso indica que exposição ao vírus pode não conceder imunidade total

Até ao momento, estão relatados pelo menos cinco casos a nível mundial de reinfecção pelo novo coronavírus SARS-CoV-2.

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O novo coronavírus, que provoca a covid-19 NIAID

Um estudo que confirma o primeiro caso de reinfecção pelo novo coronavírus nos Estados Unidos, o quinto a nível mundial, indica que a exposição ao vírus pode não conferir uma imunidade total.

O caso já tinha sido noticiado em Agosto. Agora o trabalho científico foi publicado na revista médica The Lancet Infectious Diseases, que analisa esse caso de um jovem de 25 anos que teve resultados positivos para duas infecções distintas por SARS-CoV-2 em 48 dias, confirmando que uma segunda infecção pode ocorrer num curto período de tempo e pode ser mais grave, como foi o caso.

Os resultados deste estudo, financiado pelo Instituto Nacional de Ciências Médicas Gerais e conduzido por investigadores do Laboratório de Saúde Pública do Estado do Nevada e da Faculdade de Universidade do Nevada, em Reno, indicam que a exposição ao vírus da covid-19 pode não se traduzir em imunidade total garantida e que são necessárias investigações adicionais de casos de reinfecção.

Neste primeiro estudo para confirmar um caso de reinfecção de SARS-CoV-2 nos EUA, os investigadores encontraram provas de que um indivíduo sem distúrbios imunitários ou problemas subjacentes conhecidos foi infectado com novo coronavírus em duas situações distintas.

O doente de 25 anos que mora no condado de Washoe, Nevada, foi infectado com duas variantes distintas de SARS-CoV-2 num período de 48 dias.

A segunda infecção foi mais grave, resultando em hospitalização com suporte de oxigénio, o que pode indicar que a exposição anterior ao vírus da covid-19 pode não traduzir uma imunidade total garantida.

Os autores do estudo observam que todos os indivíduos –​ previamente diagnosticados ou não – devem tomar precauções idênticas para prevenir a infecção com SARS-CoV-2.

Após o teste positivo para SARS-CoV-2 em Abril de 2020, o paciente teve resultados negativos para o vírus em duas ocasiões diferentes.

Em Junho de 2020, depois de apresentar sintomas graves de covid-19, incluindo febre, dor de cabeça, tonturas, tosse, náuseas e diarreia, o doente foi hospitalizado e teve um segundo teste positivo. Já teve alta hospitalar e já está recuperado.

“Ainda existem muitas incógnitas sobre as infecções por SARS-CoV-2 e a resposta do sistema imunitário, mas as nossas descobertas indicam que uma infecção anterior por SARS-CoV-2 pode não proteger contra infecções futuras”, disse o principal autor do estudo, Mark Pandori, do Laboratório de Saúde Pública do Estado do Nevada, localizado na Universidade de Nevada.

“É importante notar que esta é uma descoberta singular. Embora mais investigações sejam necessárias, a possibilidade de reinfecções pode ter implicações significativas para a nossa compreensão da imunidade à covid-19, especialmente na ausência de uma vacina eficaz”, acrescentou Mark Pandori, citado num comunicado de imprensa do grupo da revista The Lancet, defendendo ainda que os indivíduos com teste positivo para SARS-CoV-2 devem continuar a tomar precauções, incluindo o distanciamento social, o uso de máscaras faciais e a lavagem das mãos.

Pelo menos quatro outros casos de reinfecção foram confirmados na Bélgica, Países Baixos, Hong Kong e Equador. No entanto, apenas o caso de reinfecção do Equador apresentou resultados de doença piores do que a primeira infecção.

“Precisamos de mais investigações para entender por quanto tempo a imunidade pode durar para pessoas expostas ao SARS-CoV-2 e por que algumas dessas infecções secundárias, embora raras, apresentam-se mais graves”, disse Mark Pandori. “Até agora, vimos apenas alguns casos de reinfecção, mas isso não significa que não haja mais, especialmente porque muitos casos de covid-19 são assintomáticos. No momento, só podemos especular sobre a causa da reinfecção”, frisou.

Tal como aconteceu com o caso de reinfecção no Equador, o doente norte-americano apresentou um aumento da gravidade dos sintomas na sua segunda infecção, enquanto os casos da Bélgica, Holanda e Hong Kong não mostraram diferença na gravidade dos sintomas.

Os autores apresentam várias hipóteses para explicar a gravidade da segunda infecção, incluindo a possibilidade de o doente encontrar uma carga muito alta do vírus que causou uma reacção mais aguda na segunda vez.

Outra das hipóteses avançadas é o doente ter tido contacto com uma versão mais virulenta do vírus ou então que a presença de anticorpos contra o novo coronavírus pode até ter tornado pior uma infecção subsequente) tal como já ocorreu com outras doenças como a febre de dengue.

Finalmente, outra explicação alternativa seria uma co-infecção simultânea de ambas as estirpes do vírus. No entanto, isso significaria que a segunda estirpe não teria sido detectada em Abril de 2020.

Os autores reconhecem que o estudo é limitado ao não ter sido possível realizar qualquer avaliação da resposta imunitária ao primeiro episódio de infecção por SARS-CoV-2 nem a eficácia das respostas imunitárias durante o segundo episódio.

Os investigadores também destacam que este caso e outros casos de reinfecção confirmados ocorreram em doentes que apresentaram sintomas de covid-19, o que significa que há a possibilidade de muitas infecções e/ou reinfecções entre os indivíduos poderem ser assintomáticas e, portanto, provavelmente permanecerão não detectadas nos testes actuais.

“Em geral, há uma falta de sequenciamento genómico abrangente de casos covid-19 positivos tanto nos EUA quanto no mundo, bem como uma falta de triagem e testes, o que limita a capacidade de diagnosticar, monitorizar e obter rastreamento genético para o vírus”, considerou Mark Pandori.

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