Abate de visons provoca uma crise política na Dinamarca

Ministro da Agricultura demitiu-se e oposição exige queda do Governo. Em causa, a ordem sem base legal para abater de mais de 15 milhões de visons, depois de ter sido identificada uma mutação do coronavírus nestes animais.

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O abate de milhões de visons como medida preventiva para evitar a disseminação de uma nova mutação do coronavírus gerou uma crise política na Dinamarca, com o ministro da Agricultura a apresentar a demissão e a oposição a exigir a queda do Governo.

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O abate de milhões de visons como medida preventiva para evitar a disseminação de uma nova mutação do coronavírus gerou uma crise política na Dinamarca, com o ministro da Agricultura a apresentar a demissão e a oposição a exigir a queda do Governo.

No início deste mês de Novembro, o Governo dinamarquês deu ordens para que entre 15 a 17 milhões de visons fossem abatidos, depois de as autoridades terem detectado uma mutação do SARS-CoV-2 que já infectou mais de 200 pessoas e que pode pôr em causa a viabilidade de uma futura vacina, ao reduzir a capacidade dos anticorpos neutralizantes.

Por precaução, o Executivo liderado pela primeira-ministra Mette Frederiksen deu ordens para que todos os visons do país fossem abatidos, tendo, inclusive, os militares sido destacados para ajudar no extermínio.

A ordem, no entanto, não tinha base legal, uma vez que o Governo apenas tinha permissão para ordenar a erradicação dos visons nas áreas afectadas pelos surtos e não em todo o país, como foi ordenado.

Por esse motivo, perante a crescente contestação no Parlamento dinamarquês e o choque com o próprio Governo, o ministro da Agricultura, Mogens Jensen, apresentou a demissão na passada quarta-feira.

A oposição não ficou satisfeita com a saída de cena de Jensen e pede mesmo a queda do Governo social-democrata de Mette Frederiksen.

“Quero que a primeira-ministra faça o mesmo”, afirmou Jakob Elleman-Jensen, do Partido Liberal, citado pela Deutsche Welle. “Quero que a primeira-ministra reconheça que, quando cometer um erro, a responsabilidade é dela”, acrescentou o líder do principal partido da oposição.

O pedido de emissão de Elleman-Jensen foi subscrito por outros partidos da oposição, inclusive pelo Partido Popular Dinamarquês, de extrema-direita.

Frederiksen, contudo, mantém-se firme no cargo e apesar de reconhecer que a ordem de abater entre 15 a 17 milhões de visons há duas semanas não teve base legal, defende a sua decisão, sublinhando que foi tomada com base nas recomendações das autoridades de saúde.

Entretanto, as autoridades dinamarquesas afirmaram que a mutação do vírus está “muito provavelmente” extinta.

Na Dinamarca, existem mais de mil quintas de criadores de visons, um animal muito procurado sobretudo devido à sua pele, utilizada para fazer casacos. Esta indústria emprega mais de seis mil pessoas e representa cerca de 800 milhões de euros anuais em exportações.

Os visons têm demonstrado enorme susceptibilidade à infecção pelo coronavírus, um problema agravado pelo facto de serem criados em grande número e em espaços fechados, facilitando o contágio.

A Dinamarca não é o único país que mandou abater visons nos últimos meses. Em Julho, a região de Aragão, em Espanha, ordenou a erradicação de mais de 100 mil visons e, semanas depois, os Países Baixos - que proibiram a criação destes animais para a indústria de peles - fizeram o mesmo, abatendo mais de dez mil visons.