Ventura vive do esgoto do sistema

Ventura decidiu transformar a sua candidatura a PR numa rampa de lançamento para obter maior apoio no eleitorado de direita, usando o arsenal do populismo de extrema direita. O seu método habitual é o da trafulhice e da rasteirice – dizer hoje algo que amanhã é desmentido. O pior que o sistema tem.

André Ventura é candidato a Presidente da República e licenciado em Direito. Conhece as competências do PR definidas nos artigos 133 e 134 da CRP, mesmo sendo totalmente contra a Constituição. É a que existe e a que o PR jura cumprir e fazer cumprir.

O PR é o Presidente de todos os portugueses, seja qual for a sua etnia, e a todos tem o dever de defender e de representar. André Ventura sabe que são portugueses todos os que têm a nacionalidade portuguesa, cujos requisitos constam da lei da nacionalidade.

É uma rasteirice servir-se do sistema para fazer de conta que a candidatura a PR é para deputado e eventualmente para governar.

Ventura sabe perfeitamente que a sua proposta desumana de castração química dos pedófilos é totalmente inviável e que no país, na Europa e no mundo civilizado não seria aceite. Ele sabe que assim é. Mas joga com os sentimentos mais primários dos seres humanos, com a parte mais obscura que existe na Humanidade, a que está disponível para assistir ao esturricamento na cadeira elétrica e a comentar o cheiro a carne assada.

Ventura sabe que ao dar aquele passo atrai para ele essa “multidão” e vai instigá-la a salivar esse primarismo mais retrógrado.

Quando, no Congresso do Chega, surgiram propostas para retirar os ovários às mulheres que abortem, a finalidade é a mesma – fazer a Humanidade regressar ao tempo da queima das bruxas, bem sabendo André Ventura que tal proposta visa espaço mediático e que o mundo atual vai noutro sentido. Trump enjaulou crianças vindas da América Central, mas vai ter de fazer a mala.

Ventura decidiu transformar a sua candidatura a PR numa rampa de lançamento para obter maior apoio no eleitorado de direita, usando o arsenal do populismo de extrema direita. O seu método habitual é o da trafulhice e da rasteirice – dizer hoje algo que amanhã é desmentido. O pior que o sistema tem; jamais faria acordos com os partidos do sistema… Veja-se o que fez nos Açores, graças a Rui Rio.

Ventura sabe e tem consciência perfeita que Ana Gomes é uma candidata saída do PS. Sabe que tem um passado e uma vida de que se pode orgulhar. Mente, portanto, quando afirma que é a candidata da etnia cigana. Sabe que os ciganos são seres humanos e como todos os seres humanos têm a dignidade de todas as pessoas. É um mau cristão.

Ventura sabe que Marisa Matias é eurodeputada e dirigente do BE, tendo obtido uma excelente votação há cinco anos. Ventura mente com todos os dentes que tem quando afirma que Marisa Matias é a candidatura marijuana. Não sabe debater. Engana. Simula. Não joga leal.

Ventura atira-se aos outros. Insulta. As ideias que anuncia (duas ou três) são sanguinárias. Ventura sabe que o seu mestre – Oliveira Salazar – não introduziu no Código Penal a pena de prisão perpétua. E sabe que os países com penas mais duras como a pena de morte são os que têm mais altas taxas de criminalidade. Nem o sabre da degola saudita às sextas impede o crime. A Espanha tem prisão perpétua, mas Portugal não tem nacionalidades.

Ventura sabe que não há sistema judicial no mundo que não tenha decisões abstrusas. Todos têm. Ventura elogia os juízes, mas não os respeitando e lançando os mais abjetos anátemas, como no caso de Paulo Pedroso. Pega na justiça, como na restauração, como na corrupção, como na vergonha (sem a ter), porque na verdade ele é como os cucos, aproveita os ninhos dos descontentamentos para lá pôr os ovos. Ventura, se tivesse um bocado de um pingo de vergonha, dava conta que tudo o que diz nada tem a ver com o que faz e que os outros têm olhos e ouvidos. Procura a bomba propagandística e lança-a à procura dos incautos ou dos parecidos com ele e o Chega. Representa o pior que há no sistema, vive do seu esgoto. Suja quem o acompanha.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

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