José Manuel Bolieiro, líder do PSD-A, indigitado como presidente do Governo dos Açores

Frente de direita, com PSD, CDS, PPM, Chega e IL leva Bolieiro à presidência do Governo. “Abre-se desta forma uma nova fase da vida política dos Açores, como novos protagonistas”, afirmou o Representante da República.

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LUSA/ANTONIO ARAUJO

Eis que, 24 anos depois, os Açores vão voltar a ser governados pelo PSD. O Representante da República para os Açores, Pedro Catarino, decidiu indigitar José Manuel Bolieiro, líder do PSD-Açores, como novo presidente do governo regional. Apesar dos socialistas terem tido mais votos nas regionais de 25 de Outubro, Catarino frisou que os sociais-democratas apresentaram uma solução governativa, composta por CDS, PPM, Chega e IL, enquanto o PS “não apresentou nenhuma coligação” de governo. Bolieiro, que chegou à liderança do PSD-Açores há menos de um ano, vai substituir Vasco Cordeiro na liderança do executivo regional.

“Abre-se desta forma uma nova fase da vida política dos Açores, como novos protagonistas”, afirmou o Representante da República, realçando que os próximos anos terão de ser de “grande compromisso político” entre os partidos. “Uma solução governativa que, não obstante das garantias de estabilidade que apresenta, exige diálogo permanente entre todos os partidos políticos e um grande espírito de compromisso”, afirmou.

É o final do imbróglio político açoriano que resultou últimas eleições e que fez nascer no arquipélago uma parceria inédita entre o PSD, CDS, PPM, a IL e Chega. Há um mês, dificilmente alguém imaginaria num cenário pós-eleitoral que não contemplasse Vasco Cordeiro na presidência do governo dos Açores. Mas, em política, um mês é muito e numa reviravolta política surpreendente o PSD conquista o poder nos Açores, terminando com 24 anos de governação socialista. Destes 24 anos, 20 dos foram em maioria absoluta: entre 1996 a 2012 liderou Carlos César, sucedido por Vasco Cordeiro de 2012 a 2020. Cordeiro foi, assim, ultrapassado pela direita e falhou aquele que seria o terceiro e ultimo mandato na presidência do governo.

Antes de anunciar a decisão, Pedro Catarino não deixou, também, de realçar que o RR tem funções de “avaliar objectivamente as perspectivas de estabilidade” e que “não lhe cabe promover acordos entre partidos políticos” ou procurar “soluções governativas particulares”.

Depois, para justificar a posição que viria a anunciar, Pedro Catarino destacou que o PS, “não obstante de ter obtido nestas eleições o maior número de votos”, “não apresentou nenhuma coligação de governo” e “não selou” acordos com outros partidos para “alargar a sua base apoio”. “Em contrapartida”, disse o embaixador, o PSD formou com o CDS e o PPM uma “coligação de governo assente para os quatro anos da legislatura”, o que, só por si, assegura o “apoio permanente” de 26 deputados, mais um do que a bancada socialista, mas a três de maioria no parlamento.

O RR salientou que a coligação de direita, que reedita a Aliança Democrática de Sá Carneiro, obteve da IL e do Chega o “compromisso escrito de um apoio parlamentar estável para o período da legislatura”, um acordo escrito que Catarino disse ter em sua posse. “Tendo em conta que os deputados dos três partidos que integram a coligação e dos dois partidos que a apoiam ocupam 29 dos 27 lugares do parlamento açoriano, perfazendo, assim, a maioria absoluta, decidi indigitar o doutor José Manuel Bolieiro como presidente do próximo governo regional”, declarou. Ficou assim aberto um novo capítulo da política açoriana.

Socialistas reagem domingo

A decisão de Pedro Catarino surgiu minutos após ter recebido o presidente do PS-Açores, Vasco Cordeiro. No final da audiência e antes do anúncio do RR, o homem que governou a região desde 2012, foi parco nas palavras e reiterou que o PS venceu as últimas eleições. “O PS venceu em sete da nove ilhas, em 12 dos 19 concelhos, em 101 das 156 freguesias da nossa região, teve mais votos que qualquer um dos outros partidos que se apresentou”, disse. Contudo, desta vez, ao contrário da noite eleitoral, Vasco Cordeiro fez questão de assinalar que os socialistas aprenderam com a perda da maioria absoluta.

“Para nós tem uma leitura muito clara quanto aquilo que o eleitorado nos disse: é preciso fazer as coisas de maneira diferente, os senhores precisam de fazer um esforço acrescido de consensualizar soluções, precisam de fazer um esforço acrescido em termos de diálogo com outros partidos políticos”, afirmou Cordeiro, acrescentando que o PS “percebeu esta mensagem do povo açoriano”.

Esta foi a primeira vez que o presidente do PS-Açores falou desde a noite eleitoral. Ao longo das últimas semanas, a estrutura socialista reiterou consecutivamente aos jornalistas que o “PS falará no momento certo”. Além das breves declarações, o líder dos socialistas açorianos prometeu uma comunicação para o próximo domingo, em reacção à decisão do RR. Saber como será o futuro de Vasco Cordeiro – irá ele assumir as funções de deputado? – é também uma das incógnitas dos próximos tempos da política regional.

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