Kamala Harris inspira mulheres na aldeia do seu avô na Índia

Candidata democrata a vice-presidente tornou-se num modelo para as estudantes na aldeia indiana.

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Podem estar a mais de 12 mil quilómetros de Washington D.C., mas na aldeia indiana de que é natural o avô de Kamala Harris, candidata a vice-presidente nos Estados Unidos, as mulheres continuam a torcer pela “senhora americana” que ainda pode vencer as eleições presidenciais a par com Joe Biden.

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Podem estar a mais de 12 mil quilómetros de Washington D.C., mas na aldeia indiana de que é natural o avô de Kamala Harris, candidata a vice-presidente nos Estados Unidos, as mulheres continuam a torcer pela “senhora americana” que ainda pode vencer as eleições presidenciais a par com Joe Biden.

No templo da aldeia de Thulasendrapuram levaram-se a cabo preces especiais para apelar a uma vitória democrata no sufrágio desta terça-feira. Aos 34 anos, M. Umadevi, eleita presidente do conselho de governo da aldeia em Dezembro passado, diz sentir uma relação com Harris enquanto mulher também envolvida na política.

“Ela é uma filha da nossa aldeia”, defende Umadevi, citada pela Reuters, que tem um filho de cinco anos e é costureira, de modo a acrescentar algum dinheiro aos rendimentos obtidos pelo marido, motorista de profissão. “Este processo deve ter sido difícil e um desafio para ela. Mas tudo o que é novo é assim. Eu também me sinto tanto entusiasmada como nervosa acerca do meu novo papel”, acrescenta.

Foi na aldeia, localizada a cerca de 320 quilómetros a sul da cidade de Chennai, no estado de Tamil Nadu, que nasceu o avô materno de Harris há mais de um século.

A candidata ao cargo de vice-presidente nasceu na Califórnia, filha de uma indiana e de um jamaicano que emigraram para os EUA para estudarem. Harris visitou Thulasendrapuram quando tinha cinco anos e já falou publicamente sobre as suas recordações de passear com o avô nas praias de Chennai.

A antiga procuradora-geral da Califórnia, aos 55 anos, é a primeira mulher negra e a primeira pessoa com ascendência indiana a ser nomeada para um cargo no governo por um dos principais partidos. É, inclusive, apenas a quarta mulher a constar num boletim de voto presidencial.

Para Umadevi, a principal prioridade enquanto membro do conselho que governa a aldeia, representando cerca de 200 famílias que trabalham sobretudo na agricultura, é a construção de uma estrada pavimentada. “A primeira coisa na minha lista é ter a certeza que temos uma estrada a sério”, declara, já que a actual “está em terrível estado e mal se pode considerar aquilo uma estrada”. “Uma boa estada de certeza que trará mais sucesso”, justifica.

Um exemplo vindo de outro continente

Ao contrário de Harris, que é licenciada em Direito, Umadevi desistiu da escola aos 15 anos por decisão da mãe. Na Índia, cerca de 60% das raparigas frequentam a escola, mas há estados com médias acima dos 90%, de acordo com os últimos censos do país. No distrito de Thiruvarur, onde está localizado Thulasendrapuram, o nível de literacia supera os 82%, com os responsáveis pela educação a indicarem que todas as raparigas estão inscritas nas escolas.

Umadevi considera que a educação será uma peça fundamental para construir uma geração futura de mulheres capazes de concretizar grandes feitos como Harris, cujas fotografias estão espalhadas por toda a aldeia com desejos de sucesso para a eleição.

“Hoje em dia, todas as nossas meninas estudam, mesmo que isso signifique ter de ir para uma escola secundária a vários quilómetros de casa”, confirma Umadevi. “A universidade também é longe, mas há muitas que ainda assim vão e conseguem os seus cursos”, adiantou, mas acrescenta que os jovens da região ainda têm dificuldade em encontrar empregos com bons salários.

Numa escola secundária na aldeia vizinha de Painganadu, o professor de inglês S. Tamilselvan tem seguido de perto os discursos de campanha de Harris e planeia usá-los para motivar os seus alunos. “Ela é tão articulada e clara”, argumenta.

“Os meus estudantes conhecem-na, mas eu quero que pelo menos alguns deles sejam tão bem-sucedidos quanto ela. Muitos dos meus estudantes fazem parte da primeira geração das suas famílias que vêm à escola e mesmo os mais capazes têm dificuldades em definir as suas ambições”, confessa o professor.

Hemalatha Raja também é membro do conselho governativo de Thulasendrapuram. Tal como Umadevi, descreve-se como uma dona de casa que foi eleita para um mandato de cinco anos, sendo que um terço dos lugares está reservado a mulheres.

Apesar da falta de qualificações ou formação, ambas as mulheres partilham da paixão pela justiça social característica de Harris.

“Eu quero resolver todos os problemas com que me chegam as pessoas da minha vizinhança”, explica Raja, de 36 anos, que deixou a escola aos 13 porque os pais não a autorizavam a sair da aldeia para ir às aulas na escola secundária.

“Eu não sei se consigo resolver os problemas, mas quero tentar. E toda esta conversa de como alguém com raízes na nossa terra está a concretizar grandes planos nos Estados Unidos também me encoraja a esforçar-me um pouco mais”, revela.