As aventuras de Nala, a gatinha viajante que dá a volta ao mundo, deram um livro

Dean Nicholson resgatou uma gata “pequenina e maltratada” na Bósnia pouco depois de arrancar numa viagem pelo mundo em bicicleta. A dupla virou um sucesso nas redes sociais e já há livro de aventuras.

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“Um gatinho escanzelado, cinzento e branco, corria desenfreado pela estrada, tentando desesperadamente acompanhar-me.” Dean Nicholson, hoje com 32 anos, tinha saído há três meses de Dunbar, uma pequena cidade escocesa à beira-mar, para uma longa viagem pelo mundo em bicicleta. Estava na Bósnia-Herzegovina, descreve no livro, quando uma “coisa pequenina e maltratada”, que ainda “encaixava perfeitamente” na palma da mão, fê-lo parar. E a viagem nunca mais seria a mesma.

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“Um gatinho escanzelado, cinzento e branco, corria desenfreado pela estrada, tentando desesperadamente acompanhar-me.” Dean Nicholson, hoje com 32 anos, tinha saído há três meses de Dunbar, uma pequena cidade escocesa à beira-mar, para uma longa viagem pelo mundo em bicicleta. Estava na Bósnia-Herzegovina, descreve no livro, quando uma “coisa pequenina e maltratada”, que ainda “encaixava perfeitamente” na palma da mão, fê-lo parar. E a viagem nunca mais seria a mesma.

Quase dois anos depois, sentado num carro algures nos arredores de Viena, enquanto a chuva corre lá fora e a pandemia ameaça novo confinamento, Dean confessa à Fugas que “nunca esperou” que a pequena gata, a quem chamou Nala, inspirado na personagem do Rei Leão, “ainda estivesse na viagem”. Mas quem esperaria que uma gata encontrada na rua se deixasse ficar numa bicicleta em andamento, ora na bolsa do guiador, ora no ombro do próprio Dean? “Ela simplesmente adorou”, recorda.

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Naquele mesmo dia, escondeu-a entre os alforges para cruzar a fronteira rumo ao Montenegro e levou-a a um veterinário. Quando lhe disseram que a gata não tinha microchip, sendo impossível rastrear um possível dono, Dean já se tinha apaixonado e tomado uma decisão: ia fazer-lhe um passaporte para animais de estimação e levá-la na viagem.

Depressa Nala se tornou uma sensação, atraindo atenções nos locais por onde passavam e nas redes sociais onde Dean ia relatando as aventuras da viagem (@1bike1world). Quando a história da dupla improvável chegou ao Dodo, um conhecido site de vídeos virais relacionados com animais, Dean percebeu que Nala “ia mudar-lhe a vida”. “Quando fui para a cama, tinha cerca de 2 mil seguidores no Instagram. Quando acordei, tinha cerca de 130 mil”, recorda, enquanto Nala vem cumprimentar-nos ao ecrã do telemóvel. Actualmente, contam com 855 mil seguidores no Instagram, mais 162 mil no Youtube e outros 46 mil no Facebook.

“As pessoas adoram gatos, e claro que é um mercado tão grande também, e não se vêem muitos gatos sentados no ombro de alguém a viajar de bicicleta pelo mundo, por isso consigo perceber porque explodiu [nas redes sociais]”, admite Dean, embora confesse que “nunca tinha esperado” que tal fosse acontecer.

Do sucesso na Internet surgiu a proposta para escrever um livro, ainda Dean e Nala estavam em Santorini, onde o escocês esteve a trabalhar durante três meses como guia numa empresa de passeios de caiaque. “Era uma oportunidade demasiado grande para recusar.” No final de Setembro, A Viagem de Nala chegou às bancas nacionais, através da Porto Editora, acompanhando o lançamento mundial.

Ao longo de quase 300 páginas, Dean vai relatando em pormenor toda a viagem, desde a Bósnia-Herzegovina à Hungria, onde acabaram por ficar retidos devido à pandemia de covid-19 na Primavera. Entretanto, com o reabrir das fronteiras, voltaram à estrada, atravessaram parte da Europa central, regressaram à Escócia e actualmente estão de novo na Áustria, onde Dean passou as últimas semanas a recuperar de uma lesão no tornozelo.

À medida que uma segunda vaga de covid-19 vai impondo novas restrições um pouco por toda a Europa, a viagem entra num novo impasse. Regressam à Escócia enquanto o mundo fica de novo em suspenso ou aproveitam para viajar pela Áustria nos próximos tempos, de bicicleta ou de caravana, por causa do mau tempo? As condições meteorológicas, conta o escocês, têm sido a pior parte da viagem. Pelo menos para Dean, porque Nala tem agora um cesto à prova de água, um chapéu-de-chuva, mantas quentes, uma taça de água e brinquedos na sua “casota” sobre rodas. “Se ficarmos aqui durante o Inverno também, acho que vamos esquiar. É só arranjar uns esquis para a Nala”, ri-se Dean. “Tem um bom equilíbrio em cima de mim, por isso é capaz de ser muito boa no esqui.”

Com o sucesso – “Nala é que é famosa, eu sou só o chauffer. É esse o meu trabalho: sou o guarda-costas de uma gata a viajar pelo mundo” – Dean tem aproveitado para dar voz, e angariar fundos, para diferentes causas, como o abandono de animais, a crise dos refugiados, a poluição causada pelo plástico, ou a desflorestação. “A Nala abriu imensas portas e agora temos esta plataforma para tentar fazer o bem e [contribuir para] uma mudança no mundo.”

É nesse âmbito que, diz, “haverá, definitivamente, outro livro”. “Gostava de fazer livros infantis que destacassem os problemas do mundo.” Uma colecção de “aventuras da Nala”, em que a gata contaria histórias às crianças sobre a poluição, os animais abandonados ou os refugiados, de uma forma educativa e “divertida”. “Acho que, se ensinarmos a geração mais jovem, estas questões podem ficar retidas, mesmo subconscientemente, e fazer diferença no futuro.”

Entretanto, Nala transformou-se “numa gata absolutamente linda”, com uma “personalidade incrível”. É “muito amorosa, leal e brincalhona”, descreve Dean, de cabeça inclinada para dar espaço a Nala que, entretanto, regressou ao seu canto favorito. “Está a ficar grande demais. Começo a ficar com torcicolos”, ri-se.

Desde que começaram esta aventura, Nala já atravessou 21 países (Dean fez mais quatro) e um dos objectivos passa agora por “tentar bater o recorde” do felino mais viajado do mundo – o detentor actual do galardão cruzou 26 países. Isto quando a pandemia abrandar e o planeta retomar alguma normalidade. Dean e Nala não têm pressa.

“Quando for possível, gostava de atravessar a Rússia, fazer o Japão e descer até à Tailândia e Vietname. A seguir, ir para a Nova Zelândia e Austrália. E, depois disso, atravessar para o Canadá, Estados Unidos da América...” Os planos de viagem estendem-se agora a “cinco ou dez anos”. “Desde que a Nala esteja feliz, vou continuar a viajar. Mas no segundo em que perceber que ela já não está feliz em cima da bicicleta, paro de bom grado por ela.”