Viciados na perfídia

O traidor espera sempre ser perdoado. Quem não o perdoa torna-se indigno. Para o traidor, a pessoa traída tem a obrigação de perdoar.

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Grame Worsfold/Unsplash

O traidor raramente se considera vil. E por vezes desconhece que é incorrigível. Acumula traições como moedas no bolso das calças, tem prazer em ir somando as suas conquistas. Arranja sempre um motivo para justificar a sua perfídia, a sua falta de carácter. É uma espécie de sonso mas, em vez de usar bisnaga, é especialista no manejo de facas, que usa, quando menos se espera, em quem jura amar. Sim, porque a traição tem de ser à sorrelfa, pelas costas, inesperada.

O traidor não percebe nada do amor. Acha que se pode trair e amar em simultâneo. Não entende que o fundamental no amor é cuidar e respeitar. Está-se nas tintas. É viciado na perfídia. Faz o que lhe apetece, convencendo-se de que pode fazer uma e outra coisa. E há o perdão, claro. O traidor espera sempre ser perdoado. Quem não o perdoa torna-se indigno. Para o traidor, a pessoa traída tem a obrigação de perdoar. Afinal, o traidor considera-se o centro do mundo, é-lhe impensável que a pessoa amada não o perdoe. No seu ego insuflado, quem não perdoa a traição é porque não ama. Vira o jogo ao contrário, quer fazer crer que quem não perdoa é que não sabe amar.

Não sabe o que significa um compromisso, por isso, quando é apanhado a quebrar deslealmente a fé prometida, o traidor faz-se de vítima. Chora muito, dorme dentro do carro ou à porta de casa, e exige do outro a boa-fé que o próprio não teve. Exige ser perdoado.

O traidor com quem se tem o desprazer de partilhar parte da vida é viciado em mulheres. Tem um problema grave. Não resiste às fêmeas, como um animal irracional (sem desprimor para os ditos bichos). Esta besta inventou até um significado fora do dicionário para a palavra mulher. Para este tipo de machista, uma mulher é uma vagina (como uma ilha) rodeada, por todos os lados, de uma pessoa do género feminino. No entender deste animal, as mulheres são uma espécie de estância de férias onde se vai para comer, beber e ajavardar.

Há o traidor fisicamente atraente e os outros, que têm tal ar que não sabemos como se conseguem orientar nessas conquistas às escondidas. Quase todos juram fidelidade e amor eterno às mulheres com quem partilham a vida, e nas horas vagas vão afiando cutelos, como talhantes, prontíssimos a tirar lombos às fêmeas que conseguem enganar.

O traidor é a espécie mais perigosa de ser humano, e também existe o modelo no género feminino, bem como fora do contexto amoroso, claro. Traidores de todos os feitios e para todas a circunstâncias. Seja como for, o pérfido é sempre um paradigma a evitar e desprezar.

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