Com a pandemia a crescer, a Europa volta a cancelar a cultura

Vários países ampliaram já as restrições ao funcionamento dos seus equipamentos culturais, tentando conter o aumento dos contágios. Macron anunciou esta quarta-feira à noite um novo confinamento. Alemanha fecha salas de espectáculos.

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Perante a segunda vaga da pandemia, muitos países europeus estão a repetir as estratégias preventivas adoptadas em Março e a reduzir drasticamente a sua actividade cultural. Em Itália, que na terça-feira registou um novo recorde de casos diários (21.994 infecções e 221 mortes), cinemas e teatros — assim como ginásios e piscinas — estão fechados até ao dia 24 de Novembro, segundo restrições anunciadas pelo primeiro-ministro, Giuseppe Conte, no último fim-de-semana. Alguns museus continuam abertos, mas têm tido um número muito reduzido de visitantes, em parte devido à ausência de turistas no território.

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Perante a segunda vaga da pandemia, muitos países europeus estão a repetir as estratégias preventivas adoptadas em Março e a reduzir drasticamente a sua actividade cultural. Em Itália, que na terça-feira registou um novo recorde de casos diários (21.994 infecções e 221 mortes), cinemas e teatros — assim como ginásios e piscinas — estão fechados até ao dia 24 de Novembro, segundo restrições anunciadas pelo primeiro-ministro, Giuseppe Conte, no último fim-de-semana. Alguns museus continuam abertos, mas têm tido um número muito reduzido de visitantes, em parte devido à ausência de turistas no território.

O Governo espanhol, que no domingo decretou um novo estado de emergência, não cancelou os espectáculos por completo, mas o recolher obrigatório entre as 23h e as 6h imposto por Pedro Sánchez — sendo que as diferentes regiões do país podem adiantar ou atrasar uma hora essa restrição de mobilidade — tem obrigado os equipamentos artísticos a alguns ajustes. Na Catalunha, que fixou o seu recolher obrigatório nas 22h, os estabelecimentos culturais podem permanecer abertos até essa hora e os espectadores não podem chegar a casa depois das 23h.

Em Bruxelas, as actividades culturais estão proibidas até 19 de Novembro. A medida foi anunciada na segunda-feira pelo ministro presidente Rudi Vervoort — que também ordenou o encerramento de lojas às 20h e decretou um recolher obrigatório às 22h —, depois de a região da Valónia encerrar os seus teatros e óperas. Neste momento, a Bélgica é o país da Europa com mais casos de covid-19 por 100 mil habitantes, totalizando já quase 334 mil infecções desde o início da pandemia. 

Na Suíça, em Valais e Berna, os espaços culturais estão fechados desde o dia 22 de Outubro. A organização Swiss Film Producers’ Association, citada pelo jornal francês Le Figaro e pela agência France-Presse, contestou este encerramento, argumentando que “nenhum caso de infecção foi identificado nas salas de cinema” das duas regiões desde o desconfinamento.

O Grande Teatro de Genebra apresentou esta segunda-feira uma edição especial da ópera checa L’Affaire Makropoulos: os cantores subiram ao palco, mas, para não dificultar as dinâmicas do distanciamento social, a orquestra teve de gravar previamente a sua actuação. A Orquestra de Câmara de Lausanne, por outro lado, cancelou as suas apresentações até quinta-feira depois de alguns dos seus músicos acusarem testes positivos à covid-19.

O Conselho Federal Suíço anunciou na tarde desta quarta-feira novas restrições associadas à pandemia, que obrigam ao uso de máscara em todos os espaços públicos fechados, restringem a lotação dos espaços e proíbem algumas actividades culturais não profissionais  os coros amadores, por exemplo, não poderão ensaiar —, mas sem avançar por enquanto para o encerramento das salas de espectáculos. Os diferentes cantões terão contudo liberdade para impor medidas mais restritivas. 

Novo confinamento em França

Na Alemanha, que regista um crescimento alarmante dos números da pandemia (foram registadas 14.964 infecções nas últimas 24 horas), a chanceler Angela Merkel reuniu-se esta quarta-feira com os líderes dos 16 estados-federados, que acordaram um conjunto de novas medidas para todo o país. Estas incluem o encerramento, a partir do dia 2 de Novembro e até ao final do mês, de teatros, óperas, salas de concerto, cinemas e todos os outros espaços que recebam público. 

Em França, que, com 1,23 milhões de infectados desde o início da pandemia, é neste momento o país europeu (se não contarmos com a Rússia) com o maior número de casos, o Presidente Emmanuel Macron dirigiu-se esta quarta-feira ao país, através da televisão, para anunciar um novo confinamento geral, que entrará em vigor já esta sexta-feira e que apenas exceptuará as creches e as escolas primárias e secundárias. Todos os equipamentos culturais encerrarão, em princípio, pelo menos até 1 de Dezembro, embora esteja prevista uma avaliação da situação em meados de Novembro.

No Reino Unido, onde, desde o fim do mês passado, bares e restaurantes têm tido de fechar às 22h, sessões de cinema e apresentações de teatro não podem ser marcadas para depois dessa hora. Eventos culturais que comecem antes das 22h podem, no entanto, acabar mais tarde. Nestes eventos, não podem estar reunidos grupos de mais do que seis indivíduos. Boris Johnson admitiu no início de Setembro que as actuais regras são “confusas”, mas prometeu “simplificar e fortalecer” as precauções a curto prazo.

Na segunda-feira, depois de Giuseppe Conte decretar o encerramento temporário das salas de cinema italianas, realizadores e associações culturais desse país enviaram uma carta aberta a alguns membros da sua administração, na qual manifestaram a sua insatisfação com esta medida. “Num momento em que trabalhamos com dificuldade para se conseguir uma recuperação, obrigar os cinemas a cessarem a sua actividade novamente pode comprometer gravemente o futuro de todo o sector”, escreveram os autores. Nanni Moretti é um dos signatários.