Resistência Galega encontrou a sua casa discreta bem no centro de Coimbra

Grupo terá utilizado garagem numa zona residencial da cidade durante cinco anos. Moradores do prédio desconheciam.

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Material apreendido pela PJ na casa de Coimbra DR

No miolo do quarteirão que fica imediatamente em frente ao Comando Territorial de Coimbra da GNR, do outro lado da Avenida Dias da Silva, está instalada uma casa cinzenta de dois pisos de habitação e uma base de garagens. Com as paredes de um cinzento desgastado e estores corridos, foi neste edifício que hoje parece desabitado, bem no centro de Coimbra, numa zona residencial, que a Polícia Judiciária (PJ) encontrou um esconderijo do grupo Resistência Galega. Quem ali mora ou morou, não se recorda de quaisquer movimentações suspeitas.

Foi numas das garagens, que estava convertida em habitação, que a Judiciária detectou uma “casa de recuo” do grupo. Ali, além dos 30 quilos de pólvora, foram também encontrados vários utensílios – como relógios, temporizadores e telemóveis – que serviriam para fabricar engenhos explosivos que o grupo faria detonar em Espanha. A operação da PJ foi levada a cabo em Novembro de 2019, em colaboração com a Guarda Civil espanhola mas só agora foi tornada pública.

O director da Polícia Judiciária do Centro, Jorge Leitão, estima que a base de Coimbra tenha sido utilizada desde meados de 2014, sendo que os cabecilhas da Resistência Galega estão detidos em Espanha desde Junho de 2019. “Haveria sempre o risco de alguém da organização criminosa, do grupo terrorista, eventualmente poder deslocar-se àquele espaço, aceder ao seu interior e poder levar e utilizar, em eventuais atentados futuros aquele material”, explicou Jorge Leitão, em conferência de imprensa.

Apesar da importância da apreensão do material, quem quer que tenha frequentado o esconderijo não levantou suspeitas entre vizinhos e antigos habitantes do edifício. Um morador de um prédio contíguo conta ao PÚBLICO que tudo o que se recorda de ver naquele edifício foi movimentação do que presume serem estudantes, que organizavam jantares e convívios nos pisos superiores da casa, não muito preocupados com a discrição. O vizinho não tem vista directa para as garagens, que são na face oposta do edifício.

O PÚBLICO falou também com dois antigos habitantes do prédio. Um deles, que morou ali entre 2015 e o início deste ano, confirma que se tratava de um apartamento arrendado por estudantes. “Nunca vi ninguém suspeito”, conta. Não se apercebeu de movimentações estranhas nem ouviu nenhum comentário de qualquer dos antigos colegas da casa que tem um acesso pedonal pela rua João Pinto Ribeiro. Também não se apercebeu da operação policial em 2019.

Para chegar de carro à parte de trás da casa é preciso ir por uma perpendicular à Pinto Ribeiro. Na rua Pinheiro Chagas, que passa pelas traseiras da Escola Secundária José Falcão, desenha-se um caminho empedrado, entre os ciprestes de uma moradia recente e um prédio estilo português suave, apenas largo o suficiente para caber um automóvel. Junto da casa há um logradouro, usualmente utilizado como estacionamento de vizinhos, recorda outro antigo morador, que se mostra incrédulo com a localização do esconderijo do grupo galego.

A operação só foi publicitada um ano depois porque “era importante descortinar” se havia, em território nacional, ligação de outros elementos à Resistência Galega, referiu Jorge Leitão. “O que a investigação apurou foi no sentido negativo”, acrescentou.

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