Modernizar hoje para um amanhã sustentável

Os desafios para a agricultura em Portugal são diversos e complexos. Ainda assim, não são maiores do que as oportunidades de negócio e de crescimento de um setor que nunca deixou de ser crucial para a nossa economia.

Cada vez mais se reconhece a importância da agricultura e da produção nacional. Aos dias de hoje esta é, inclusivamente, uma atividade que desperta interesse em várias gerações, com os jovens a darem um contributo cada vez mais qualificado para o desenvolvimento do setor.  No entanto, há desafios a que Portugal, como reflexo da realidade que se vive na União Europeia (EU), tem necessariamente de conseguir responder.

A Comissão Europeia aponta para que apenas 11% das explorações agrícolas da UE sejam geridas por agricultores com menos de 40 anos. Além da necessidade de financiamento e do acesso à terra, outra das dificuldades apontadas pelos jovens agricultores prende-se em encontrar mão-de-obra qualificada.

Longe vão os tempos em que o know-how adquirido e maturado ao longo dos anos era a única tecnologia ao serviço da agricultura. Hoje, não restam dúvidas de que o conhecimento e a qualificação são requisitos fundamentais para a necessária modernização do setor da agricultura. A transformação digital é um processo sem retorno e incontornável. Só assim será possível responder às necessidades de consumo da população e perseguir o objetivo de tornar as produções agrícolas mais sustentáveis e preparadas para as alterações climáticas, elevando o controlo de qualidade dos produtos agrícolas.

À semelhança do que tem vindo a acontecer noutros setores da sociedade, também na agricultura temos assistido a algumas transformações, sobretudo no período pós-troika, em que surgiram bons exemplos de empreendedorismo neste setor, através de uma geração que viu na agricultura uma oportunidade de futuro, trazendo a inovação e o pensamento estratégico, aliados ao conhecimento científico e às novas tecnologias.

Os desafios para a agricultura em Portugal são diversos e complexos. Ainda assim, não são maiores do que as oportunidades de negócio e de crescimento de um setor que nunca deixou de ser crucial para a nossa economia. Nos territórios maioritariamente rurais, a importância desta atividade é ainda maior. É o caso de Torres Vedras, com mais de 400 quilómetros quadrados onde, em 2018, se encontravam 1669 empresas da área da agricultura, produção animal, caça, floresta e pesca, com um volume de negócios de cerca de 183 milhões de euros.

E importa sublinhar que o facto de se tratar de territórios vincadamente rurais, como é o caso, não impede as pessoas e as empresas de apostar na modernização. Para isso, os apoios das autarquias revelam-se de extrema importância, não só pelos incentivos financeiros que advêm de programas do Estado, mas também através da criação de hubs empreendedores vocacionados para projetos no setor agrícola.

Proporcionar um ambiente protegido, onde se promova a interação e a partilha de conhecimento e de sinergias entre o tecido empresarial, os empreendedores/agricultores e as universidades, ajuda a escalar serviços ou soluções para potenciar a produtividade e competitividade das explorações agrícolas. É esse um dos objetivos da Associação Smart Farm Colab, que se assume como um aliado do processo de transição digital na agricultura.

A investigação é um dos pilares fundamentais desta associação, que se encontra instalada no concelho de Torres Vedras, num espaço do INIAV – Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária. É por isso que conta com uma equipa técnica multidisciplinar.

Por outro lado, a concertação de esforços multidisciplinares é importante tanto na escala micro como na escala macro, com a associação a trabalhar com universidades, centros de investigação e empresas do setor. Afinal, este é um dos projetos de investigação que beneficia do programa de apoios gerido pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT).

A missão da Smart Farm Colab​ passa por desenvolver soluções digitais inovadoras, tornando-se numa referência nacional e internacional para a digitalização deste setor. Um contributo que acredito que será fundamental para o desenvolvimento da agricultura e, como consequência, dos territórios rurais do nosso país.

Sabemos que ainda há muito a fazer neste caminho rumo à agricultura digital. Para que a aposta na tecnologia seja uma realidade, é preciso desenvolver ferramentas que sejam acessíveis e que correspondam às reais necessidades dos agricultores e da agricultura. É preciso investir no desenvolvimento técnico, da mesma forma que é imperioso investir na formação e no conhecimento.

E nunca é demais sublinhar que a modernização da agricultura é aliada da sustentabilidade. O que significa que este também é o caminho para métodos de produção mais sustentáveis, que permitirão dar uma resposta integrada ao Pacto Ecológico Europeu e à Estratégia “Do Prado ao Prato”, com o acesso da população a alimentos saudáveis, acessíveis e sustentáveis.

Nunca foi tão importante como hoje refletir sobre as consequências da produção intensiva e da exploração excessiva de recursos. Da mesma forma que, nunca como hoje, administração central, autarquias, empresas e população estiveram tão conscientes da importância de viver em territórios sustentáveis.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

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