Ministro colombiano pede desculpa pela brutalidade da polícia

Pelo menos 13 pessoas morreram e 400 ficaram feridas nos protestos dos últimos dias contra a morte de um homem em detenção, num caso que fez lembrar o de George Floyd, nos EUA.

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Sucedem-se as homenagens a Ordóñez, em Bogotá EPA/Mauricio Duenas Castañeda
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Protestos na capital colombiana EPA/Luis Eduardo Noriega A.
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Pichagem dos escudos da polícia antimotim Reuters/LUISA GONZALEZ
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Protesto contra a polícia colombiana Reuters/LUISA GONZALEZ
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Autocarros queimados em Bogotá LUSA/Mauricio Duenas Castaneda
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Polícia ameaçada e agredida com pedras LUSA/Carlos Ortega

Carlos Holmes Trujillo, ministro da Defesa da Colômbia, pediu perdão, em nome da polícia, pela morte de Javier Ordóñez, um advogado de 44 anos, que morreu na quarta-feira à noite depois de ter sido atacado com um taser e sufocado pela policia de Bogotá.

As imagens do assassínio de Ordóñez foram divulgadas nas redes sociais e desencadearam várias noites de protestos na capital em Soacha, que fizeram já 13 mortos e pelo menos 400 feridos.

“A polícia nacional pede desculpa por qualquer violação da lei ou ignorância dos regulamentos de membros da instituição”, disse o ministro, numa mensagem de vídeo.

O Presidente Ivan Duque prometeu também que todas as mortes seriam investigadas rapidamente e que não seriam tolerados abusos pelas forças de segurança.

Entre as vítimas está um jovem de 17 anos que acabou por falecer no hospital e uma mulher atropelada por um autocarro, além de uma pessoa cuja identidade não foi ainda apurada, segundo a câmara municipal de Bogotá, citada pela agência de notícias espanhola Efe.

Em pelo menos um dos casos, uma jovem de 18 anos que não participava nas manifestações foi atingida por uma bala perdida, um caso que indignou o país.

Duque disse que falou com algumas das famílias das pessoas que foram mortas. “Vamos trabalhar rapidamente, para que as circunstâncias em que os seus entes queridos morreram sejam clarificadas e tenham sentenças exemplares”, afirmou o Presidente colombiano, também na televisão.

O chefe de Estado visitou ainda agentes da polícia feridos – cerca de 200 sofreram algum tipo de ferimento. 

De acordo com a versão das autoridades, a polícia foi chamada após uma denúncia de uma rixa nas ruas de Bogotá, onde Ordóñez estaria na rua a beber bebidas alcoólicas com um grupo, o que é considerado ilegal, devido às restrições impostas pela pandemia de covid-19 que já fez 23 mil mortos na Colômbia.

Quando chegaram ao local, dois polícias abordaram Javier Ordóñez e atiraram-no ao chão, utilizando pelo menos dez choques eléctricos do taser para o imobilizar. Depois, pressionaram o advogado contra o chão, que gritou várias vezes que estava a sufocar e implorou para que os polícias parassem. “Estou a sufocar. Parem, por favor”, ouve-se no vídeo divulgado nas redes sociais, cujo conteúdo tem muitas semelhanças com o caso da morte do afro-americano George Floyd, em Mineápolis, Minnesota (EUA).

Contudo, os dois agentes continuaram, mesmo após testemunhas no local dizerem que estavam a gravar. Cerca de dois minutos depois, chegaram outros dois agentes e Ordóñez, pai de duas crianças, foi levado para a esquadra, onde terá sofrido mais abusos. O advogado seria levado em estado crítico para o hospital, onde morreu.

Dois agentes da polícia implicados na morte de Ordoñez foram despedidos e acusados de abuso de autoridade e homicídio. Outros cinco foram suspensos.

Os protestos, no entanto, têm continuado, embora de menor dimensão. “Não é segredo nenhum que que a polícia abusa dos poderes que tem”, disse à Reuters a estudante de psicologia Susana Marín, 24. “Sinto-me insegura, não me sinto protegida, nem orgulhosa da polícia nacional.”

A morte de Ordoñez renovou a desconfiança e fúria contra a polícia, que atingiu um ponto alto no ano passado, quando um manifestante adolescente, Dilan Cruz, foi morto por um projéctil da polícia de intervenção.

Alguns manifestantes atiraram pedras contra uma esquadra no centro de Bogotá. A polícia respondeu com gás lacrimogéneo, para forçá-los a debandar. Pelo menos 60 esquadras foram vandalizadas, bem como dezenas de veículos de transporte público. Foram detidas 140 pessoas por vandalismo, anunciou o Presidente.

Na sexta-feira, o alto representante da União Europeia para a Política Externa, Josep Borrell, pediu uma investigação à violência policial na Colômbia e a punição dos responsáveis, instando o país a adoptar “medidas institucionais” para evitar que se repitam casos como este.

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