“Estou a sufocar.” Assassínio de advogado reacende protestos contra violência policial na Colômbia

Javier Ordóñez morreu depois de ter recebido dez choques eléctricos e de ter sido sufocado por dois polícias. Noite de protestos contra a violência policial causou pelo menos oito mortos e mais de 100 feridos.

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Confrontos entre polícias e manifestantes em Bogotá LUISA GONZALEZ/Reuters
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Javier Ordóñez, um advogado de 44 anos, morreu na quarta-feira à noite depois de ter sido atacado com um taser e sufocado pela policia de Bogotá, na Colômbia, num incidente semelhante ao assassínio do afro-americano George Floyd, em Mineápolis, nos Estados Unidos, no passado mês de Maio.

As imagens do assassínio de Ordóñez foram divulgadas nas redes sociais e causaram indignação na Colômbia, relançando o debate sobre a violência policial no país e reacendendo os protestos, que ganharam projecção no final do ano passado, durante a contestação ao Presidente Iván Duque.

De acordo com a versão das autoridades, a polícia foi chamada após uma denúncia de uma rixa nas ruas de Bogotá, onde Ordóñez estaria na rua a beber bebidas alcoólicas com um grupo, o que é considerado ilegal devido às restrições impostas pela pandemia de covid-19. Quando chegaram ao local, dois polícias abordaram Javier Ordóñez e atiraram-no ao chão, utilizando pelo menos dez choques eléctricos para o imobilizar.

Depois, pressionaram o advogado contra o chão, que gritou várias vezes que estava a sufocar e implorou para que os polícias parassem. “Estou a sufocar. Parem, por favor”, ouve-se no vídeo. Contudo, os dois agentes continuaram, mesmo após testemunhas no local dizerem que estavam a gravar. Cerca de dois minutos depois, chegaram outros dois agentes e Ordóñez foi levado para a esquadra, onde terá sofrido mais abusos. O advogado seria levado em estado crítico para o hospital, onde morreu.

Durante a noite desta quinta-feira, centenas de pessoas saíram às ruas de Bogotá. Os protestos começaram no local onde Ordóñez foi assassinado e depois estenderam-se a vários pontos da capital. Houve confrontos entre manifestantes e polícias, que resultaram na morte de pelo menos oito pessoas e mais de 150 ficaram feridas, incluindo 55 civis e perto de 100 polícias, segundo o balanço do Governo citado pela Reuters. Há ainda registo de 70 detenções.

Dezenas de esquadras da polícia foram incendiadas, bem como veículos das autoridades, com protestos que fizeram recordar a vaga de contestação em Novembro do ano passado após a morte de Dilan Cruz, de 18 anos, atacado com gás lacrimogéneo pela polícia, que se tornou um símbolo para os manifestantes. Há ainda registo de dezenas de carros particulares e motos queimadas. 

A presidente da Câmara de Bogotá, Claudia López, do partido Aliança Verde, disse que vai oferecer assistência judicial aos familiares da vítima, condenou a “violência policial” e prometeu uma “reforma séria da polícia”. No entanto, reiterou que “destruir Bogotá não vai consertar a polícia”. “Vamos concentrar-nos em fazer justiça e fazer uma reforma estrutural para as forças de segurança”, apelou.

Já o ministro da Defesa colombiano, Carlos Holmes Trujillo, condenou “qualquer acto de um membro da polícia que viole a lei” e denunciou “actos de vandalismo em massa e violência”. Os dois agentes da polícia foram suspensos e as autoridades abriram uma investigação, uma ordem directa do Presidente Iván Duque, de acordo com o El Espectador.

Depois de várias horas de reunião, o Executivo anunciou um reforço do contingente policial na capital – 300 soldados do Exército colombiano e 850 polícias de outras regiões do país foram enviados para a capital. O Governo anunciou ainda uma recompensa financeira por informações “que levem à captura durante dos responsáveis pelo homicídio de cinco durante os protestos violentos em Bogotá e no município de Soacha, assim como pelos responsáveis por actos de vandalismo”.

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