Familiares de idosos de lar em Santarém queixam-se de falta de cuidados e de “negligência”

Inconformados com a forma como os idosos estão a ser tratados, alguns familiares ponderam a hipótese de apresentar “uma queixa-crime contra desconhecidos”. Segurança Social colocou no lar 12 funcionários e um director técnico.

Foto
Paulo Pimenta

É um cenário de alegada falta de condições, de falta de cuidados adequados e até de negligência o que é descrito por vários familiares de residentes na Casa de Repouso Fonte Serrã, na Póvoa de Santarém, onde um surto de covid-19 infectou mais de seis dezenas de utentes e funcionários e causou a morte de quatro idosos desde 22 de Agosto, quando ali foi conhecido o primeiro caso, uma médica que trabalha no Hospital Distrital de Santarém e que também presta apoio na instituição.

Desde o início deste surto, e depois de os 35 funcionários deste lar privado terem todos ficado em quarentena ou em isolamento profiláctico em casa, os 63 idosos foram distribuídos por um outro lar em Fátima (aqueles em que os testes de infecção pelo novo coronavírus deram resultado negativo) e pelos hospitais de Santarém e de Abrantes (casos positivos com sintomas). Mas os casos positivos assintomáticos permaneceram no lar, tendo a Segurança Social substituído os funcionários. A direcção do estabelecimento queria que este fosse encerrado temporariamente mas a Segurança Social optou por colocar lá auxiliares e um novo director técnico, que é quadro da Cruz Vermelha.

Inconformados com a forma como o processo está a decorrer e como os idosos estão a ser tratados, alguns familiares ponderam mesmo a hipótese de apresentar “uma queixa-crime contra desconhecidos”, adiantou ao PÚBLICO António Borba, filho de uma das residentes no lar, que ficou infectada com o novo coronavírus e poderá “ter contaminado outras três pessoas, nomeadamente uma que tem uma doença oncológica e outra que sofre de problemas cardíacos”, porque foi a uma festa de aniversário no exterior sem que se soubesse que tinha a doença.

O filho de outro residente conta que o pai se queixou de que não tomava banho há nove dias e do atraso nas refeições e na medicação. E Mário Nunes, filho de outra residente, relatou à SIC que a mãe foi transferida para o Hospital Distrital de Santarém com a ficha de outra idosa e que foi deixada sozinha na unidade de saúde, onde chegou “desidratada”.

Este não terá sido o único caso de desidratação a ser diagnosticado no hospital, a crer na carta que um grupo informal de familiares dos utentes enviou entretanto a várias entidades, nomeadamente os ministérios da Segurança Social e da Saúde, em que pedem uma intervenção “urgente” para resolver a situação.

Considerando que “não é compreensível e muito menos aceitável” que “exista falta de rigor e negligência nos cuidados prestados”, estes familiares sublinham que, além das queixas de desidratação, problemas renais e troca de identidade, “há ainda relatos de outros utentes que conseguem comunicar com os familiares por telemóvel e que se queixam da falta de higiene” e “troca de medicamentos”. “Não estamos apenas preocupados, estamos revoltados e reclamamos intervenção imediata”, acentuam.

Amélia Silva, directora financeira da casa de repouso e filha dos proprietários deste estabelecimento, argumenta que pediu o encerramento do lar porque ficou “sem pessoal”, as duas enfermeiras que ali trabalham incluídas, mas que a Segurança Social e as autoridades de saúde decidiram que os idosos com testes positivos e sem sintomas deveriam permanecer na instituição.  “Acho que se tinha evitado muita coisa se tivessem mandado os utentes para outro lado”, disse ao PÚBLICO. Agora, lamenta, “o pessoal não quer vir com medo de poder infectar os familiares em casa e ainda não foi possível desinfectar as instalações”.

O Instituto da Segurança Social adiantou ao PÚBLICO que actualmente neste lar estão “12 recursos humanos colocados ao abrigo de protocolos” entre o ministério e a Cruz Vermelha Portuguesa, além de um director técnico.  Garantindo que “nunca estiveram em causa os cuidados prestados aos utentes, na medida em que os profissionais de saúde (médicos e enfermeiros) do agrupamento de centros de saúde da Lezíria do Tejo prontamente se disponibilizaram para suprir esta necessidade”, assinala que o que se verificou neste caso foi o que se verificou “que não foi reforçada a equipa de recursos humanos, através da contratação directa por parte da entidade, o que originou ruptura total dos recursos humanos disponíveis para fazer face à emergência”.

Sugerir correcção