Ciclista deu a volta ao país para apoiar lar de Reguengos

A ideia surgiu “por acaso” num passeio de bicicleta. Durante três semanas, o ciclista percorreu centenas de quilómetros para angariar donativos.

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Lar onde houve o surto LUSA/NUNO VEIGA

José Cebola tem 55 anos e fez uma Volta Solidária a Portugal de bicicleta com o intuito de angariar fundos para um lar em Reguengos de Monsaraz, onde um surto de covid-19 levou 18 vidas. O percurso de 2.150 quilómetros durou cerca de três semanas e foi dividido em 20 etapas passando por várias regiões do Alentejo, Centro, Norte, Algarve.

A ideia surgiu “por acaso” num passeio de bicicleta e se há ideias que acabam por se perder, esta não foi uma delas. “Quando percebi que tinha todas as condições reunidas, dei conhecimento ao presidente da Câmara que se mostrou receptivo, reunimos e analisámos a melhor forma de dar início à volta”.

Segundo a Lusa, o ciclista conseguiu angariar cerca de dois mil euros entre a venda de camisolas e doações particulares e dos municípios. Este valor será entregue à Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva (FMIVPS), cujo director, João Carlos Silva, disse à Lusa que a quantia angariada “será canalizada para a aquisição de mobiliário e outros bens para os utentes do lar da fundação, nomeadamente camas articuladas”.

O ciclista começou a volta no dia 16 de Agosto com um carro de apoio, levando consigo camisolas técnicas para vender, e terminou no passado sábado. Criou também uma conta solidária e que ainda está activa, diz José Cebola.

“Os contactos antecipados com as autarquias locais foram um factor a favor desta aventura. Nunca houve cor política”, relata. Foi recebido de diferentes maneiras, teve quem demonstrasse interesse e contribuísse de alguma forma: “Tive situações em que as câmaras foram participando, com donativos, compraram as camisolas, que ainda tenho para vender” mas também quem ignorasse toda a iniciativa, mesmo sabendo o seu propósito.

Apesar da realização pessoal, José Cebola diz que também embarcou nesta aventura para alertar a população para a necessidade de se envolverem mais em causas para o bem colectivo. “Reconheço que do ponto de vista colectivo e do associativismo, a população de Reguengos podia ser mais empenhada, foi neste sentido que fiz esta viagem, para alertar”.

O balanço de toda a “aventura” é positivo. Para além de ter conseguido alcançar os seus objectivos no que diz respeito às doações, foi recompensador também a um nível pessoal: “Não sou hipócrita, não fiz isto só pelos outros, fiz também por mim, sinto-me bem a fazer estas coisas, tive contratempos, mas foi bom andar sozinho e aproveitar o caminho. Senti-me muito feliz”.

José Cebola é chefe distrital da Polícia de Segurança Publica (PSP) em Reguengos de Monsaraz e diz já ter vivido muitas realidades ao longo da sua vida, acrescentando que se existem países em que os idosos são tratados com dignidade até ao seu ultimo dia, em Portugal o cenário é diferente e é algo que tem de se mudar com urgência. “É uma questão civilizacional e é algo que não consigo perceber”.

Terminada esta aventura, espera poder voltar a ter um papel em iniciativas solidárias ou de outro cariz.

O surto no Lar de Reguengos de Monsaraz foi detectado no dia 18 de Junho, originando 162 casos positivos e 18 mortos entre eles estavam 16 utentes, uma funcionária e um homem da comunidade.

Texto editado por Ana Fernandes

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