Merkel critica “imagens vergonhosas” do incidente no Parlamento alemão

A chanceler alemã considerou “vergonhosas” as imagens de militantes de extrema-direita que tentaram invadir o parlamento, no sábado, numa manifestação contra as medidas de contenção do novo coronavírus que juntou cerca de 20.000 pessoas.

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EPA/CLEMENS BILAN

A chanceler alemã Angela Merkel criticou, esta segunda-feira, as “imagens vergonhosas” de manifestantes “antimáscara” a tentarem forçar a entrada no edifício do Reichstag, onde funciona o Parlamento, no sábado. Um “abuso do direito de manifestação” afirmou a própria.

“Este fim-de-semana tivemos um exemplo de como se pode abusar da liberdade de manifestação”, lamentou Steffen Seibert, o porta-voz do executivo, falando “em nome do Governo e da chanceler”. Embora ressalve que o “direito à manifestação pacífica é, sem dúvida, uma conquista muito preciosa, mesmo em tempos de pandemia”.

No sábado, horas após a dispersão de uma manifestação em Berlim contra as restrições impostas para conter a propagação do novo coronavírus, que juntou cerca de 20.000 pessoas, cerca de 200 militantes de extrema-direita que tinham participado no protesto tentaram forçar a entrada no edifício do Reichstag onde funciona o Parlamento. Foram impedidos pela polícia, que deteve várias pessoas.

“O resultado são imagens vergonhosas, inaceitáveis” da tentativa de “antidemocratas” de entrar no Parlamento, acrescenta Seibert, que agradeceu “aos três polícias que defenderam a entrada” do edifício.

O Presidente alemão, Frank-Walter Steinmeier, escreveu num comunicado divulgado no sábado no Instagram, onde se lê: “Bandeiras do Reich e obscenidades de extrema-direita frente ao Bundestag [Parlamento] alemão são um ataque insuportável ao coração da nossa democracia”.

“Nunca o aceitaremos”, adiantou Steinmeier, afirmando: “Se alguém está zangado com as medidas ou as questiona, pode fazê-lo, inclusivamente em público e em manifestações. A minha compreensão acaba quando manifestantes se misturam com inimigos da democracia e agitadores políticos.”

O Reichstag tem um significativo simbólico na Alemanha. O edifício foi incendiado em 1933, num acto visto como tendo sido levado a cabo ou pelo menos promovido pelo recém formado governo do partido nazi, que culpou um opositor pelo incêndio e o aproveitou para fazer aprovar poderes de emergência, um passo essencial para estabelecer a ditadura nazi.

Num outro sinal da deterioração do clima político na Alemanha relativo ao uso de máscara, o ministro da Saúde, Jens Spahn, foi insultado por dezenas de pessoas em Bergisch-Gladbach, que tentaram ainda cuspir-lhe para cima, mostrava um vídeo partilhado em redes sociais.

Esta segunda-feira, a Alemanha contabilizou 610 novas infecções pelo coronavírus e mais três vítimas mortais pela covid-19, nas últimas 24 horas, um número abaixo dos cerca de 1500 novos casos por dia contabilizados durante a semana passada. Desde o início da pandemia, segundo o Instituto Robert Koch (RKI), foram identificadas 242.381 infecções pelo coronavírus, entre os quais 216.200 estão recuperados, e um total de 9298 mortes provocadas pela covid-19.

Apesar destes protestos ruidosos, segundo uma sondagem recente da televisão pública ZDF, 77% dos inquiridos não só defendem as medidas de contenção da covid-19 como gostariam que estas fossem aplicadas com mais força.

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