Apresentador da Fox News defende adolescente que matou dois manifestantes no Wisconsin

Tucker Carlson perguntou à audiência do seu programa em prime time: “Ficam chocados por um adolescente de 17 anos com armas ter decidido manter a ordem quando mais ninguém o faria?”. O jovem é acusado de matar duas pessoas em Kenosha, onde a polícia alvejou um cidadão negro com sete tiros.

"Este rapaz acabou de disparar!". Jovem de 17 anos suspeito de matar manifestantes nos EUA Reuters, Vera Moutinho

Os sete tiros que um agente da polícia de Kenosha, nos arredores de Chicago, disparou à queima-roupa contra o afro-americano Jacob Blake fizeram rebentar uma nova onda de protestos anti-racismo e violência policial nos Estados Unidos, menos de três meses depois da morte de George Floyd. Na noite de terça-feira, a cidade do estado do Wisconsin estava transformada num campo de batalha entre manifestantes, polícias e milícias armadas.

Um dos “reforços” que tinha chegado à cidade era o adolescente Kyle Rittenhouse. Aos 17 anos, fez os 25 quilómetros que o separavam da zona dos protestos e levou consigo uma espingarda semiautomática AR-15, respondendo ao apelo da milícia local Kenosha Guard. Era apoiante da acção da polícia e, nas redes sociais, fazia questão de afirmar a sua devoção às armas, à supremacia branca, ao trabalho dos agentes e ao movimento Blue Lives Matters (um contramovimento que defende as vidas dos polícias).

Nessa noite foi visto a proteger lojas das pilhagens. Andava pela cidade exibindo a arma que trouxera. Em vídeos gravados nessa noite, Rittenhouse dizia que estava a fazer “o seu trabalho”.

Os vários momentos dessa noite estão registados em pequenos clipes, com mais ou menos contexto. É assim que ficou registado o momento em que a polícia terá agradecido ao grupo a que o adolescente pertencia, tendo-lhes oferecido água, mas pedindo que, por serem civis, abandonassem a zona.

Foi pouco depois disso que Rittenhouse usou a sua arma, alegadamente pela primeira vez nessa noite. Segundo relata o New York Times, o jovem estava a ser perseguido por “um grupo desconhecido de pessoas”, quando um atirador indeterminado disparou para o ar. Nesta altura ainda não é claro porque o fez. O jovem virou-se na direcção do som de tiros e viu um homem a caminhar na sua direcção. Foi nesta altura que Rittenhouse disparou por quatro quatro vezes e contra a cabeça do homem que alegadamente o perseguia. 

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Rittenhouse no chão a disparar sobre manifestantes.

Nas redes sociais corre um vídeo que mostra o momento que se seguiu. Quando alguns dos manifestantes o tentaram agarrar, disparou, já caído no chão, contra três pessoas que se aproximaram, dispersando o grupo que por ali se encontrava. Segundos depois, Rittenhouse aproximou-se, de braços no ar, dos veículos da polícia que se encontravam mais à frente na rua. Segundo relatos de pessoas no local, a polícia nada fez nesse momento e seguiu em direcção às vítimas baleadas. Rittenhouse só foi detido nesta quarta-feira, já na sua casa.

Anthony Huber, com 26 anos, e outro homem de 36 anos, cuja identidade ainda não é conhecida, foram mortos na sequência desses disparos. Há ainda registo de outro homem com 26 anos e que está gravemente ferido.

“Republicanos têm demasiado medo de parar os protestos”

Tucker Carlson é um dos rostos mais populares na televisão norte-americana. Apresenta o programa de televisão informativo mais visto da televisão por cabo. É visto como uma voz do conservadorismo, e tem no seu historial um longo registo de declarações racistas. Apresenta, em Tucker Carlson Tonight, uma espécie de monólogo televisivo, com um ou outro convidado que corroboram com a sua visão da América.

Na noite desta quarta-feira discorreu, na Fox News, durante 11 minutos sobre os protestos em Kenosha. Mostrou as imagens da violência, pediu desculpa já depois de as mostrar, acusou os democratas de “promoverem os protestos” e os republicanos de terem “demasiado medo de os parar”. Enquanto isso, a letras garrafais no rodapé, aparecia escrito “o que está a acontecer nas nossas ruas é uma luta de classes”.

No programa chamou para a conversa Richie Mcginniss, que, na noite dos protestos, tinha entrevistado o adolescente Kyle Rittenhouse para o The Daily Caller, um site de notícias associado à ala conservadora. Também defendeu a actuação de Rittenhouse: “Ficam chocados por um adolescente de 17 anos com armas ter decidido manter a ordem quando mais ninguém o faria?”.

Nas redes sociais reina a polarização entre quem critica o adolescente e quem o chame de herói, mostrando uma vez mais uma América dividida e mergulhada numa onda de protestos. Já da Casa Branca ouve-se o chavão repetido infinitas vezes no Twitter: “lei e ordem”.

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