Pandemia e pandumia

Segue em Lisboa a final da Champions. E na Alemanha a final da Liga Europa. Mesmo em tempo de pandemia o show must go on. Que a felicidade nunca nos falte. Se um dos grandes cair, cá estaremos a dizer mal do vizinho.

A ideia too big to fall (muito grande para cair) deixava-nos suspensos a pensar se, na verdade, o banco ou seguradora caísse, o que seria dos seus clientes e de todos nós… Foi assim que se justificaram as intervenções financeiras dos Estados para salvar os bancos.

Isso foi já há vários anos. Agora em cima da mesa estão os milhares de milhões que afinal os cidadãos tiveram de pagar para salvar a incúria dos banqueiros e a festa despesista continua. Em Portugal, já pagamos mais vinte mil milhões de euros e não sabemos quando vamos parar de pagar.

A crise concentrou riqueza e alargou as desigualdades. Custa a crer: a riqueza de um por cento da população superou a dos restantes noventa e nove, e sessenta e dois multibilionários tem mais riqueza que metade da população, segundo a ONG Oxfam.

A crise financeira tocou o mundo, no seu conjunto, uns países mais, outros menos. Centenas de milhões de pessoas viram os seus rendimentos diminuírem e outros ficarem desempregados. Como poderemos saber quantos morreram porque deixaram de ter acesso a uma alimentação adequada ou à própria comida e de ter acesso a cuidados de saúde? As consequências sociais da crise financeira estão por contabilizar.

Entretanto, no final do ano passado, surgiu uma pandemia e gera pânico acerca do futuro. Já se registaram quase oitocentos mil mortos infetados com a covid-19. E nenhum oráculo adivinha o futuro, nem Marques Mendes, o number one a adivinhar.

E, no entanto, a Humanidade segue o seu caminho, como se o que aconteceu ao sistema financeiro fosse um destino, um fado. A realidade é dura e há que olhá-la de lado para lhe fugir. Na velha Roma havia os Coliseus.

Em Portugal, onde a crise bateu forte, os portugueses estão muito entretidos com o mesmo de sempre – a vida das estrelas já no céu ou a caminho, seja qual for a via. Agora há futebol a rodos. E o futebol que faz feliz a maioria dos portugueses, se um certo clube ganhar o campeonato, disse quem o disse.

Não há futebol nos estádios, mas há na televisão. E há dinheiro para ir buscar treinadores de oiro e jogadores a peso do mesmo metal. O que conta é o big money, mesmo para os que não têm para a sopa… Os homens e as mulheres parecem, por vezes, não seres os únicos animais capazes de fazerem a sua História. E, no entanto, são-no.

O que realmente importa até aos dias em que acontece a grande História é que a minha equipa ganhe e que se não olhe a milhões limpos ou sujos. Isso já é outra pandumia, como disse o catedrático das táticas.

Segue em Lisboa a final da Champions. E na Alemanha a final da Liga Europa. Mesmo em tempo de pandemia o show must go on. Que a felicidade nunca nos falte. Se um dos grandes cair, cá estaremos a dizer mal do vizinho.

O autor escreve segundo novo acordo ortográfico

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