A Europa e os desafios para a região do Mediterrâneo

Esta é uma tarefa difícil. Das migrações ao clima, precisamos de encontrar respostas concretas e comuns.

À medida que nos aproximamos do 25.º aniversário do Processo de Barcelona, acredito firmemente que a melhor maneira de comemorar esse marco é continuarmos a trabalhar juntos para alcançar os objetivos estabelecidos em 1995: construir uma área de paz e estabilidade, de progresso económico partilhado, diálogo e compreensão entre os povos e culturas em redor do Mar Mediterrâneo.

Esta é uma tarefa difícil. Para começar, as fronteiras geopolíticas da nossa região comum são cada vez mais fluidas devido à dinâmica complexa de uma região na interseção de três continentes – Europa, África e Ásia.

Ao longo dos últimos 25 anos, a região do Mediterrâneo enfrentou crescentes desafios em termos de estabilidade. Isto deveu-se à persistência de velhos conflitos não resolvidos e ao surgimento de novos, compostos por crescentes desequilíbrios e desigualdades. Surgiram conflitos não apenas entre países vizinhos, mas também dentro de cada uma das nossas próprias sociedades.

A atual emergência pandémica da covid-19 está a piorar a frágil situação social e económica de muitos países. Centenas de pessoas continuam a afogar-se no Mediterrâneo, enquanto tentam desesperadamente chegar à costa europeia. As vítimas esperam apenas escapar da guerra, da opressão e da pobreza.

A Primavera Árabe de 2011 e a introdução de algumas reformas democráticas criaram esperança e expectativa entre os cidadãos para um futuro melhor e mais inclusivo. No entanto, os países seguiram caminhos diferentes, as esperanças ainda não foram concretizadas e as condições que levaram ao protesto social estão mais presentes que nunca – e não apenas no mundo árabe, mas em cada um dos nossos países, em variados graus e de diferentes maneiras.

Nestes tempos de adversidade, a União Europeia precisa de reforçar o seu diálogo e cooperação com os parceiros das costas leste e sul do Mediterrâneo. Os nossos cidadãos sabem que o mundo enfrenta desafios globais, que somente podem ser enfrentados através de uma cooperação internacional eficaz.

Respeitando plenamente os direitos fundamentais, precisamos de encontrar respostas concretas e comuns ao desafio dos refugiados e da migração. Prevenir conflitos regionais e combater a intolerância, o racismo, o extremismo e o terrorismo devem continuar a ser as principais prioridades.

Devemos mobilizar todos os nossos recursos comuns para enfrentar o enorme desafio das mudanças climáticas, que já está a afetar seriamente todos os países do Mediterrâneo. Os países da bacia do Mediterrâneo viram uma mudança no equilíbrio ambiental, mais poluição, crescente escassez de água e um crescimento urbano descontrolado, assim como especulação imobiliária, especialmente ao longo da costa.

Por último, mas não menos importante, devemos concentrar a nossa atenção coletiva na juventude e na educação: as tendências demográficas nos países com populações jovens representam oportunidades reais para a nossa região – mas apenas se formos capazes de criar empregos novos e sustentáveis, que proporcionem um sentimento de dignidade e pertença a cada um dos nossos jovens.

O Parlamento Europeu assumirá a presidência rotativa da Assembleia Parlamentar da União para o Mediterrâneo (PA-UfM) para 2020-2021 e concentrar-se-á no reforço da dimensão interparlamentar. Nesse sentido, os parlamentos nacionais da UE e os parlamentos da Vizinhança Meridional desempenham um papel vital na promoção do diálogo e da cooperação regional e na garantia de maior transparência e responsabilidade política. O Parlamento Europeu trabalhará em estreita colaboração com os parlamentos nacionais para fortalecer a dimensão política da parceria mediterrânea e combater a tendência preocupante para o nacionalismo e o populismo, emergente na maioria dos nossos países, em todas as margens do Mediterrâneo.

O Parlamento Europeu pretende também concentrar-se mais na nossa resposta coletiva às mudanças climáticas. A região do Mediterrâneo está a aquecer a um ritmo 20% mais acelerado que o resto do planeta. Num dos principais pontos críticos da mudança climática do mundo, devemos partilhar experiências e conhecimento acerca deste desafio, apoiar projetos e iniciativas relacionados com baixas emissões e o desenvolvimento de resiliência climática e explorar o potencial económico oferecido por fontes de energia renováveis. O PA-UfM oferece um excelente fórum para esta cooperação. Combater e mitigar as mudanças climáticas na região através do desenvolvimento sustentável representará o tema central da nossa presidência.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

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