Bolsonaro com a melhor avaliação desde início do mandato. Mais vulneráveis contribuem para resultado

O programa de auxílio emergencial à população mais desfavorecida por causa da covid-19 ajudou à aprovação. Mas a análise da Folha de S. Paulo também nota, entre outros factores, que o Presidente brasileiro “moderou as declarações contra adversários”.

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Em plena pandemia, Bolsonaro consegue a melhor avaliação do seu governo Reuters/ADRIANO MACHADO

O Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, obteve a melhor avaliação desde que iniciou o mandato, com 37% dos brasileiros a considerarem o Governo óptimo ou bom. É uma percentagem superior à última verificada, em 23 e 24 de Junho, que colocava aquele desempenho nos 32%. Os dados, que resultam de uma pesquisa do Datafolha, foram avançados pelo jornal Folha de S. Paulo.

Na análise feita pelo jornal, é possível perceber ainda o peso que os mais vulneráveis tiveram na avaliação feita, uma vez que “dos cinco pontos de crescimento da taxa de avaliação positiva, pelo menos três vêm dos trabalhadores informais ou desempregados que têm renda familiar de até três salários mínimos, grupo alvo do auxílio emergencial pago pelo Governo desde Abril e que tem a sua última parcela programada para saque em Setembro”. Trata-se de um apoio no valor de 600 reais mensais (cerca de 94 euros), motivado pela pandemia de covid-19.

Mas não foi só a avaliação positiva que subiu. A avaliação negativa também desceu: nesta pesquisa, 34% consideram o Governo péssimo, quando na anterior esta percentagem se situava nos 44%. Já os que classificam o Governo de Bolsonaro como regular representam agora 27%; em Junho eram 23%.

Apesar das muitas polémicas em que se envolveu o Presidente brasileiro, na análise feita pelo jornal, os dados parecem sugerir, embora não de forma directa, que o programa de auxílio emergencial às camadas mais desfavorecidas da população teve efeitos. De acordo com os números do Datafolha avançados pelo jornal, no Nordeste, uma das regiões onde mais se pediu e recebeu aquela ajuda, a rejeição de Bolsonaro caiu de 52% para 35%, mantendo, no entanto, a pior avaliação: 33% entre óptimo e bom, o que representa, ainda assim, uma subida de seis pontos em relação a Junho.

O Governo tem noção, alerta o órgão de comunicação social brasileiro, de que esta ajuda financeira traz vantagens políticas, mas ao mesmo tempo receia não ter dinheiro para prolongá-la. O auxílio, que estava previsto terminar em Junho, foi alargado até Agosto, lembra o jornal. Mas em causa estão, nota ainda, cerca de 50 mil milhões de reais mensais (aproximadamente 7,8 mil milhões de euros).

Na semana passada, o ministro com a pasta da Economia e Finanças, Paulo Guedes, já avisou que “o gasto é insustentável além deste mês”, recorda o jornal brasileiro. O ponto é relevante, uma vez que os dados da pesquisa avançados na Folha de S. Paulo ​mostram, por exemplo, que a maior descida (10 pontos percentuais) na rejeição de Bolsonaro é na região carenciada do Nordeste. A mesma pesquisa também mostra que a maioria dos brasileiros (53%) que recebem esta ajuda usa o dinheiro para comprar comida.

Mas Bolsonaro também melhorou a avaliação, por exemplo, no Sudeste, escreve ainda o jornal, vendo a aprovação passar de 29% para 36% e observando-se também uma queda na rejeição de 47% para 39%.

Entre muitos outros dados facultados pela pesquisa, verifica-se ainda uma descida na rejeição do Presidente nas camadas mais jovens, na faixa etária dos 16 aos 24 anos: a avaliação de péssimo caiu de 54% para 41%. Outros grupos, nota ainda o jornal, que se caracterizam por uma maior oposição a Bolsonaro também registaram quedas, mesmo que mais ligeiras. Exemplos: nas pessoas com formação superior, a rejeição caiu de 53% para 47% e, entre nas camadas economicamente mais favorecidas, de 52% para 47%.

Em plena pandemia, e com o país a ultrapassar as 100 mil mortes por covid-19, como sublinha o órgão brasileiro, a pesquisa mostra que o Presidente melhora o desempenho em praticamente todos os estratos da população e, embora essa análise mais fina sugira a contribuição decisiva dos mais vulneráveis, há outros factores. “O abrandamento do tom autoritário, com adequações na comunicação, combinado à flexibilização da quarentena provocou um refluxo de tendência à reprovação em segmentos estratégicos, como os mais escolarizados, com maior renda e moradores do Sudeste. Nesses estratos, a popularidade do presidente subiu entre cinco e seis pontos percentuais, depois de quedas contínuas desde o início da pandemia”, lê-se na Folha de S. Paulo.

O jornal também nota, entre outros factores analisados, que Bolsonaro, que esteve infectado com o novo coronavírus, “moderou as suas declarações contra adversários e parou de dar corda a apoiadores radicais que o esperam à porta do Palácio da Alvorada”.

Aquele instituto entrevistou por telefone 2065 pessoas de 11 a 12 de Agosto. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou menos.

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