Moradores de Santa Engrácia recuperam alguns lugares que a EMEL ia eliminar

Subtracção de mais de 50 lugares de estacionamento nas ruas Washington e Afonso Domingues levou moradores a protestar e a junta a pedir à câmara que voltasse atrás.

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Moradores mobilizaram-se para alterar os planos da EMEL

Às seis da tarde, em frente à Igreja Evangélica Baptista de São Vicente, Antonino Simões abre um envelope de papel pardo e divide com um vizinho o monte de panfletos que acaba de imprimir. Em passo acelerado, os dois percorrem a rua e distribuem os papéis pelos pára-brisas dos carros parados. Não se trata de mais um anúncio à compra de automóveis a bom preço, antes um comunicado sobre o assunto que tem agitado Santa Engrácia: o estacionamento.

Desde meados de Junho que a Empresa Municipal de Mobilidade e Estacionamento de Lisboa (EMEL) anda pelas ruas do bairro a delimitar lugares e a colocar sinalização para poder tarifar o estacionamento automóvel. Depois de verem as primeiras pinturas no chão, alguns moradores puseram-se a fazer contas e concluíram que podiam desaparecer 40 a 50 lugares nas várias artérias entre a Rua do Vale de Santo António e a Calçada dos Barbadinhos. Uma contabilidade em que não se incluía a Rua Washington, onde estava prevista a eliminação de 50 a 60 lugares.

Alarmados, estes residentes começaram a queixar-se à Junta de São Vicente e, já com o apoio de um movimento político que se candidatou às autárquicas de 2017, agendaram uma semana de protestos na rua. Só se realizou a primeira manifestação, na segunda-feira. Talvez por ter calhado a meio de Agosto, não teve grande afluência, mas bastou para que a Câmara de Lisboa convocasse uma delegação de moradores para uma reunião na quarta-feira.

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Daniel Rocha

É o resultado dessa conversa que Antonino Simões anda a distribuir pelas viaturas. “Concluíram que o bairro é este, não é outro, e fizeram alguns recuos”, diz, explicando que a EMEL concordou em reduzir o número de lugares subtraídos depois de uma visita ao bairro com o Regimento dos Sapadores Bombeiros. Na Rua do Mato Grosso, onde seriam eliminados cinco lugares, estes vão manter-se exclusivos para residentes; na Rua Rui Barbosa, onde se perderiam uns dez, vão ser tirados dois ou três; na Rua Fernão de Magalhães a perda será de quatro a cinco lugares.

De acordo com a EMEL, em resposta ao PÚBLICO, em toda a área que está a ser intervencionada – que abrange também Santa Clara e a Quinta do Ferro – vão ser tarifados 711 lugares, disponíveis para todos os automobilistas, residentes ou não. Para estes haverá “aproximadamente 90 lugares exclusivos” dentro de bolsas sem delimitação individual de cada sítio.

“Só cá vieram depois deste movimento”, nota Antonino. Favorável à entrada da EMEL no bairro para “normalizar e reestruturar” a oferta de lugares, o morador critica a forma como a empresa comunicou com as pessoas, anunciando “mais estacionamento para os que aqui vivem” em cartazes. “Não podem andar a pôr papéis a dizer que os residentes vão ganhar lugares quando eles vão desaparecer.”

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Os problemas de comunicação atingiram o pico quando foi pintada uma linha amarela em toda a extensão da Rua Washington e da Rua Afonso Domingues, eliminando mais de meia centena de lugares. Vários moradores foram protestar à presidente da junta, Natalina Moura, que se terá mostrado surpreendida com a situação. O PÚBLICO procurou obter esclarecimentos da Junta de São Vicente, mas nenhum membro do executivo estava disponível esta quinta-feira.

No Facebook, a junta explicou que a autarca esteve até à meia-noite do “próprio dia” da pintura amarela ao telefone com Fernando Medina, com o vereador da Mobilidade, Miguel Gaspar, e com o presidente da EMEL, Natal Marques. Nessa extensa conversa fez o pedido de “reversão da situação com carácter de urgência” e, uns dias depois, a linha amarela era apagada do asfalto.

A Rua Washington liga Sapadores a Santa Apolónia e é usada pela única carreira da Carris que atravessa o bairro, a 735. Com estacionamento de um dos lados, a rua não é larga o suficiente para circularem automóveis nos dois sentidos ao mesmo tempo. Por esse motivo, poucos são os autocarros que a conseguem atravessar sem paragens ou manobras inesperadas. Não são, contudo, interrupções muito longas. De acordo com dados da Carris transmitidos ao PÚBLICO, “em 2019, na Rua Washington, houve três veículos imobilizados e perderam-se 1,8 horas de operação”.

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“Eu percebo bem a Carris”, diz Antonino Simões. “Eles podem tirar daqui o estacionamento, mas arranjem alternativas”, pede Joaquim Pires. Ex-presidente da extinta junta de Santa Engrácia, afirma que a câmara tem planos desde 2005 para criar um silo automóvel na zona, mas que o plano nunca passou das intenções. “Há 15 anos que andam neste ramerrame”, lamenta.

Na mesma publicação de Facebook, a junta diz que está prevista “a criação de um parque de estacionamento na Rua Washington”, mas não adianta um prazo. A autarquia estima que “de momento existam bastantes veículos estacionados que não são de residentes, e que com o ordenamento de estacionamento em vigor a partir de Setembro, libertarão os lugares que estão a ocupar.”

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