Altos dirigentes do Podemos investigados por financiamento ilegal

Um ex-advogado do partido denunciou práticas que podem consistir em fraude e desvio de dinheiro público. Pablo Casado quer que o vice-presidente do Governo, Pablo Iglesias, se explique no Parlamento.

Foto
As investigações aproximam-se do líder do Unidas Podemos, Pablo Iglesias Reuters/JAVIER BARBANCHO

O Podemos está a braços com uma investigação sobre o alegado financiamento ilegal de uma campanha eleitoral na qual estão já implicados altos dirigentes do partido espanhol da esquerda radical. O Partido Popular quer chamar o secretário-geral do partido e actual vice-presidente do Governo, Pablo Iglesias, para dar explicações no Congresso.

O juiz de instrução responsável pelo inquérito intimou vários dirigentes do Podemos, incluindo o secretário de comunicação e principal responsável pelas campanhas eleitorais, Juan Manuel del Olmo, a gestora do partido, Rocío Esther Val, e o tesoureiro, Daniel de Frutos. Serão ouvidos em Novembro, de acordo com a imprensa espanhola.

O caso tem origem na denúncia feita pelo antigo advogado do partido, José Manuel Calvente, que saiu do Podemos no final do ano passado sob suspeita de assédio sexual a uma militante. Os tribunais acabaram por arquivar a queixa contra Calvente, mas desde então o advogado tornou-se na principal dor de cabeça para Iglesias e para o seu partido.

O advogado diz suspeitar de “pagamentos debaixo da mesa” e de prémios de mil euros não justificados nas contas do Podemos, e que essa foi a verdadeira razão para o seu afastamento. Calvente foi ouvido pelo juiz de instrução no final do mês passado e reafirmou a sua denúncia. Em causa pode estar a abertura de um processo pelos crimes de gestão fraudulenta e desvio de dinheiro público.

O Podemos tem criticado a actuação da justiça espanhola, que diz estar a fazer uma “investigação prospectiva”. “O objectivo é fazer um caso mediático que dure meses, mesmo que juridicamente acabe em nada”, disse ao El País uma fonte do partido.

O “caso Dina”

Para além de ter levantado a suspeita de esquemas de financiamento ilegal no partido, o advogado abriu outra linha de fogo contra o Podemos com o chamado “caso Dina”. Em Março do ano passado, foi revelado que as informações contidas no telemóvel da ex-assessora de Iglesias no Parlamento Europeu, Dina Bousselham, chegaram às mãos de um antigo polícia que as teria passado à imprensa.

Em plena campanha eleitoral, Iglesias usou essa história para acusar a direita de instrumentalizar as forças de segurança para atacar o Unidas Podemos, a coligação com a Esquerda Unida e vários pequenos partidos que concorreu às eleições. A peça mais incriminatória entre os materiais divulgados é um comentário ofensivo sobre uma apresentadora de televisão feito por Iglesias num chat privado, diz o El País.

No entanto, os interrogatórios mostraram algumas contradições nas versões de Bousselham e a tese principal dos investigadores é hoje a de que tudo poderá ter sido montado pelo Podemos – algo que Calvente tem afirmado.

Sugerir correcção