Lagoas açorianas vão ter estação para combater a eutrofização - “um problema ambiental do país”, diz Matos Fernandes

Ministro do Ambiente está nos Açores para assinar contrato entre o Fundo Ambiental e o Governo Regional para a aquisição de uma estação para filtrar a água das lagoas.

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A estação de filtragem de água vai ter o seu primeiro posto na lagoa das Furnas, em São Miguel, por aquela ser a lagoa com os índices mais elevados de eutrofização rui pedro soares

A eutrofização das lagoas açorianas é um velho problema. Ao longo das últimas décadas, têm sido vários os projectos para procurar reduzir o excesso de nutrientes nas águas das lagoas do arquipélago. Agora, com a aquisição de uma unidade móvel de filtragem, vai ser dado um “robusto” passo para “acelerar a resolução do problema”.

As palavras são do ministro do Ambiente e da Transição Energética. João Pedro Matos Fernandes vai esta quinta-feira a São Miguel para a assinatura de um contrato entre o fundo ambiental e o Governo Regional, que visa a aquisição de uma estação de tratamento de água. “Esta é uma forma muito robusta para acelerar a resolução do problema”, diz ao PÚBLICO o ministro, destacando a “grande” capacidade da futura estação de filtragem de água. “Estamos a falar de 400 metros cúbicos por hora e essa filtragem tem por objectivo a remoção da matéria orgânica e removendo a matéria orgânica vamos contribuir para que, de facto, as lagoas fiquem menos eutrofizadas”, respondeu, quando questionado sobre se o projecto agora anunciado iria resolver estruturalmente a eutrofização das lagoas.

A estação será “feita à medida” e terá o custo total de 1,5 milhões de euros. Desse valor, 800 mil euros serão assumidos ao longo dos próximos dois anos (metade em cada ano) pelo Fundo Ambiental - que a partir de 2016 passou a concentrar todos os recursos que antes estavam dispersos por vários outros fundos.

O apoio do Fundo Ambiental foi solicitado pelo governo açoriano, e, perante a “dimensão” do projecto, o Ministério do Ambiente não teve dúvidas em co-financiá-lo. “Não temos dúvidas nenhumas do mérito do projecto e por isso dissemos sim ao desafio que o Governo Regional nos lançou”, explica Matos Fernandes.

A competência sobre as questões ambientais no arquipélago cabe ao Governo Regional, mas o ministro assinala que a eutrofização é um “problema” com uma “escala superior à da própria região autónoma”. Assim, com a assinatura do contrato, o Fundo Ambiental “cumpre uma das suas funções”, respeitante à sustentabilidade dos ecossistemas. “É um problema ambiental que o país tem”, afirmou sobre a eutrofização das lagoas açorianas.

A estação de tratamento de água provém de um projecto-piloto, iniciado há dois anos, fruto de uma parceria entre o Instituto Superior Técnico e o governo açoriano. Sendo móvel, a estação de filtragem de água vai ter o seu primeiro posto na lagoa das Furnas, em São Miguel, por aquela ser a lagoa com os índices mais elevados de eutrofização, avançou ao PÚBLICO a secretaria regional da Energia, Ambiente e Turismo.

A mesma secretaria do Governo dos Açores salienta que o projecto faz parte de uma estratégia de combate à eutrofização das lagoas açorianas, que começou em 2007 e que, além da estação, contempla a retirada das pastagens e a reflorestação dos terrenos localizados próximos às lagoas. No caso da lagoa das Furnas, por exemplo, já foram reflorestados mais de 61 hectares e plantadas mais de 250 mil plantas endémicas nas margens daquele ex-libris turístico de São Miguel. Ainda nas margens da lagoa das Furnas, o Governo Regional adquiriu em 2015 o último terreno com actividade pecuária.

Por isso, o ministro do Ambiente recorda que o “problema antigo” da eutrofização das lagoas “resulta da intensificação da actividade agrícola”: “sendo as lagoas sítios fechados acabam por receber um conjunto de escorrências por via natural que conduzem à sua eutrofização”, destaca, salientando a necessidade de intervir, uma vez que as lagoas não são abertas e por isso a “natureza” não pode “dar uma ajuda na resolução do problema”.

A contextualização de Matos Fernandes serve para enaltecer o projecto da estação móvel. Ressalvando que se deve “agir a montante” e procurar novas “formas de produzir a mesma actividade agrícola”, mas com recurso a “fertilizantes mais orgânicos e menos químicos”, o ministro destaca que o problema da eutrofização “já lá está”. Por isso, agora, “é fundamental filtrar essa água e remover excesso de matéria orgânica, de forma a devolver a qualidade da água original”. E, tendo em conta que existem 66 lagoas nos Açores, há muita água a filtrar.

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