Pessoas mais pobres e em idade activa são as mais afectadas pela pandemia

Barómetro da ENSP-NOVA aponta que principais desigualdades na saúde começaram a surgir dois meses depois do início do confinamento.

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Segundo o estudo, população com menores rendimentos e menor escolaridade foi a que teve mais dificuldades no acesso à saúde e na compra de máscaras Paulo Pimenta

A pandemia de covid-19 afectou especialmente os grupos mais desfavorecidos e mais pobres, e as gerações em idade activa foram as que sofreram maior impacto da crise, indica o Barómetro Covid-19.

O “Barómetro Covid-19: Opinião Social - Conhecer, Decidir, Agir. Os Portugueses, a Covid-19 e as Respostas do Serviço Nacional de Saúde” é uma iniciativa da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP-NOVA) e consiste num questionário online que, desde Março, monitoriza a percepção dos portugueses perante a pandemia.

Num balanço divulgado esta sexta-feira, a ENSP-NOVA diz que dois meses após o início do confinamento se confirmavam desigualdades crescentes em saúde, com os mais desfavorecidos com maiores dificuldades em se protegerem.

“São as pessoas com baixos rendimentos e baixa escolaridade as que mais reportaram ter dificuldades em comprar máscaras, não ter tido consultas médicas quando necessitaram e é também esta a população mais afectada pela perda de rendimento”, segundo a análise do barómetro divulgada, que “mostrou claramente um agravamento das desigualdades, com uma em cada quatro pessoas que ganham menos de 650 euros (agregado familiar) a reportar perder totalmente o seu rendimento”.

Ao contrário, nas categorias de rendimentos superiores a 2500 euros, apenas 6% das pessoas perderam o rendimento, diz Sónia Dias, coordenadora do barómetro, citada no comunicado.

Na altura do desconfinamento, segundo o documento, o que sobressaiu foi que as gerações em idade activa, até aos 45 anos, foram as que sofreram maior impacto, sendo o grupo etário mais afectado pela suspensão da actividade profissional, com a perda de rendimentos mais significativa e que mais tem de trabalhar no local de trabalho.

Segundo a análise desde Março do barómetro, que teve 190 mil respostas ao longo do tempo, as primeiras semanas de confinamento confirmaram a adesão das pessoas a essa situação e mostrou os receios de haver escassez de bens de primeira necessidade. Depois começaram a surgir preocupações sobre a perda de rendimentos e sentimentos de ansiedade, agitação e tristeza, segundo Sónia Dias.

No acesso aos cuidados de saúde o barómetro confirmou que nas primeiras semanas de confinamento uma percentagem significativa de pessoas disse não ter as consultas médicas que precisava, uma tendência que se inverteu a partir da primeira fase de desconfinamento.

Com o passar do tempo também aumentou a confiança das pessoas na capacidade de resposta dos serviços de saúde à covid-19, mas baixou a expectativa de a vida voltar ao normal num tempo curto.

O número de pessoas que esperavam que a sua vida voltasse ao normal dentro de um a três meses “baixou consideravelmente” ao longo do tempo, passando de 60% para 20%.

O número de pessoas que julgam que demorará mais de três meses, ou que não sabem quanto tempo demorará para que a vida volte ao normal, subiu cerca de 75%.

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