Catarina Martins considera “irresponsável” posição dos Países Baixos sobre apoios à crise da covid-19

A líder do BE defendeu mais testes e melhor planeamento do combate à covid-19, num encontro com médicos, no Porto.

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Catarina Martins, a líder do BE, participou num encontro com médicos no Porto LUSA/PAULO NOVAIS

A coordenadora do Bloco de Esquerda (BE), Catarina Martins, considerou este sábado que os Países Baixos estão a ter uma “posição irresponsável” nas negociações na União Europeia sobre resposta económica à crise da covid-19.

O tema está a ser este sábado debatido num Conselho Europeu, em Bruxelas, estando em causa um Fundo de Recuperação pós-pandemia na ordem dos 750 mil milhões de euros, com os chamados “países frugais”, como Países Baixos, Áustria, Dinamarca e Suécia e, em menor grau, a Finlândia, a opor-se à proporção de verbas canalizadas sob a forma de subvenções.

“Parece-me particularmente irresponsável a posição da Holanda, de querer um veto sobre as políticas dos outros países para os fundos. Mas a mesma Holanda tem uma política de dumping fiscal na União Europeia”, acusou a líder do BE, à margem de uma reunião com vários especialistas em saúde pública, no Porto.

Catarina Martins considerou que o Governo dos Países Baixos está a ter “uma postura de oportunismo inaceitável”, vincando que é preciso “ter coragem para desmascarar uma União Europeia que é desigual e injusta e penaliza sempre os mesmos países”.

“A Holanda convida as empresas de outros países a lá se fixarem e pagarem menos impostos, mas essas receitas ficam no país. Estamos a falar de impostos que fazem falta a Portugal, Espanha e Itália para responder a esta crise”, analisou a coordenadora do Bloco.

A dirigente bloquista espera, por isso, que a União Europeia tenha “uma resposta solidária forte à pandemia”, lembrando que “nenhum país pode achar estar imune”. E vincou: “Há países, como Portugal, onde o turismo tem mais peso no PIB, como em Portugal, onde o confinamento teve peso mais forte e penalizador para economia e para o emprego. Mas todos os países da União Europeias estão dependentes. Caso não haja uma resposta solidária, teremos a crise social e económica a agravar-se.”

Mais testes, maior planeamento

A líder do BE defendeu, por outro lado, que é necessário fazer mais testes de despiste à covid-19 e um maior planeamento e reforço de recursos humanos no Serviço Nacional de Saúde (SNS). “Parece-me claro que, para controlar a pandemia no nosso país, precisamos de mais gente na saúde pública, de fazer mais testes para perceber o que se passa e de planeamento para que o Serviço Nacional de Saúde possa dar resposta à covid-19, mas também às outras necessidades”, disse Catarina Martins, no final de uma reunião com vários especialistas em saúde pública, no Porto.

Catarina Martins afirmou que “a forma como o país vai chegar ao próximo outono vai depender da forma com age agora” e mostrou preocupação com os grupos mais vulneráveis. “Está mais vulnerável no nosso país quem está mais excluído, quem é mais pobre, quem vive em habitações sobrelotadas, quem tem de usar muito os transportes públicos todos os dias, e quem está mais precário e não pode faltar ao trabalho”, vincou.

Segundo Catarina Martins, esta situação da pandemia, e a crise associada, “só veio dar razão ao Bloco de Esquerda naquilo que o partido já tinha considerado ser essencial nesta legislatura”. E sublinhou: “Propusemos ao Governo um acordo para reforçar os direitos de quem trabalha, um reforço dos serviços públicos essenciais como o SNS. Nessa altura, não havia pandemia, mas só nos veio dar razão ao vermos que as populações mais vulneráveis são as mais precárias e que os serviços de saúde são essenciais.”.

Nesta reunião de Catarina Martins com especialistas em saúde pública participou Henrique Barros, presidente do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto, que vincou, igualmente, a necessidade de se alagar o número de testes à covid-19.

“Portugal é um dos países que mais testa por milhão de habitantes, mas é um dos países onde ainda é excessivamente baixa a proporção de testes por cada caso positivo. O facto de testarmos muito, não quer dizer que estejamos a testar o necessário”, apontou o especialista.

Para Henrique Barros, o preço dos testes “ainda é excessivo para a grande quantidade que se está a fazer”, considerando que “as comunidades da saúde têm obrigação para chamar a atenção para isso e que o Governo deveria definir esse preço”.

Sobre a situação da pandemia em Portugal, o especialista considerou “estar controlada”, mas confessou que gostaria de ver o panorama com números “mais baixos”. E afirmou: “Falta-nos garantir que se quebrem as cadeias de transmissão. Não nos podemos satisfazer com números de casos que sejam manejáveis pelos serviços de saúde. Temos de conseguir, em alguns períodos, levar os casos praticamente a zero. Isso não é impossível, nem muito complicado. Temos de garantir a identificação dos casos, fazer um esforço grande em testes e isolar as pessoas que são detectadas com o vírus.”

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