Cristina Ferreira regressa à TVI como accionista e administradora: transferência envolve 7 milhões de euros

Dois anos depois, apresentadora regressa à “casa de origem”. Cristina Ferreira só falou no assunto na SIC porque foi confrontada ao início da tarde com o rumor. Admitiu que estava a negociar com a concorrência há várias semanas e apresentou a renúncia ao contrato. Terá que pagar uma indemnização à SIC no valor de quatro milhões de euros.

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Cristina Ferreira Miguel Manso

É a transferência do dia e um três em um: Cristina Ferreira vai voltar à TVI a 1 de Setembro, como responsável pelo pelouro do entretenimento e ficção, como administradora não-executiva e ainda fica com uma participação no capital social da Media Capital entre 1% a 2%. Só mais para Outubro deverá juntar uma quarta tarefa: voltar ao ecrã como apresentadora.

Os valores envolvidos no negócio podem ascender a um total de sete milhões de euros, apurou o PÚBLICO: a TVI vai pagar quase três milhões de euros anuais a Cristina Ferreira, mas esta, por quebra de contrato com a SIC, terá que pagar à estação uma indemnização de mais de dois milhões de euros por ter rescindido o contrato que a vinculava ao canal de Balsemão até 30 de Novembro de 2022. Resta saber se o acordo que a empresária tem com a TVI fará com que seja a estação de Queluz a partilhar os custos de indemnização ao canal concorrente e se a quota na empresa é dada pela Prisa ou comprada por Cristina Ferreira.

É que desde Setembro de 2018 Cristina Ferreira ganhava na SIC anualmente um milhão de euros (850 mil de salário fixo e cerca de 150 mil de comissões sobre as vendas dos produtos que anunciava) e ainda faltavam dois anos e quatro meses e meio para o fim do contrato. A esse valor de dois milhões de euros que terá que indemnizar à SIC acrescem outros dois milhões de euros que terão que ser pagos à estação por custos paralelos que esta teve com a produção do programa das manhãs, como é o caso da produtora escolhida pela apresentadora e despesas contratuais com as empresas cujos produtos eram anunciados no programa. O que eleva a factura a pagar à SIC em quatro milhões de euros - e a estação já avisou que irá fazer valer os seus direitos.

Na SIC a surpresa foi geral: Cristina Ferreira foi confrontada numa reunião ao mais alto nível da Impresa ao início da tarde sobre o rumor de que estava em contactos para voltar para a TVI. Além de ter confirmado os contactos com a estação concorrente, até admitiu que as negociações duravam há algumas semanas. Cristina Ferreira apresentou a renúncia ao contrato com efeitos imediatos, o que significa que em princípio já nem sequer volta ao ecrã na segunda-feira para se despedir dos espectadores.

O PÚBLICO questionou a SIC sobre a solução de recurso para o programa das manhãs nas próximas semanas, mas na televisão da Impresa ainda não se sabe o que fazer na grelha de programação nem mesmo de segunda-feira, já que o Programa da Cristina estava no ar e nem sequer ainda estava prevista a interrupção para férias. Além disso, quando Cristina Ferreira se ausentava quem costumava assumir a condução do programa era Cláudio Ramos, que entretanto também se mudou para a TVI para apresentar a nova edição do reality show Big Brother.

No comunicado em que anuncia que a apresentadora decidiu “cessar unilateralmente a sua ligação à SIC”, a estação lamenta a “decisão abrupta e surpreendente”, admite a sua “desilusão” e avisa que “reserva todos os seus direitos em face desta situação” - ou seja, deixa já em cima da mesa a questão da indemnização pela quebra do contrato e pelas despesas adicionais que teve com a produção do Programa da Cristina. Apesar disso, a estação liderada por Francisco Pedro Balsemão agradece o trabalho desenvolvido pela apresentadora “ao longo deste curto mas intenso período, no seio de uma equipa vencedora, que continuará a empenhar o seu talento e profissionalismo para merecer a confiança do público”.

Regresso “à casa de sempre”

Precisamente um ano e onze meses depois de se ter mudado da TVI para a SIC para ter responsabilidades também nos conteúdos e apresentar o programa das manhãs, e de se tornar essencial na subida das audiências da estação levando-a, 12 anos depois à liderança, a empresária e apresentadora faz o caminho inverso, de volta à casa onde esteve quase duas décadas.

“É com grande satisfação que a Media Capital dá conhecimento público que a TVI acaba de acordar com Cristina Ferreira a sua contratação como directora de entretenimento e de ficção”, diz o grupo de comunicação. Já na quinta-feira, a Media Capital anunciou que Nuno Santos subia de director de programas a director-geral da TVI, ficando Cristina Ferreira como seu braço direito. Juridicamente, a apresentadora não pode ser formalmente directora de programas porque não faz parte dos quadros da empresa.

Além de ter um cargo de administradora não-executiva, este regresso implica também que Cristina Ferreira passe a ser accionista com uma quota entre 1 a 2% - como não é qualificada não precisará de ser comunicada à CMVM. Ainda não foi clarificado se essa quota será vendida pela Prisa - que detém actualmente 64,47% da Media Capital depois de ter vendido 30,22% à Pluris, do empresário de turismo Mário Ferreira – ou se será comprada por Cristina Ferreira entre os 5,71% dispersos em bolsa. Mas fazendo uma extrapolação dos 10,5 milhões de euros que Mário Ferreira pagou pelos 30,22% da empresa, então os 2% da apresentadora valeriam quase 700 mil euros.

“Este regresso à sua casa de sempre enche-nos de satisfação. Cristina Ferreira é querida dos portugueses e esta contratação reforça a estratégia do Grupo Media Capital de estar mais próximo das suas audiências, enriquecendo as áreas de Entretenimento e de Ficção do Canal”, afirmou Manuel Alves Monteiro, administrador delegado do Grupo Media Capital, citado nesta nota.

“Sabemos que a Cristina Ferreira manifestou já junto da Prisa a intenção de adquirir uma participação no capital social da empresa; a concretizar-se, esse facto reforçará a ligação de Cristina ao grupo e dará um significado ainda mais profundo a este regresso à TVI”, acrescentou. Cristina Ferreira iniciará funções no próximo dia 1 de Setembro.

“Trata-se de um regresso à casa mãe, com funções distintas e um projecto ambicioso ao qual era impossível dizer que não. É uma escolha conduzida pelo afecto com a firme vontade de contribuir para recolocar a TVI no coração de todos os portugueses”, disse a apresentadora em comunicado. “Neste momento de saída, não posso deixar de agradecer à SIC, à sua administração, a oportunidade que me foi concedida e a possibilidade de trabalhar com profissionais de excepção. O meu muito obrigada a todos. A SIC é uma estação de televisão de referência, onde fui muito bem acolhida e para a qual formulo votos de maior sucesso profissional para o futuro.”

Cristina Ferreira é dona de um pequeno império – tem quatro empresas em seu nome, um património de alguns milhões de euros e empregava, em 2019, 20 pessoas – que agrega, além da loja de roupa, um blogue, uma revista e contratos publicitários. Dos dois livros que escreveu, o primeiro vendeu mais de cem mil exemplares.

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