Petição e acusação de assédio sexual não impediram funeral de Park Won-soon

“Será que as pessoas precisam de assistir a um funeral extravagante de cinco dias?”, questionaram os assinantes de uma petição. Ex-secretária do presidente da Câmara de Seul diz que foi vítima de assédio sexual durante quatro anos.

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Funeral de Park Won-soon foi limitado a 100 pessoas, devido à covid-19 YONHAP/EPA
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JEON HEON-KYUN/EPA
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Apoiantes do ex-presidente juntaram-se à entrada da Câmara Municipal de Seul, para prestar homenagem KIM HONG-JI/Reuters
Miky Lee
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A advogada Lee Mi-kyoung disse que Park Won-soon assediou sexualmente a ex-secretária durante quatro anos YONHAP/EPA

O funeral do ex-presidente da Câmara de Seul Park Won-soon realizou-se esta segunda-feira na capital da Coreia do Sul, apesar de uma petição online com mais de 500 mil assinaturas a pedir que não fosse utilizado dinheiro dos contribuintes na cerimónia.

O corpo de Park Won-soon, de 64 anos, foi encontrado na passada sexta-feira, numa zona montanhosa no norte de Seul, horas depois de ser dado como desaparecido pela filha. Dias antes de morrer, a ex-secretária do presidente da Câmara de Seul apresentou uma queixa na polícia, acusando Won-soon de assédio sexual ao longo dos anos. Na casa do político, foi encontrada uma carta de despedida, em que este pedia desculpa à família, dando a entender que se terá suicidado, uma tese que não foi oficialmente confirmada pelas autoridades.

Park Won-soon era um dos políticos mais famosos do país e teve direito a cinco dias de cerimónias fúnebres, mais dois dias do que é habitual na Coreia do Sul, explica o Guardian.

As cerimónias, no entanto, não foram consensuais e mais de 560 mil pessoas assinaram uma petição a exigir um funeral mais modesto, apenas para familiares, sem que fosse utilizado dinheiro púbico.

“Será que as pessoas precisam de assistir a um funeral extravagante de cinco dias de um político famoso cuja alegação de assédio sexual levou ao seu suicídio?”, lia-se no texto da petição. “Que tipo de mensagem está a ser enviada às pessoas? Deveria ser um funeral modesto, com familiares.” 

O tribunal administrativo de Seul rejeitou a petição e as cerimónias fúnebres decorram conforme o previsto. Devido à pandemia de covid-19, o funeral foi transmitido online e, na cerimónia, estiveram cerca de 100 pessoas, sobretudo familiares, amigos e políticos. No exterior da Câmara Municipal, foi erigido um memorial a Park Woon-soon, por onde passaram mais de 20 mil pessoas nos últimos dias.

No mesmo dia em que decorreu o funeral, uma advogada que tem ajudado a ex-secretária de Park Won-soon deu uma conferência de imprensa, onde revelou novos detalhes sobre a acusação de assédio sexual.

Segundo a advogada e defensora dos direitos humanos Lee Mi-kyoung, o antigo presidente da Câmara de Seul assediou a sua ex-secretária durante quatro anos, enviando-lhe repetidamente fotografias em roupa interior e mensagens de cariz sexual, um padrão que se manteve mesmo depois de a secretária mudar de posto de trabalho. Lee Mi-kyoung revelou ainda que a ex-secretária, que mantém o anonimato, reportou os abusos à Câmara de Seul, mas foi ignorada.

Com a morte de Park Won-soon, a investigação deverá ser encerrada.

A morte de Park Won-soon deixou a Coreia do Sul em choque, não só por ser considerado o segundo político mais importante do país e um potencial candidato à presidência em 2022, como também por uma carreira em que se dedicou à defesa dos direitos das mulheres.

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