Amnistia acusa Governo marroquino de ter espiado jornalista com tecnologia israelita

A organização internacional de direitos humanos acusa o NSO Group, de Israel, de ter fornecido às autoridades marroquinas a necessária tecnologia para espiar o jornalista de investigação e activista Omar Radi.

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O jornalista marroquino Omar Radi Fanny Hedenmo

Marrocos está a usar cada vez mais meios tecnológicos para vigiar os seus cidadãos e a empresa israelita NSO Group forneceu-lhe os meios para entrar no telemóvel do jornalista Omar Radi, acusa a Amnistia Internacional. 

“Enquanto realizava uma ofensiva de relações públicas para branquear a imagem [oferecendo a sua tecnologia a vários governos para o controlo da transmissão da covid-19], as ferramentas que o NSO Group comercializa estavam a permitir a vigilância ilegal de Omar Radi, um jornalista premiado e activista” pelos direitos humanos, que tem denunciado redes de corrupção no seu país, apontou em comunicado a vice-directora da Amnesty Tech, Danna Ingleton.

“Mesmo depois de receber provas de que o seu spyware Pegasus está a ser usado para rastrear as acções de activistas em Marrocos, o NSO Group parece ter optado por manter o Governo marroquino como cliente. Se não impedir que a sua tecnologia seja usada para abusos, então deve ser proibido de vendê-la a governos que possam usá-la para violações de direitos humanos”, acrescentou Ingleton.

Omar Radi, jornalista de investigação sediado em Rabat, viu o seu telemóvel invadido pelo menos três vezesrvezes pelo software Pegasus, do NSO Group, com o método "ataque de injecção pela rede” Neste tipo de ataque, explica a Amnistia, “o atacante precisa de proximidade física com os alvos ou acesso às redes móveis do país, o que apenas o Governo pode autorizar e que é uma indicação de que as autoridades marroquinas foram responsáveis pelo ataque”, lê-se no documento enviado à redacção do PÚBLICO.

Este género de espionagem foi também usada contra um outro jornalista marroquino, diz o Guardian, e um dos ataques aconteceu dias depois de o grupo israelita se ter comprometido a não permitir que a sua tecnologia fosse usada para violar direitos humanos, de acordo com uma análise forense realizada pela Amnesty Tech em Fevereiro de 2020. 

Radi tem denunciado as violações de direitos humanos em Marrocos e esquemas de corrupção, ligados a interesses políticos e corporativos. A 17 de Março de 2020, foi condenado a pena suspensa de quatro meses de prisão por ter criticado na rede social Twitter o julgamento de activistas. 

“As autoridades marroquinas estão a usar, cada vez mais, a vigilância digital para reprimir a dissidência. Esta espionagem ilegal e o padrão mais amplo de perseguição a activistas e jornalistas devem parar”, disse Ingleton. 

Por seu lado, o grupo israelita disse em comunicado estar “profundamente preocupado” por causa de uma carta que recebeu da Amnistia Internacional com estas acusações. “Estamos a rever a informação presente e vamos começar uma investigação, se mandatada”, disse a NSO Group. “O NSO Group leva a sério a sua responsabilidade em respeitar os direitos humanos. Estamos empenhados em evitar, causar, contribuir ou estar directamente ligados a violações de direitos humanos”, continuou, citado pelo Guardian

O NSO Group está a braços com um processo judicial, interposto pela WhatsApp, por alegadamente ter tido como alvo 1400 utilizadores da rede social de mensagens por um período de duas semanas. O grupo nega-o e argumenta que os seus clientes governamentais são em último caso responsáveis pelo uso que dão à tecnologia. 

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