Donos de Bares e discotecas de Lisboa e Porto lamentam silêncio do Governo

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A manifestação de Lisboa juntou cerca de 200 pessoas Tiago Petinga/Lusa
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A manifestação de Lisboa juntou cerca de 200 pessoas Tiago Petinga/Lusa
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A manifestação de Lisboa juntou cerca de 200 pessoas Tiago Petinga/Lusa
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No Porto foram algumas dezenas os manifestantes Paulo Pimenta
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No Porto foram algumas dezenas os manifestantes Paulo Pimenta
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No Porto foram algumas dezenas os manifestantes Paulo Pimenta
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No Porto foram algumas dezenas os manifestantes Paulo Pimenta
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No Porto foram algumas dezenas os manifestantes Paulo Pimenta

Os empresários da noite lisboeta criticaram hoje o silêncio do Governo por falta de resposta aos sucessivos pedidos para a reabertura da atividade, lembrando que também têm família. O lamento veio dos cerca de 200 responsáveis de bares e de discotecas, maioritariamente dos lisboetas Bairro Alto, Cais do Sodré, Estrela e Campo de Ourique, que protestaram esta segunda-feira diante da Assembleia da República, em Lisboa, para exigir a reabertura das suas actividades. Ao mesmo no porto, duas dezenas de empresários do sector juntavam-se, com o mesmo propósito, em frente aos paços do concelho. 

Em Lisboa, empunhando cartazes em que se podia ler “Fomos os primeiros a fechar, há melhor exemplo?”, “Igualdade para todos, a noite também é cultura” ou ainda “Mesmo sem receber o “lay-off” queremos abrir o gostoso”, a manifestação, que se tornou em marcha em redor do quarteirão defronte ao parlamento, passou de silenciosa a um conjunto de bater palmas, único momento em que se quebrou o silêncio. Os manifestantes foram interpelados pela polícia, tendo identificados alguns dos organizadores, sem que, no entanto, houvesse qualquer perturbação do protesto, tendo respeitado o distanciamento social, bem como as medidas de segurança sanitária.

“O objectivo [da concentração] é termos respostas, estas respostas não chegam. Temos ouvido de todo o lado que o assunto está em cima da mesa, mas está em cima da mesa há muito tempo. O que nós precisamos é de uma resposta. Não podemos continuar a viver assim, a viver do ar. E é assim que estamos a viver há muito tempo”, disse à agência Lusa Andreia Meireles. Segundo a representante do Grupo de Bares e Comerciantes da Misericórdia, que já vai na segunda iniciativa - a primeira ocorreu a 21 de Maio -, há três meses que estão sem trabalho, lembrando a necessidade de uma maior justiça uma vez que muitos dos estabelecimentos encerraram ainda antes de ser decretado o estado de emergência.

"Ninguém nos recebeu"

Andreia Meireles realçou que já enviou pedidos para muitos organismos e que ninguém os recebeu, mas que ainda se esperou quem alguém tomasse a iniciativa, o que não aconteceu e nem sequer se obteve qualquer resposta. “[Do Governo] Absolutamente nada. O que sabemos são informações paralelas, de alguém que conhece alguém e que diz que vai haver... E vão-se passando semanas e semanas e a resposta não surge. A perspectiva é zero e o futuro não é nada risonho. Estão aqui centenas de pessoas à beira da falência, empregados que não recebem, pessoas que têm filhos, famílias, contas por pagar”, frisou.

Questionada pela Lusa sobre qual o passo seguinte, Andreia Meireles disse considerar essa uma “boa pergunta”, uma vez que os mais de 500 empresários da noite na freguesia da Misericórdia estão a sentir-se desmotivados e sem saber o que fazer no dia seguinte., sobretudo nos pequenos negócios, “os mais afectados”. “Vamos continuar [a enviar cartas, “e-mails” e comunicados], embora o que sentimos é que isto está a ser uma luta inglória, não há sequer uma resposta, nem um não, do outro lado. É a completa ausência de resposta. Não podemos continuar a viver assim. Vamos fazer a nossa parte, só queríamos que nos dessem resposta”, lamentou.

“Discriminação” é a palavra utilizada por Fernando Santos, actor e director artístico do bar Finalmente, com 44 anos de existência, pois não entende por que razão o Governo está calado. “Estou aqui a tentar perceber o porquê da discriminação deste meio nocturno, destas salas de espectáculo que têm servido Lisboa, Portugal, os portugueses, os estrangeiros e o turismo. Porque não há uma previsão para nós. Há para os ginásios, há para uma série de outros sectores e o dos bares e discotecas da noite não há uma previsão. Precisamos de trabalhar, todos precisam de trabalhar”, salientou.

Sem trabalhar desde meados de Março, Fernando Santos apelou ao executivo de António Costa para que “perceba” que “há muita gente da noite” que precisa de regressar ao trabalho. “É discriminatório. O silêncio é discriminatório. É preciso perceber que há bairros que estavam cheios de vida nocturna. Temos de nos tornar visíveis, para que o governo perceba que há muita gente da noite que precisa de apoio, de um consenso. É preciso uma solução, um apoio, de algo que nos possa dar uma perspectiva. É impossível continuarmos assim sem pelo menos termos uma ideia do que pode acontecer”, concluiu.

As mesmas preocupações no Porto

No Porto, os manifestantes não eram muitos, mas também não quiseram deixar de se fazer ouvir. Pelas 18h, em frente à Câmara do Porto, alguns membros da Associação de Bares da Zona Histórica do Porto juntaram-se para “serem lembrados e não esquecidos”, como explicitou Mário Carvalho, vice-presidente da associação. Ao seu lado, esteve António Fonseca, presidente desta organização e da União de Freguesias do Centro Histórico do Porto

Dono do café Lusitano, mais direccionado para a vida nocturna, Mário está há três meses com o estabelecimento fechado e afirma que concorda em “manter-se inactivo” (afinal, “uma discoteca sem pista de dança é como um jardim sem flores”) desde que haja “apoios efectivos”. Alerta ainda para o “problema dos arrendamentos que continuam a ser adiados”.

Daniel Correia, dono do café Unital, declara que, apesar de estar aberto, teve uma “quebra de 60 a 70%”. “Conforme as coisas estão, é impossível continuar a trabalhar”, sublinha, apontando a gentrificação como a culpada pela pouca afluência aos estabelecimentos. “Verificou-se a expulsão dos habitantes do centro do Porto e, portanto, tudo aqui vivia do turismo”. Já o café Pinguim, na rua de Belomonte, que depende praticamente da clientela local, procura novas soluções para a reabertura, uma vez que a Baixa se encontra completamente deserta devido ao clima de medo instalado.

“Morremos mais com a cura do que com a doença”, lê-se no cartaz de um ex-empregado de mesa, Carlos, resumindo assim o apelo dos trabalhadores de estabelecimentos nocturnos.

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