Identificado vírus que está a afectar mortalmente esquilos em Portugal

O esquilo-vermelho extinguiu-se em Portugal no século XVI, mas desde a década de 1980 que se tem expandido novamente por processos naturais e em projectos de reintrodução.

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Esquilo-vermelho DR

Um vírus está a afectar mortalmente esquilos em Portugal, anunciou esta quarta-feira uma equipa multidisciplinar liderada por cientistas do Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (Cibio-InBio), da Universidade do Porto.

Publicado na revista Transboundary and Emerging Diseases, o estudo da equipa identificou, pela primeira vez, um adenovírus que está a afectar a população de esquilo-vermelho (Sciurus vulgaris) e que é “diferente do existente na Europa”, refere o Cibio-InBio em comunicado.

O esquilo-vermelho extinguiu-se em Portugal no século XVI devido à destruição e fragmentação dos habitats florestais, mas, desde a década de 1980, que se tem estado a expandir novamente, “tanto por processos naturais como através de projectos de reintrodução”.

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Esquilo libertado num cercado para aclimatação e posterior libertação João Paulo Lopes

Apesar de esta ser uma boa notícia, a população de esquilos está sob uma “forte ameaça”, assegura o Cibio-InBio, acrescentando que em diversos países europeus, como Itália, Alemanha e Reino Unido, a população tem “sofrido mortalidades significativas devido à presença de um adenovírus que provoca infecções respiratórias e gastrointestinais”.

Nesse sentido, a equipa de investigadores isolou e sequenciou um adenovírus num esquilo-vermelho morto com sinais clínicos e quadro lesional, descritos por veterinários da empresa Vetnatura e da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade de Lisboa, como “sendo sugestivos de infecção por este vírus”.

João Corte-Real, o primeiro autor do estudo, citado no comunicado, refere que a sequenciação do vírus demonstrou que este é “muito diferente do detectado noutros países europeus”, sendo “praticamente idêntico” ao identificado nas populações de esquilo-vermelho da Coreia do Sul.

Por sua vez, Pedro Esteves e Joana Abrantes, autores seniores do estudo e investigadores do grupo Imunidade e Doenças Emergentes do Cibio-InBio, defendem que os resultados evidenciam a existência de “duas linhagens do vírus muito divergentes a circular” nas populações de esquilo-vermelho na Europa, questionando como terá esta linhagem “tão diferente” chegado a Portugal.

Também Pedro Beja, autor do artigo, considera que os resultados reforçam a “importância de monitorizar a presença deste e doutros vírus” nas populações de esquilo-vermelho em Portugal, para que os programas de reintrodução da espécie tenham “sucesso”.

“Este trabalho vem demonstrar a importância da caracterização de vírus em circulação na natureza, uma vez que este conhecimento é fundamental para identificar possíveis ameaças para os animais selvagens e domésticos, mas também para o homem”, resume o comunicado.

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