Jovens adultos também podem ter reacção inflamatória rara, alertam médicos norte-americanos

Alguns jovens com cerca de 20 anos foram diagnosticados, nos Estados Unidos, com reacção inflamatória rara semelhante à que tem sido detectada em crianças e que pode estar associada à covid-19.

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Paulo Pimenta

A reacção inflamatória rara que tem sido detectada em crianças e cujos sintomas são semelhantes aos da doença de Kawasaki, e que pode estar associada à covid-19, afecta também jovens adultos, alertam médicos ouvidos pelo jornal Washington Post.

O diário avança que um jovem de 20 anos diagnosticado com esta síndrome está internado no Rady Children’s Hospital, em San Diego (Califórnia), dando ainda o exemplo de um outro jovem de 25 anos com reacção inflamatória rara que está hospitalizado em Long Island e “vários pacientes” com cerca de 20 anos que também estão internados num hospital em Nova Iorque.

Jennifer Lighter, pediatra especialista em doenças infecciosas, nota que as crianças mais novas diagnosticadas com esta síndrome inflamatória multissitémica aparentam ter sintomas mais parecidos aos da doença de Kawasaki. Já nos adolescentes e jovens adultos, a reacção aparenta ser mais intensa e “severa”, afectando o coração e múltiplos órgãos.

Jane Burns, que dirige o centro de investigação sobre a doença de Kawasaki da Universidade da Califórnia em San Diego, alerta que os médicos podem não estar a diagnosticar devidamente esta condição nos adultos, uma vez que muitos médicos que tratam adultos “nunca viram a doença de Kawasaki antes, porque é uma doença de crianças”. Além disso, é mais difícil examinar rapidamente o coração dos adultos, uma vez que as paredes do peito são mais espessas e pode ser difícil de interpretar os ultra-sons, explica.

Jane Burns e os colegas do Rady Children’s Hospital estão a tentar encontrar soluções para que os especialistas sejam capazes de examinar devidamente adultos com suspeitas de ter esta síndrome e pedem aos profissionais de saúde que estejam atentos.

Segundo o Washington Post, o quadro da doença e o perfil das pessoas afectadas têm vindo a mudar. Uma grande parte das primeiras crianças que chegavam às urgências diagnosticadas com covid-19 e com sintomas de reacção inflamatória rara, entre Março e Abril, apresentavam doenças preexistentes, assim como infecção activa pelo novo coronavírus e dificuldades em respirar.

Mas as pessoas que têm chegado ultimamente ao hospital com sintomas de reacção inflamatória rara são maioritariamente crianças saudáveis e jovens adultos que, de repente, começaram a ter febre, dores abdominais, náuseas, vómitos e erupções cutâneas — sintomas que podem ser sinal de problemas mais sérios. O jornal acrescenta que muitos destes pacientes têm anticorpos contra o novo coronavírus, o que poderá significar que foram infectados semanas antes e que esta síndrome poderá corresponder a uma resposta imunitária atrasada.

Os médicos entrevistados explicam ainda que as mudanças no corpo humano ocorrem de forma contínua, sendo que algumas etapas, como a puberdade, implicam mudanças mais repentinas do que outras. Segundo os especialistas, as pessoas com cerca de 20 anos estão no seu “auge” em termos fisiológicos, de capacidade pulmonar, força e sistema reprodutivo — o que significa que os jovens podem ser mais semelhantes às crianças neste aspecto do que aos adultos com cerca de 30 anos (cujo organismo começa a mudar com a idade). Os especialistas notam ainda que vírus como a varicela e o sarampo também afectam de forma diferente as crianças e os adultos.

Embora ainda não haja certezas sobre o que causa a doença de Kawasaki, tal como não se sabe ainda o que causa a reacção inflamatória rara que tem sido associada à covid-19, os médicos suspeitam que algumas pessoas nascem com uma predisposição genética que potencia uma resposta imunitária mais acentuada ao novo coronavírus que, por sua vez, poderá provocar uma síndrome semelhante à doença de Kawasaki.

A reacção inflamatória rara que pode estar associada à covid-19 já foi detectada em pelo menos 230 crianças na Europa. Em Portugal, foi detectado um caso de uma criança com uma “situação semelhante” e “quadro clínico parecido” à doença inflamatória grave associada à covid-19 e a Direcção-Geral de Saúde (DGS) garante que o país “está muito atento” e a trabalhar de perto com as unidades pediátricas em relação a esta síndrome inflamatória.

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