Morreu Lucky Peterson, um mestre dos blues contemporâneos

Músico norte-americano tinha 55 anos e sucumbiu a um acidente vascular cerebral. Revelado com apenas cinco anos, dividiu o seu talento entre o órgão, a guitarra e o microfone.

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Lucky Peterson em Outubro de 2018 num concerto em Cartago, na Tunísia MOHAMED MESSARA/EPA

Aos 50 anos de carreira, Lucky Peterson sentia-se ainda “a aquecer” para a estrada dos blues. Foi isso que quis dizer com o título do álbum que lançou no ano passado, 50, Just Warming Up! (edição Jazz Village), e que, afinal, viria a ser o último de uma longa e celebrada discografia de mais de 30 títulos. O bluesman norte-americano morreu inesperadamente este domingo, aos 55 anos, num hospital de Dallas, no Texas, não resistindo a um acidente vascular cerebral. “Ele estava em casa quando se sentiu mal, e foi levado à pressa para o hospital, em estado crítico. Infelizmente, os médicos não conseguiram salvá-lo”, explicou a família num comunicado citado pela AFP e também no Facebook de Lucky Peterson, onde a morte do músico foi anunciada “com grande pesar”, e acompanhada de um pedido de orações e de respeito pela privacidade dos seus familiares.

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Aos 50 anos de carreira, Lucky Peterson sentia-se ainda “a aquecer” para a estrada dos blues. Foi isso que quis dizer com o título do álbum que lançou no ano passado, 50, Just Warming Up! (edição Jazz Village), e que, afinal, viria a ser o último de uma longa e celebrada discografia de mais de 30 títulos. O bluesman norte-americano morreu inesperadamente este domingo, aos 55 anos, num hospital de Dallas, no Texas, não resistindo a um acidente vascular cerebral. “Ele estava em casa quando se sentiu mal, e foi levado à pressa para o hospital, em estado crítico. Infelizmente, os médicos não conseguiram salvá-lo”, explicou a família num comunicado citado pela AFP e também no Facebook de Lucky Peterson, onde a morte do músico foi anunciada “com grande pesar”, e acompanhada de um pedido de orações e de respeito pela privacidade dos seus familiares.

Lucky Peterson era uma das figuras mais proeminentes do blues da actualidade, e muitos críticos consideravam-no mesmo o maior depois do desaparecimento de B.B. King.

Ao longo de uma carreira que começou muito precocemente, com um primeiro álbum gravado quando tinha apenas cinco anos, Lucky Peterson viria a lançar mais de três dezenas de discos, muitos deles ao lado de outras figuras dominantes da história dos blues, como as cantoras Etta James e Mavis Staples, o saxofonista Houston Person, a baterista Cindy Blackman ou o também grande Willie Dixon, que marcou sobremaneira os primeiros passos musicais do então pequeno organista.

Nas notas que acompanharam a edição de 50, Just Warming Up!, disco com que se encontrava, nos últimos meses, a fazer uma digressão europeia – no início do confinamento suscitado pela pandemia da covid-19, ficou mesmo retido algum tempo em Paris, refere o diário Le Parisien –, Lucky Peterson recuperou a frase de uma canção do álbum The Son of A Bluesman (2014) para sintetizar a sua história:Eu não escolhi os blues, foram os blues que me escolheram.”

O futuro dos blues

Assim foi: nasceu praticamente no meio deles. O seu pai, James Peterson, também músico, tinha um clube de blues na cidade de Buffalo, estado de Nova Iorque – onde Judge Kenneth “Lucky” Peterson nascera a 13 de Dezembro de 1964. Ali se cruzavam músicos de diferentes proveniências, alguns deles nomes maiores como Muddy Waters ou Willie Dixon. Quando este viu e ouviu o pequeno “Lucky”, com apenas três anos, a acompanhar esses músicos ao órgão, percebeu que ali se encontrava também o futuro dos blues. Decidiu apadrinhar a sua carreira e, dois anos depois, produziu o disco de estreia, Our Future: 5 Year Old Lucky Peterson. Era o início dessa longa carreira, que agora se viu abruptamente interrompida.

Paralelamente ao órgão e a outros instrumentos de teclas, Lucky Peterson virou-se depois também para a guitarra (e ainda para a trompa), e tornou-se um verdadeiro showman que facilmente incendiava os palcos.

Quando passou, em Março de 2001, pelo festival Gaia Blues, o crítico do PÚBLICO Nuno Ferreira descreveu assim a sua actuação: “O show de Lucky Peterson começou com uma entrada de leão, a invadir o espaço do auditório num blues escorreito e directo, sem contemplações. (…) Lucky Peterson atirou-se aos teclados do órgão Hammond, de pé, triturando os teclados, sempre em conjugação com Rico Mc Farland, o guitarrista, numa mostra de som esmagador e alegre que dominaria todo o show.”

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MANUEL ROBERTO

Além de grande músico e intérprete, Lucky Peterson era esse animal de palco, uma encarnação em que cruzava com grande naturalidade e eficácia as linguagens dos blues, do rock e do funk.

Em disco, depois de várias gravações como músico de estúdio e de acompanhamento na década de 70, revelar-se-ia em nome próprio em 1989, com Lucky Strikes! (Alligator Records).

Na década seguinte, conquistou definitivamente o seu lugar na galeria dos grandes dos blues com Triple Play (1990), de novo para a Alligator Records, e depois I’m Ready (1993), o primeiro de sete discos que gravará para a etiqueta Verve – entre estes está o álbum que gravou com Mavis Staples de homenagem ao gospel e a Mahalia Jackson (1911-1972), Spirituals & Gospel: Dedicated to Mahalia Jackson (1996).

Em 2003, depois da saída de Black Midnight Sun, a revista New Yorker classificou-o como “um mestre da guitarra, do órgão e do microfone”.

O lado menos brilhante da sua carreira, recorda a AFP, foi a dependência da droga, mas Lucky Peterson celebrou a sua reabilitação em 2010 com o disco You Can Always Turn Around (Dreyfus). Deixa quatro filhos e a mulher, Tamara Tramell, também cantora de blues.