Sem rei nem roque

Quem tem, como é o caso do presidente do IVDP, a obrigação de defender a região do Douro, não pode ficar só a aguardar, “serenamente”, os ditames do Ministério da Agricultura

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O Douro a braços com a crise a escassos meses da vindima Adriano Miranda / PUBLICO

Definição ou significado de roque no dicionário: roque (xadrez) fazer roque. Jogar o rei ao mesmo tempo que uma das duas torres. Sem rei nem roque: sem governo, à toa, à matroca…

Depois de todos nós durienses, preocupados e prevenidos, vermos a crise do covid-19 instalar-se abruptamente na sociedade e na economia do mundo, do país e da região do Douro e depois de um início de campanha extremamente duro com uma forte pressão de míldio e outras maleitas, só nos faltava um dos principais responsáveis da Região e interlocutor privilegiado da Região com o Governo, o presidente do Instituto dos Vinhos do Douro e do Porto (IVDP), vir dizer, em público, em entrevista à Universidade FM, reproduzida pelo na publicação online da VIVADOURO de 6 de maio que “... as quebras que têm existido são ainda muito insignificantes nesta altura, podendo, ou não, ter uma expressão maior,…”, que “… do ponto de vista da atuação vitícola, as coisas estão a decorrer como normalmente decorrem todos os anos”, que, por isso, “nesta altura é prematuro avançar com dados sobre a produção”, ou, ainda, dizendo não “falar da questão dos 10 milhões [sistematicamente entregues pelo IVDP ao poder central para cativação orçamental]… porque essa questão ultrapassa as competências do IVDP … . Seria pôr-me em bicos de pés estar a tecer qualquer consideração a este propósito a um órgão de comunicação social…” ! 

Ou seja, o presidente do IVDP pretendeu determinar que todos os nossos anseios e reivindicações não são problema dele ou do instituto que dirige. Isto é incrível…! 

Há evidências de desastre que já motivaram todos os atores e responsáveis do Douro a propor medidas e a pedir apoios. Não precisamos de gente a contravapor!

Neste momento, existe já uma situação acumulada, e muito visível, de contração nas encomendas e nas vendas de vinhos do Porto e Douro. A grande maioria das cooperativas, dos produtores engarrafadores e dos comerciantes já o sente na pele. Muitos deles estão em layoff, os armazéns estão a abarrotar de vinho. Que mais evidências são necessárias para se dar o sinal de alerta? É necessário fazer algum inquérito para perceber o que os representantes da Produção e do Comércio já disseram à saciedade?

A Casa do Douro/FRD já propôs ao Governo e ao IVDP/IP quatro medidas essenciais para prevenir o futuro imediato da Região Demarcada do Douro: 1. Promoção da queima de vinho DOC-Douro em excesso a preços compatíveis com os custos da região; 2. Criação de uma reserva qualitativa de vinho do Porto que amenize uma possível quebra de benefício (autorização para a produção de vinho do Porto); 3. Investimento na promoção das marcas Porto e Douro específico para este tempo de crise e pós-crise; 4. Retorno à região dos excedentes, da ordem dos 10 milhões de euros, referentes às taxas cobradas pelo IVDP e não utilizadas em favor da região, valor que todos os durienses sabem ser seus e que tanta falta lhes fazem neste momento.

São medidas já propostas, consensuais entre os diversos atores da Região e que, até agora, não tiveram nem o apoio nem a resposta clara do IVDP. 

Ora quem tem, como é o caso do presidente do IVDP, a obrigação de defender a região do Douro, não pode ficar só a aguardar, “serenamente”, os ditames do Ministério da Agricultura, enquanto a crise se instala!

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

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