CDS-PP mantém críticas ao #EstudoEmCasa

Telmo Correia considera, referindo-se a Rui Tavares, que há dirigentes que recebem benesses do Estado.

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Nuno Melo e Telmo Correia no último congresso do CDS-PP paulo pimenta

O líder parlamentar do CDS-PP manteve esta sexta-feira as críticas à escolha de um vídeo do historiador e fundador do partido Livre numa aula do #EstudoEmCasa e insistiu que o Governo deve responder à pergunta que lhe foi dirigida.

“A pergunta está feita e o Governo terá de responder” porque “é inteiramente legítima”, sustentou Telmo Correia, em declarações à Lusa, considerando que a questão que está colocada é “se é normal ou não um líder partidário estar ali” e afirmando que “há alguns líderes partidários que parecem ter benesses junto do Estado que não estão acessíveis a outros”.

No dia 24 de Abril, a aula (da telescola, programa agora designado #EstudoEmCasa) de História e Geografia de Portugal para os 5.º e 6.º anos de escolaridade foi dedicada ao tema “Da Expansão Marítima do século XV à manutenção do Império Colonial no século XX”.

Nessa aula, leccionada por duas professoras, foi mostrado vídeo sobre a Exposição do Mundo Português, um excerto retirado do projecto “RTP Ensina”. O vídeo intitulado “Retratos da Exposição do Mundo Português”, da série “Memória fotográfica” e datado de 2018, está disponível no site dessa plataforma da televisão pública, e é da autoria de Jorge Nunes, Miguel Montez Leal e Rui Tavares.

É precisamente a voz e imagem do historiador e fundador do partido Livre, Rui Tavares, que aparece naquele conteúdo de seis minutos.

Na pergunta que entregou no Parlamento, dirigida ao Ministério da Educação, o CDS-PP referiu que o módulo “foi parcialmente dado pelo historiador e político Rui Tavares, fundador do partido Livre e publicamente reconhecido como seu líder e porta-voz”.

Apontando que os deputados receberam “denúncias de várias pessoas, queixando-se de que o conteúdo foi dado sem isenção, mas sim com análise política e crítica do historiador (e, por isso, deturpada), relativas ao período em causa”, o CDS perguntou ao Governo se considera “aceitável a escolha de um político, independentemente do partido a que pertença, para ministrar aulas neste projecto”.

Na sua habitual crónica do PÚBLICO, publicada nesta quarta-feira, Rui Tavares acusou o CDS de andar “a brincar com coisas demasiado sérias” e salientou que o episódio em que participa, e que foi mostrado naquela aula, “contextualiza os argumentos do regime do Estado Novo e dos seus críticos e observadores internacionais, que as acusações de denegrir a pátria são absurdas, para além de ofensivas, e que ali o crivo crítico da interpretação historiográfica é igualmente aplicado a todo o tipo de regimes e políticos”.

“Menos do que isso, não é ser historiador, é ser escrivão da propaganda de regimes passados. Pelos vistos, há quem prefira”, acrescenta, acusando o CDS de atacar as duas professoras que “efectivamente deram a aula” e de não querer que os docentes tenham “autonomia pedagógica para escolher os seus conteúdos lectivos dentro das linhas globais da Direcção-Geral da Educação, como foi o caso”. 

Do lado do Governo, numa resposta ao Expresso, o Ministério da Educação sublinhou que Rui Tavares não é professor na telescola e que “como em qualquer aula, planificada pelos professores e validada pela Direcção-Geral da Educação, os docentes utilizam os recursos pedagógicos que entendem adequar-se às matérias em questão”.

De acordo com o ministério liderado por Tiago Brandão Rodrigues, os docentes “recorrem com regularidade” à plataforma RTP Ensina para usarem conteúdos nas suas aulas, o que acabou por acontecer neste caso, “a utilização de um recurso pedagógico por parte das duas professoras de História e Geografia de Portugal”.

Questionado sobre o facto de Rui Tavares aparecer num vídeo e não a dar parcialmente aquela aula, como argumentavam os deputados do CDS-PP na pergunta enviada ao Governo, o líder parlamentar do respondeu à Lusa que “se há uma parte que está agora esclarecida, ainda não estava na altura” em que a pergunta foi entregue na Assembleia da República.

Telmo Correia argumentou ainda que a questão em causa tem a ver “com a escolha dos conteúdos” leccionados.

“A questão, ao contrário do que o próprio [Rui Tavares] tenta vir dizer, não tem a ver nem com o facto de ser ou não um historiador, tem a ver com o facto de ser um político com posição comprometida e extremista”, salientou, considerando que “não seria normal escolher aquele líder ou outros”.

A polémica teve origem na segunda-feira, quando o eurodeputado do CDS, Nuno Melo recorreu ao Twitter para criticar a escolha de Rui Tavares, referindo igualmente que tinha sido o historiador a leccionar aquela aula, e acusou-o de querer transformar os alunos “em cobaias do socialismo” e falando em “política travestida de educação, miséria”.

Entrando na discussão naquela rede social, o vice-presidente do PSD David Justino escreveu que “basta rever a “aula” para perceber que o alarido é desonesto, manipulador e próprio de uma direita trauliteira sem escrúpulos”, dando “toda a razão” a Rui Tavares.

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