O valor da colaboração

É tempo, mais do que nunca, de reforçar parcerias, fomentar colaborações e promover coordenação no terreno.

Vivemos hoje tempos exigentes com inúmeras consequências a curto prazo da situação com que nos deparamos, nomeadamente o da sobrevivência das inúmeras organizações sociais que são o garante e suporte imprescindível a tantos.

Em 2016, segundo a Conta Satélite da Economia Social (dados mais recentes disponíveis), foram identificadas cerca de 72 mil entidades da Economia Social, distribuídas por um conjunto diversificado de atividades. Nesse mesmo ano, a Economia Social representou 3,0% do valor acrescentado da economia, o que significou um aumento de 14,6% face a 2013.

Num universo tão grande e diverso de organizações, é comum verificar-se a existência simultânea de vários projetos a decorrer no mesmo terreno e por vezes para os mesmos grupos-alvo. Dado este facto, existe o risco desta multiplicidade de intervenções fazer com que as atividades dos diferentes projetos muitas vezes se sobreponham ou até anulem.

A este nível, a operacionalização das políticas e programas de intervenção social, nacional e internacional, que deveriam operar mudanças positivas dentro da sociedade, acabam por apresentar ineficácia em termos de resultados, emergindo a imprescindível necessidade de uma maior colaboração e partilha de recursos.

A questão da coordenação e colaboração tem ganho, assim, destaque nos últimos anos. Uma melhor coordenação revela-se crucial para superar as consequências negativas da designada “fragmentação da ajuda”, como também para uma melhor gestão dos recursos disponíveis, muitas vezes escassos. 

Ora, numa altura em que uma grande parte das organizações da Economia Social se depara com dificuldades de sustentabilidade financeira, colocando em causa a sua missão ao serviço da sociedade, os números acima referidos ajudam-nos a perceber o potencial de atuação e de desenvolvimento de colaboração (em alguns casos até fusão), entre elas e com outros setores.

Um dos exemplos que aqui destaco é o da oportunidade de relação do sector empresarial com a Economia Social, numa altura em que as empresas estão cada vez mais empenhadas na sua relação com a comunidade e no desenvolvimento de políticas de responsabilidade social.

Mais do que meras políticas de responsabilidade social, as empresas tendem hoje a adotar comportamentos sociais na sua forma de atuação, ao que se pode chamar de investimento social. Embora frequentemente associado a contribuições monetárias ou apoios financeiros a determinadas iniciativas, o investimento social engloba um conjunto mais vasto de formas de contribuição para a sociedade (como por exemplo a disponibilização de know-how técnico), que deve ser reforçada, ainda para mais em situações como a que vivemos, e permite uma estreita colaboração entre ambos os setores.

Para ultrapassarmos da melhor forma as dificuldades que vivemos e que surgirão, a colaboração entre todos os setores revela-se, mais do que nunca, fundamental, com vista a uma melhor gestão dos recursos disponíveis e para o reforço do papel e contributo que cada organização tem na sociedade. É tempo, mais do que nunca, de reforçar parcerias, fomentar colaborações e promover coordenação no terreno.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

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