França vai suavizar restrições da covid-19 aumentando a capacidade de fazer testes

Plano prevê 700 mil testes por semana para quebrar cadeias de transmissão do novo coronavírus, disse o primeiro-ministro no Parlamento. O Governo optou por não levar a votação uma polémica app de rastreamento de contactos.

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Edouard Philippe apresenta o plano no Parlamento Reuters

Reaberturas faseadas, sempre de acordo com a evolução dos números de infecção em cada região, e ainda de ocupação dos cuidados intensivos dos serviços de saúde: o primeiro-ministro francês, Edouard Philippe, apresentou nesta terça-feira no Parlamento um plano detalhado para o recomeço de várias actividades, de escolas a lojas, de transportes à vida social e cultural. O princípio será “proteger - testar - isolar”, explicou.

As datas chave serão 11 de Maio, se houver, como se espera, cerca de 3000 novos casos diários - a estratégia de testes, com a capacidade de serem feitos 700 mil por semana, tem a ver com este número -, 2 de Junho, em que poderá haver uma segunda fase de desconfinamento, e o início do Verão.

As decisões sobre o que reabrir não foram fáceis, admitiu Philippe, mas as escolas primárias serão das primeiras a reabrir, sempre com um número máximo de 15 alunos por aula, e sempre em regime voluntário. “É também uma questão de justiça social”, defendeu. As creches poderão reabrir com grupos máximos de dez e, se tiverem condições para mais grupos em espaços que não se cruzem, grupos adicionais de dez em cada espaço separado.

O recomeço de aulas para alunos dos 11 aos 15 anos deve ser marcado para 18 de Maio, e dos liceus em Junho.

O quadro será sempre adaptado aos dados de transmissão do vírus nas regiões, e as medidas alteradas em função disto: vai haverá categorização das regiões, uma verde com limites menos estritos, outra vermelha, com mais limitações. Por exemplo, parques e jardins só estarão abertos nas regiões “verdes”.

O primeiro-ministro disse ainda que é vital quebrar as cadeias de transmissão, muitas vezes por portadores assintomáticos. Vai haver equipas encarregadas de reconstituir os contactos de pessoas cujos testes sejam positivos, mas estas têm os seus limites: “como encontrar a pessoa que viajou na mesma carruagem do metro?” Daí a necessidade, defendeu, de uma aplicação de telemóvel que avise automaticamente quem esteve perto de um caso positivo.

A ideia da app tem gerado polémica e despertado medo de má utilização e violação da privacidade. A possibilidade de guardar dados - mesmo que anonimizados - num servidor central é um dos principais problemas, já que esses dados poderiam depois ser utilizados por quem tivesse acesso a esse servidor (à partida, as autoridades de saúde ou o Governo). 

Na Alemanha, após uma polémica semelhante, a decisão foi a de guardar os dados localmente - em cada aparelho - e não de modo central, o que já não permite o acesso de uma terceira entidade. Olhando para as apps do género que existem no mundo, as que têm sistema descentralizado são uma minoria, diz a revista britânica New Statesman. Bons exemplos neste campo são as que estão a ser usadas na Áustria, República Checa, Islândia, Macedónia do Norte, Israel e Indonésia.

Depois de ter incluído a app na votação geral do plano para o desconfinamento, Philippe acabou por anunciar que esta seria sujeita a votação noutra altura.

Futebol cancelado

Segundo o plano do Governo francês, lojas e transportes poderão reabrir, sempre com menos capacidade e uso obrigatório de máscara. Viagens de comboio serão sempre sujeitas a reserva prévia e as de longo curso (mais de 100 km) serão apenas permitidas por motivos de força maior.

Quanto a cafés e restaurantes, é previsto que, se a situação for favorável, possam ir reabrindo no Verão. As praias, essas, continuarão para já encerradas até 1 de Junho, “por precaução”.

Pequenos museus, mediatecas e bibliotecas que possam funcionar normalmente respeitando regras sanitárias poderão reabrir a 11 de Maio, mas não os maiores. Teatros, cinemas e salas de espectáculo de dimensão média poderão, eventualmente, reabrir a partir de 2 de Julho.

Mas eventos maiores (com mais de 5000 pessoas) terão de ter planeamento mito antecipado. E o campeonato nacional de futebol não será retomado esta época, disse Philippe - assim como nenhum campeonato desportivo. 

O primeiro-ministro sublinhou que “não há nenhum plano que funcione” por si só - essencial para o seu sucesso é a “responsabilidade individual e consciência cívica dos franceses”.

O plano desagradou à oposição, que reclamava mais tempo para o analisar antes da votação, prevista ainda para o dia de ontem. A direita prometia uma abstenção em massa, disse o líder parlamentar dos Republicanos. O líder do grupo parlamentar do partido conservador, Damien Abad, disse que o Governo não dá, no seu plano, garantias suficientes de que terá o numero de testes e de máscaras que seriam necessários para as necessidades do desconfinamento. “Face a esta incerteza, teremos de nos abster.” A França Insubmissa (esquerda) anunciou um voto contra.

França decretou o encerramento da maior parte das actividades a 17 de Março. O país é o quarto em número de infecções no mundo (166.036, segundo o contador da universidade Johns Hopkins, nos EUA), e morreram já 23.293 pessoas de covid-19.

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