Doentes em lares vão ser acompanhados por médicos dos centros de saúde

Os profissionais dos centros de saúde passarão a assegurar o acompanhamento clínico de doentes infectados, mesmo os que estão em lares ilegais. Ministra assegura que todos os profissionais serão testados até ao final do mês ou “início de Maio”.

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As mortes entre os idosos internados em lares ascendiam às 327, segundo o último balanço LUSA/João Coelho

Os doentes com covid-19 que estão em lares de idosos e cuja situação clínica não exija internamento hospitalar passarão a ser acompanhados diariamente pelos médicos e enfermeiros dos respectivos agrupamentos de centros de saúde. Este trabalho será feito em articulação com os respectivos hospitais da área de referência, de acordo com o despacho publicado sexta-feira pelo Ministério da Saúde.

Este documento vem dar resposta à reivindicação conjunta da União das Misericórdias Portuguesas (UMP) e da Confederação Nacional de Instituições Particulares de Solidariedade Social (CNIS), que chegaram mesmo a reclamar a possibilidade de os doentes internados em lares de idosos ou pessoas com deficiência poderem ser retirados dos lares, dada a escassez de profissionais nestas unidades residenciais e a impreparação de muitos destes para lidarem com doentes contagiosos.

Até à passada quinta-feira, tinham sido registadas 327 mortes por covid-19 em utentes que estavam em lares de idosos, o equivalente a quase 40% do total de mortes registadas até então. Reconhecendo que, na fase actual de mitigação da covid-19, os idosos “continuam a merecer especial preocupação”, atendendo, nomeadamente, “à sua vulnerabilidade por situação de dependência, doença crónica e falta de apoio familiar de retaguarda”, o Ministério da Saúde propõe-se também apoiar os profissionais dos lares, assegurando que estes receberão, por parte dos profissionais das unidades de saúde pública, formação quanto à utilização de equipamento de protecção individual, cumprimento das regras de higiene e etiqueta respiratória e higienização dos espaços.

Do mesmo modo, caberá aos profissionais do Serviço Nacional de Saúde apoiar “na medida do necessário” a colheita de amostras biológicas para realização dos testes laboratoriais de diagnóstico aos profissionais e utentes dos lares. E este apoio será dado “a todos os estabelecimentos de apoio social a pessoas idosas de cariz residencial, independentemente do seu estado de licenciamento”, ou seja, inclui os lares ilegais.

Testes são só “a fotografia do momento"

Na sexta-feira, o ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, tinha dito que mais de metade dos trabalhadores de lares de idosos já foram testados para o novo coronavírus. Daqueles, 10% estão infectados com covid-19, numa proporção que, segundo o ministro, não corresponde ao “receio que existia de uma dimensão muito superior de casos positivos”. Este sábado, a ministra da Saúde, Marta Temido, reiterou, na habitual conferência de imprensa da Direcção-Geral de Saúde, conta ter todos os profissionais dos lares de idosos testados “até ao final deste mês de Abril ou primeiros dias de Maio”.

De resto, estes profissionais terão prioridade no acesso aos testes de despiste do SARS-Cov-2, nos termos da norma divulgada ontem pela DGS e que vigorará a partir do próximo dia 28, dado que, como sublinhou, Marta Temido o novo coronavírus chega aos utentes por quem “entra e sai” todos os dias dos lares. Mas a ministra também fez questão de lembrar que um teste é apenas “uma fotografia do momento” e que a sua realização não dispensa o cumprimento criterioso do distanciamento entre pessoas e a utilização de equipamento de protecção individual, a par da higienização dos espaços. “Sem isso, não há teste que nos valha”, avisou.

Quanto à retirada dos utentes infectados dos lares, Temido recordou que “mais de 86% dos casos confirmados de covid-19 estão no domicílio”. “Penso que deve entender-se como domicílio o local onde as pessoas se encontram normalmente a residir”, descartou, admitindo, ainda assim, a disponibilidade das estruturas do Serviço Nacional de Saúde para, “se assim for entendido como necessário e não houver alternativas, colaborar com a vigilância e com o apoio diário a utentes que possam ter de ser transferidos para outras estruturas”. Mas, avisou, “isto é um trabalho em que cada um tem de fazer a sua parte”.

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